3 de fevereiro de 2004

ARMAS DE VACINAÇÃO MACIÇA

Quando se fala e se perspectiva adoptar uma campanha de vacinação, logo dois coros de "cientistas" se perfilam: um, que de alma e coração se coloca a favor, depressa e em força, e outro, que com igual veemência, chama a atenção para a necessidade de controlo dos inconvenientes ou mesmo sublinhando a impossibilidade que esses contras sugerem à aplicação de um certo imunogénio.
A este propósito, a comunidade científica também não mantém a mente aberta, o quanto baste, na busca da decisão mais equilibrada, face à situação real, nas suas vertentes técnica, social e económica, tendo em conta o compromisso com a sociedade a que se dirige.

Vem tudo isto a propósito da vacinação maciça do efectivo ovino e caprino de Trás-os-Montes contra a brucelose, com REV1, aplicado por via conjuntival.
Por muito que este "velho do Restelo" se ponha aqui a perorar, o certo certinho é que o número de abates sanitários se reduziu a valores nunca vistos (porque a vacinação suspendeu o rastreio), invocando os responsáveis, com algum atrevimento, que até o número de casos de brucelose entre a população diminuiu (deve ser porque a vacina cura…).
O tempo falará por si… e quando vierem à tona todas as falências em que a esta vacinação se enxertou, inevitavelmente sobrará sempre a desculpa que alguma coisa era necessário fazer, segundo uma lógica que sempre é pior não decidir que decidir mal.

Para já, para já, aqui ficam algumas pérolas avulsas sobre o assunto… Como já lá vão dois anos e meio desde o início da vacinação, impõe-se agora saber o que fazer aos animais vacinados… que maçada… bom, conforme mandam as regras há que rastrear a doença, de novo, e livrarmo-nos dos positivos (supostamente infectados).

Começam os problemas, porque qualquer que seja o critério a adoptar, com base nos testes laboratoriais de diagnóstico que eventualmente venham a ser adoptados, subsistem a priori, vários problemas: o dos animais que foram vacinados, mas sabe-se lá quando… o dos animais que supostamente foram vacinados, mas relativamente aos quais não se sabe realmente se o foram ou não… o dos animais que ninguém conseguirá identificar… aqueles outros que possam ter sido marcados (tatuados) em local, que não o de eleição, e por isso escaparão a essa identificação… já para não falar daqueles que serão identificados como não vacinados, mas que de facto o foram, ou aqueles que venham a ser abatidos para consumo, supostamente importados desde Espanha!
Seja como for, como só passaram… nalguns casos três anos… a Autoridade Veterinária chegou à conclusão que é urgente definir-se o que fazer aos animais reagentes, até porque admite a detecção dos 7% de positivos (mais coisa, menos coisa, e contando com os não contabilizados, serão uns 15 ou 20%... não liguem, isto são exageros aqui do Veterinário precisa-se…).
Assim, para que não haja dúvidas, o caso nem é para ser discutido ou sequer explicado aos Veterinários de serviço (que aliás parecem digerir a coisa com bastante complacência), a metodologia a seguir é simples… é só ter em conta a ligação da célebre Agar Gel ImunoDifusão (AGID) à não menos desconhecida Fixação do Complemento (FC)!!!???...

E de uma penachada se resolve um problema científico até agora sem solução: distinguir, por testes laboratoriais correntes, seropositivos em resultado de uma vacinação ou de uma infecção… e dizem estes que a coisa é impossível…: "Dessa forma, os resultados obtidos não estimulam o uso da prova de imunodifusão em gel de ágar, utilizando como antígeno extrato polissacarídeo de parede de Brucella (POLI O) como técnica diagnóstica de rotina, em virtude de sua baixa sensibilidade, o que possibilita manter animais infectados no rebanho e favorece a disseminação da doença.".
Pois… mas para a Autoridade Veterinária a prova de AGID permite a diferenciação de animais vacinados com REV1 dos animais infectados e (até esta pasme-se) dos animais que estão a excretar brucella.

É verdade que nos bovinos, segundo nos dizem do Brasil, a AGID parece ser "…uma prova de diagnóstico útil para identificar animais seropositivos, naturalmente infectados, de animais vacinados com diferentes doses reduzidas de B. abortus S19…" mas ainda assim salvaguardando a necessidade de investigações adicionais, pelo que a generalização da "ciência" nacional nos parece, no mínimo… atrevida…
Não sei porque não se atreveram a ter em atenção a experiência de França…, talvez pelas influências de Espanha….

Em qualquer dos casos, e já não seria mau se o assunto pudesse ser discutido com os Médicos Veterinários envolvