25 de fevereiro de 2009

O SEGREDO DA FONTE QUEIMADA


Lançamento amanhã numa livraria perto de si... por mim procurarei na Bertrand.
Um novo romance do nosso colega Manuel Cardoso, depois do apetitoso "Um tiro na bruma".

"Na biblioteca de um velho capitão solitário figura um livro raro escrito por um médico de D. João V. Que segredos encerrará esse Aquilegio Medicinal sobre as fontes e águas de Portugal? E que águas e fontes serão verdadeiramente aquelas a que se refere o seu autor? É o que nos propõe descobrir Manuel Cardoso nesta aliciante viagem no tempo até ao Portugal do século XVIII."

Aqui deixo os meus parabéns ao Manuel Cardoso e à editora Sopa de Letras.

24 de fevereiro de 2009

ÍNDICE DO PODER DE DESVIRTUAR (3)

Nem sequer discuto a política seguida na Administração Pública de avaliação do desempenho. Na base, o sistema continua a ser profundamente injusto: a promoção continua a incidir na conveniência e na conivência.

De facto, muitos vícios do sistema não são fáceis de quebrar, sendo proporcionais à qualidade das chefias intermédias e sobretudo à inexistência de acordo sobre o esquema de gestão dos recursos a prosseguir e da estratégia mais adequada a esse fim.

Enquanto a Administração não for reinventada, incluindo a Administração Veterinária, continuaremos a assistir, ao nível dos serviços executivos, a enormes confusões entre objectivos e desempenho.

A definição de objectivos e o estabelecimento de indicadores sem critério, assentes na precipitada vontade de concretizar actividades e por isso centrados na eficiência, em prejuízo da eficácia, reflecte-se negativamente nos serviços prestados à comunidade.

Um bom exemplo é o da definição de objectivos pessoais baseados no número de inspecções a explorações pecuárias (quantidade) tendo em vista o licenciamento/registo ou questões de condicionalidade (qualidade).

Assim para muitos Médicos Veterinários Oficiais, a definição de objectivos, que se repercute na progressão na carreira, refere-se ao número de visitas a efectuar, sem qualquer critério de qualidade associado, a não ser o preenchimento de uma check list.

Para além do nível de exigência técnica e científica sem praticamente nulo, o sistema encoraja o desligamento de um contacto mais profundo com os criadores, num processo de motivação e estímulo da actividade pecuária, assim como a realização do maior número de visitas em detrimento da qualidade das mesmas.

Perdem os criadores, cada vez mais empurrados para níveis de organização da sua actividade para os quais ninguém os preparou, perde a profissão, porque se remete a um papel de mediocridade intelectual.

Assim, a actividade do Médico Veterinário Oficial, ao invés de promover a actividade pecuária, encorajar o crescimento e qualificação dessa actividade, ser factor de desenvolvimento rural e económico, não... por força (também) de um sistema de avaliação do desempenho mal concretizado, essa actividade funciona em contracorrente.

Com a melhor das intenções (admito), estamos a desvirtuar o objectivo mais nobre da regulamentação da actividade pecuária e da aplicação das regras da condicionalidade: a matar essa mesma actividade.

16 de fevereiro de 2009

A SAGA DE UM VETERINÁRIO ERRANTE



Se não me falha a memória o primeiro livro foi "lançado" num Congresso da Ordem dos Médicos Veterinários (OMV).

Sei que o li avidamente nessa mesma noite, sem pestanejar. Escrito com o coração, num estilo coloquial, ritmado, atraente.

Membro nº 1 da OMV, a vida de Renano Henriques confunde-se com a da própria profissão, de Veterinário de campo a Director-Geral dos Serviços Pecuários, do Sindicato Nacional dos Médicos Veterinários à génese da própria OMV.

Uma vida irrepreensível no plano ético e profissional, um testemunho imprescindível, uma leitura fascinante, para quem quiser conhecer a história da Medicina Veterinária do séc. XX em Portugal.

Uma oportuna edição da OMV, prefaciada por Cardoso de Resende. Dois livros de leitura "obrigatória".

CONGRESSO "OUVIR PARA DECIDIR"?

Do Estatuto da Ordem dos Médicos Veterinários

"Compete ao congresso:
a) Tomar posição sobre o exercício da medicina veterinária, seu estatuto e garantia;
b) Pronunciar-se sobre questões de natureza científica, técnica e profissional;
c) Aprovar recomendações de carácter associativo e profissional."

Faltam pouco mais de sete meses.

14 de fevereiro de 2009

100 DIAS

O Conselho Directivo (CD) e o Conselho Profissional e Deontológico (CPD) da Ordem dos Médicos Veterinários (OMV), completaram ontem 100 dias de mandato sobre a data da tomada de posse, em 5 de Novembro passado.

É pois tempo de balanço...

1. O enunciado “ouvir para decidir” não foi cumprido, representando a maior decepção (pelo menos para quem tinha alguma ilusão) deste colégio.
Duas decisões capitais, uma por razões simbólicas e outra pela importância para o futuro da própria OMV, foram tomadas, mesmo antes de aprovado o Plano de Actividades e sem ouvir ninguém. Refiro-me à remoção da lista de devedores de quotas do site da OMV e à denúncia do contrato de comodato com a Fundação D. Manuel.

Em 100 dias o CD não teve tempo de reunir com ninguém, nem mesmo com os órgãos regionais da própria OMV. Revelador! Nem mesmo um esboço de agenda ou dos temas a desenvolver, de prioridades ou simplesmente das áreas julgadas mais importantes fossem abordadas num futuro próximo. Simplesmente nada...

Risível pois o que se dizia no Plano de Actividades aprovado com 2 votos contra... “...reuniões nas várias regiões do País... articuladas com os respectivos Conselhos Regionais... permanente diálogo... análise e resolução dos problemas inerentes à nossa Classe...”

2. Se a Auditoria à própria OMV (adjudicada em termos duvidosos, pela ausência de consulta/concurso e ainda por cima a entidade que não revela suficiente distanciamento da matéria da própria auditora), cai no conceito de “Ouvir...”, então terá sido a única celeridade que se conhece neste domínio e ainda assim sem resultados publicados... porquê tanto tempo?

3. Ah pois... O CD já apresentou cumprimentos ao Presidente da República... e ao Presidente da Assembleia da República... já foi recebido pelos Ministros da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas; da Saúde; da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior; do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional... assim como pela respectivas comissões da Assembleia da República... tem em agenda reuniões com a Associação Nacional de Municípios, a Associação Portuguesa para a Defesa dos Consumidores, as diferentes Associações e Federações de Produtores... Associações de Protecção dos Animais e muito mais... nós é que não estamos informados... passo a ironia!

4. Temas de sobeja importância, como a mudança de instalações, a revisão estatutária, a representação institucional da OMV, a regulamentação dos Centros de Atendimento, a Inspecção Sanitária Veterinária, a Sanidade Animal... mereceram até agora nenhuma consideração séria por parte do CD.

5. O processo de revisão do famoso, pelas piores razões, “Regulamento de Creditação de Acções de Formação”, embora ainda no tinteiro, não augura nada de bom. A qualidade da versão revista não ficará a dever nada à anterior, o que até poderia ser pormenor, se a atenção do CD às inúmeras recomendações e sugestões já apresentadas em diversas oportunidades fosse real.

Mas se assim fosse, uma nova versão, consagrando essas recomendações, estaria já à discussão do colectivo, mas não está...

6. E o que dizer da intenção da OMV privilegiar “...todos os meios de comunicação ao seu alcance – “site”, “newsletter”, revista e outros...” na interacção com os seus membros?

Nada como olhar os exemplos:

a) a Revista não saí do prelo e o atraso na sua periodicidade situa-se em 7 meses... OK, OK, 5 meses são de crédito da anterior direcção.

b) a newsletter é desinteressante, não prossegue critérios de equidade na divulgação de actividades de formação, limitando-se a repercutir notícias avulsas chegadas à OMV... já não é mau manter-se a periodicidade, apenas medíocre.

c) o site é mantido em moldes tão amadores que seria difícil fazer pior. É confrangedor que uma direcção que tanto se demarcou da anterior, não tenha conseguido sequer mudar de imagem.
E que tal o anacronismo de vários elementos publicados?
- Área reservada... CD... plano de actividades... o que está publicado? O penúltimo plano de actividades aprovado... para o ano de 2006.
- No domínio dos pareceres do CD, desapareceu (sem deixar rasto) aquele sobre a eutanásia... então? nem uma explicação? foi o CD volúvel face à opinião de um dos seus membros? apenas porque não lhe agradava o parecer?
- Do ensino e formação diz-se que foi adoptada uma nova fórmula “...exigindo... que os profissionais demonstrem, num período máximo de cinco anos, que precederam à necessária actualização dos conhecimentos profissionais, perante o somatório de créditos.”... então isto está em vigor?
De facto o site é mesmo um “sítio”, mais parecido com as páginas amarelas onde são inseridos anúncios ou informações sem critério, a não ser o critério de quem no CD tem o poder de mandar fazer, o que me parece critério muito perigoso.

7. A prometida colaboração com o Sindicato Nacional dos Médicos Veterinários (SNMV), tendo pelo menos em vista a participação conjunta que mantém na Federação dos Veterinários da Europa (FVE) nunca aconteceu.

Lamentável comportamento, que acontece por cirúrgica decisão e não por simples falta de oportunidade. Esquecem os do CD que as relações institucionais nada têm que ver com a natureza pessoal de quem integra essas instituições, sendo por isso transcendentes no tempo. Para quem tanto fel e vinagre destilou relativamente ao anterior mandatário da OMV, não se esperava o mesmíssimo comportamento.

8. Mas não se pense que existe alguma capricho relativamente ao SNMV. A abertura de canais de comunicação com outras Associações também não teve lugar (e não deveria, pelo menos antes de reunir com os próprios Conselhos Regionais). A não ser que no CD se considere relação institucional o facto de elementos do conselho (ou do CPD) presidirem a essas Associações.

9. Não menos interessante a actividade do CPD, que se remeteu ao mutismo da análise de processos, sem ter dado qualquer sinal de estratégia para o futuro na defesa da Ética e da Deontologia.

Em que sentido vai progredir a organização interna da OMV no plano das questões de natureza ética/deontológica? Avançam ou não com a descentralização da instrução de processos de inquérito? Existe ou não intenção de gizar o funcionamento dos Colégios Regionais de Ética? Vai ou não o CPD dedicar-se mais à discussão interpares das questões mais candentes neste domínio, com o intuito de estabelecer doutrina com a qual o colectivo se identifique?

Tudo questões cuja resposta deveria estar “cá fora” no espaço de 100 dias.

O “estado de graça” acabou (logo numa Sexta-Feira,13) e o balanço é fácil de fazer: muito mau!

12 de fevereiro de 2009

INVESTIGAÇÃO AO EMPURRÃO

Enquanto a boa e velha Escola Superior de Medicina Veterinária (ESMV) desfalece, o Ministro da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas “abençoa” a construção de Hospital Veterinário e tal...

À troca não se sabe bem de quê, o Governo oferece de mão beijada os terrenos que a Universidade do Porto jamais poderia comprar, no seu ímpeto, até agora desconhecido, pela investigação veterinária... Uma forte aposta do Ministério na instalação, ali no Norte, do maior centro de investigação veterinária.

Curiosa, também, a parceria anunciada, entre Governo (dá os terrenos), Direcção Regional de Agricultura e Pescas do Norte (fiel depositária dos terrenos), Universidade do Porto (verdadeiramente interessada no “comodato”) e Câmara Municipal de Vila do Conde (sempre o poder local).

Não menos interessante ter ficado de fora a Direcção-Geral de Veterinária, afinal a Direcção de Serviços Veterinários da Região Norte seria a primeira a estar interessada em embalar na “sua” região um centro de excelência veterinária.

Já me esquecia, à visita não faltou a Ordem dos Médicos Veterinários, convidada pelo Ministro Silva... Como é que um Bastonário se sente? assim tão posto à margem?

ADEUS ESMV

A morte anunciada do edifício da antiga Escola Superior de Medicina Veterinária (ESMV) aí está...

Aos interesseiros que colocaram as finanças da Faculdade de Medicina Veterinária à frente dos valores da profissão, aos medíocres que por falta de visão e estreiteza mental viram dificuldades onde poderiam haver oportunidades, aos indiferentes dos destinos da Ordem, que por razões de estratégia de momento, abdicaram de lutar por um espaço onde a profissão tem as suas mais profundas raízes... o tempo saberá julgar.

Eis porque ficarão conhecidos os do actual Conselho Directivo da Ordem: coveiros da ESMV.

11 de fevereiro de 2009

UMA LIÇÃO DE EPIDEMIOLOGIA

Um número anormal de casos de leptospirose em bovinos estará na origem do aumento da taxa de mortalidade em algumas unidades pecuárias de Portalegre.

Sem explicitar a “componente temporal externa” das taxas de mortalidade, o Subdirector-Geral de Veterinária, Prof. Doutor Fernando Bernardo, adiantou que nalgumas explorações as mesmas ascenderam a 15%.

Quer isto dizer que uma morte pode valer menos que 1 no cálculo da incidência de doença... mas isso são detalhes que de facto pouco interessam ao grande público, mas para os quais os peritos em Saúde Animal da Direcção-Geral de Veterinária deveriam alertar.

Verdade, verdadinha, é que a relação entre as elevadas taxas de mortalidade, os casos de leptospirose e as condições climáticas favoráveis a vectores, parece evidente.

Por esse motivo, para quem tomou boa nota dos ratos avistados do lado de lá da fronteira, em Bragança, como aqui demos conta, ofereço agora a informação privilegiada sobre as medidas de exterminação adoptadas.

10 de fevereiro de 2009

ÍNDICE DO PODER DE DESVIRTUAR (2)

Margarida Alves (*) salta para o seu Clio prateado, onde a lama dos dias chuvosos deixou marcas. Colada no lado de dentro do pára-brisas, uma pinça plástica, de gosto duvidoso, “segura” a lista de explorações a visitar nesse fim-de-tarde.

Desde que recentemente foram impostas restrições à circulação de bovinos, devido à ocorrência de “Língua Azul”, Margarida não tem tido mãos a medir. Os fins-de-tarde prolongam-se por vezes até bem tarde... saltitando de lugar em lugar lá vai emitindo guias sanitárias de trânsito.

Não perde muito tempo com cada um... o exame do estado geral resume-se à percepção de evidentes sinais de disfunção funcional...
Come ? Bebe? Coxeia? Muito bem... mostrem-mo cá! Hummm... OK!

No final emite a competente guia modelo 250 e a respectiva nota de honorários. Coisa pouca, entre 7 e 10 euros.

Seria de esperar que uma qualquer exploração pecuária, cumprindo requisitos de certificação impostos pela legislação e pelos próprios serviços, sustentada na responsabilidade do criador, pudesse estar livre destas obrigações... pelo menos nos casos em que, de facto, essas obrigações são cumpridas.

Os factos falam por si... Margarida ainda não recusou a emissão de uma única guia, o que significará que o risco sanitário pela supressão das mesmos seria despiciendo.

Mas assim não acontece, continuando a circulação de bovinos dependente da sua emissão.

Mas como quem não tem cão caça como o gato, houve quem, atento às subtilezas da Saúde Animal na Lusitânia, tenha descoberto como obviar a maçada: em vez de circular para outra exploração, aproveita o dia de feira e circula para a mesma e depois, então, para a exploração de destino.... poupa-se uma guia sanitária.

Nem a imposição de uma guia sanitária faz sentido, pelo menos na maioria dos casos e muito menos nas actuais condições climatéricas, nem o sistema adoptado revela grande coerência, por deixar em aberto a circulação via feira/mercado de gado.

Assim se vai desvirtuando o sentido de missão dos Médicos Veterinários.

(*) nome fictício, mas com inscrição em vigor na Ordem

6 de fevereiro de 2009

ONE HEALTH

1. A resolução da World Medical Association (WMA) relativa à Colaboração entre Medicina Humana e Veterinária não deixa margem para dúvidas: “Collaboration and communication between human medicine and veterinary medicine have been limited in recent decades, yet the challenges of the 21st Century demand that these two professions work together.”.

Das 7 recomendações da resolução aprovada na Assembleia Geral em Outubro de 2008, destaco: Encorajar as Associações Médicas Nacionais a desenvolverem um diálogo com as Associações Veterinárias congéneres, na discussão de estratégias que reforcem a colaboração entre as profissões médica e médico-veterinária nos seus países.

2. A World Veterinary Association, presentemente dirigida pelo ex-presidente da Federação dos Veterinários da Europa (FVE) Tjeerd Jorna (NL), dedica o World Veterinary Day 2009 precisamente ao tema “Healthy animals + healthy people = One health”.

3. É a própria Comissão Europeia, em cooperação com a FVE, a convergir a sua atenção numa política europeia para a saúde animal que tem como tema central Humanos + Animais = Uma só saúde.

4. Sobre a intervenção da FVE, bastará ter em boa conta o editorial da última newsletter dedicado ao tema One Health: Healthy Animals = Healthy People.

Na introdução à brochura editada pela FVE, relativa às Políticas e Acções da Federação, o presidente Walter Winding (AT) refere que a FVE adopta plenamente o conceito “Um Mundo - Uma Saúde”, procurando continuamente reforçar as relações com organizações veterinárias e instituições em todo o mundo.

5. Nos Estados Unidos, com a adesão de diversas entidades e diferentes parceiros, floresceu a iniciativa One Health, com a missão de promover, melhorar, e defender a saúde e o bem estar de todas as espécies, pelo reforço da cooperação e colaboração de médicos, veterinários, e outros profissionais de saúde e pela promoção do reforço da liderança e gestão necessárias a que sejam alcançados aqueles objectivos.

6. Na longínqua Austrália, a Australian Veterinary Association, organiza durante a sua Annual Conference, em Darwin, um fórum dedicado ao tema “One Medicine, One Health”: um dia de sessões conjuntas e debate entre veterinários, médicos e cientistas do ambiente, abordando e colaborando em temas de interesse comum e trabalhando em conjunto para o benefício comum.

E na Lusitânia não acontece nada???

5 de fevereiro de 2009

MEMÓRIAS DE UM VETERINÁRIO

De José António Carrilho Ralo, numa feliz (e no presente rara) edição do Sindicato Nacional dos Médicos Veterinários e da Ordem dos Médicos Veterinários (quem diria), dirigidos por Rui Leitão e Fernando Paisana.

Sobre o autor dizia no prefácio o Prof. Vaz Portugal: “A ele se aplica o pensamento de Torga: ‘quem faz o que pode, faz o que deve’. Soube conquistar, na sua vida profissional, o ser referência, pela sua intranquilidade face ao Saber e face à sua integridade, ao dominar o exercício do poder, da autoridade, quando chamado a decidir e assumir.”

Não tendo conhecido o Dr. Carrilho Ralo, embora nos tenhamos cruzado na Direcção Geral umas quantas vezes, expresso a minha homenagem, ao Homem e ao Colega.

4 de fevereiro de 2009

ÍNDICE DO PODER DE DESVIRTUAR (1)

Como é sabido os esquemas de sanidade animal assentam em programas de controlo e erradicação das doenças, os quais se alicerçam, por sua vez, num sofisticado sistema da Classificação Sanitária das explorações pecuárias.

Este sistema de Classificação tem como premissa básica a identificação dos elementos essenciais ao reconhecimento de um determinado estatuto sanitário: existência de sinais clínicos reportados ou registados pelo Médico Veterinário Prático que assiste a exploração; avaliação dos riscos epidemiológicos decorrentes de contactos com outras unidades, entrada de novos animais, etc. e a realização de testes laboratoriais.

Todo este manancial de informação é criteriosamente analisado pelas Divisões de Intervenção Veterinária (DIV), conduzindo a uma Classificação Sanitária. O próprio Programa Informático de Saúde Animal (PISA), desenvolvido por uma empresa privada, foi concebido de forma a que os dados sejam validados pelas DIV, que atribui a Classificação Sanitária.

É com base neste estatuto que se apura a “liberdade” de um determinado produtor na comercialização dos animais, pois que a mesma é proporcional às condicionantes de natureza sanitária que determinam esse estatuto.

Seria de esperar que uma exploração bem qualificada estivesse livre de quaisquer obrigações complementares quando quisesse comercializar um animal, independentemente do seu destino.

Mas assim não acontece, continuando dependente da realização de testes de pré-movimentação (TPM) aos animais a comercializar, tal como qualquer outra exploração menos qualificada. Então para que serve o sofisticado sistema de Classificação Sanitária?

Se os TPM não desvirtuam todo o sistema então é porque tal exigência se baseia na total falta de confiança no próprio sistema... e quem “paga” é o produtor.

O HOLOGRAMA

Recebi a minha Cédula Profissional, novinha em folha, e assim se vai manter, pois tal como todas as anteriores não espero ter de a mostrar a ninguém, mas isso é o menos importante.

Gostei do ofício que a acompanhava, se não me falha a memória é igual ao do ano passado e ao do ano antes.

Ironias à parte, não deixa de ser curioso que o ritmo (fúnebre), a linguagem (monótona), o tom (moralista) e até o aspecto (antiquado), se mantenham, justamente com quem tanto anunciou a mudança.

Curiosa realmente é a referência ao “...novo elemento de segurança constituído por holograma do símbolo da Ordem.”, pois que o mesmo já fora anunciado como novo na cédula de 2008, na de 2007 e na de 2006.

E para que quero eu um holograma na carteira? Para provar que tenho uma Cédula Profissional moderna? que não é falsificada? Para quê? Por que raio de razão haveria alguém de falsificar uma carteira profissional? Só se fosse para subscrever uma lista candidata à OMV.

Quantos Médicos Veterinários exercem sem Cédula Profissional? Alguns limitaram-se a requerer à Ordem a suspensão... continuam a exercer e não acontece nada. Assim, sem mais nem menos.

O precedente perigoso de não indeferir tal requerimento, na ausência de fundamento, vai conduzir inexoravelmente a novos pedidos de suspensão e os inquilinos da Gomes Freire (ainda?) continuarão a assobiar para o lado como se nada estivesse a acontecer.

A Ordem dos Médicos Veterinários não é o Sporting ou o Benfica, é uma Associação de Direito Público com responsabilidades de regulação da profissão. Como pode o Conselho Directivo assumir uma atitude tão complacente?

Muitos dirão, como já aqui li em alguns comentários, vão-se essas ovelhas ranhosas que não fazem cá falta, pois só precisamos dos bons, dos que aqui querem estar. Pois é... mas lhes garanto que me incomoda ver “colegas” a trabalhar, “ao meu lado”, com as mesmas responsabilidades sociais que eu, estando na “confortável” situação de suspensos.

Para que serve então a Cédula Profissional com o seu novo (velho) holograma, para além de sustentar os serviços da Imprensa Nacional Casa da Moeda, SA?

Ouvir para decidir... Ouçam o que há para dizer, só a propósito da Cédula Profissional, e já faziam muito.

2 de fevereiro de 2009

O MEU CADERNO PRETO

“Alguns apontamentos e muitas’tórias” do Médico Veterinário Manuel Prazeres Durão, numa edição Som da Tinta, com o patrocínio da Câmara Municipal de Ourém, com a qual tive a “sorte” de me cruzar numa livraria daquela cidade.

Reproduzo parte da nota introdutória de Sílvia Correia Vieira:

“Era uma vez um homem bom, simples, um grande Amigo; nascido em Vila Nova de Ourém em 1930, aqui exerceu durante 45 anos, 42 dos quais como Veterinário Municipal.

Foi com esse grande Amigo que casei, e com ele partilhei tristezas e alegrias de 44 anos da minha vida.

Partiu em Outubro de 1998...”

Aqui deixo a divulgação, em jeito de homenagem, ao Homem e Médico Veterinário Municipal, símbolo de uma geração cujos valores e dedicação profissional importa destacar.

PODER DE DESVIRTUAR

Já aqui tinha abordado o tema à luz de diferentes perspectivas, em particular a do afastamento dos Médicos Veterinários dos programas de Desenvolvimento Rural e, consequentemente da interacção com os produtores pecuários.

Este afastamento é, infelizmente, o denominador comum de muitas das intervenções dos Serviços Veterinários Regionais, onde a ausência de dedicação, esforço ou sentido estratégico dos dirigentes a nível local agrava ainda mais a situação.

Perdeu-se a, este nível, o sentido de missão e de dever dos Serviços e as determinantes legais materializam-se em acções asfixiantes para a actividade dos criadores, por serem interpretadas e postas em prática em moldes totalmente inaceitáveis...

Nuns casos por imposições rígidas que não porque decorrem directamente de disposições legais, mas porque os dirigentes locais, para evitar pecar por defeito, impõe a interpretação mais rígida possível.

Noutros casos são os mecanismos pouco flexível dos Oficiais de serviço ou as crónicas limitações em recursos (até de natureza intelectual), que se repercutem em imposições extra aos produtores.

Já não bastavam as reais dificuldades de natureza administrativa e burocrática que os criadores têm que satisfazer por determinação directa da Lei, que em muitos casos têm sido a causa de abandono da actividade, têm ainda que dar conta de imposições totalmente discricionárias dos Médicos Veterinários Oficiais.

É óbvio que o problema atinge mais o minifúndio e as explorações pecuárias menos dotadas “administrativamente” e aquelas em zonas menos “desenvolvidas”, e por essa razão o “fenómeno” não é uniforme em todo o país.

Parece absolutamente estratégico que a abordagem PVS (Performance, Vision and Strategy) da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) para a governança dos Serviços Veterinários seja adoptada rapidamente.

Os exemplos que sustentam a “tese” que aqui defendo são muitos, por isso periodicamente aqui virei com os “índices do poder de desvirtuar”.

1 de fevereiro de 2009

canis piscatoris

Temos Cão de Água na Casa Branca ou não?

A ideia de ter uma referência lusa em Washington parece não entusiasmar muito as hostes cinológicas nacionais.

Enquanto a decisão presidencial não é tomada aqui ficamos a torcer para que o sucessor de “Fido” (cão de Abraham Lincon) e de “Buddy” (Labrador de Bill Clinton) seja um bom, meigo e fiel, Cão de Água português...

Só faltava mesmo que se chamasse “piloto”.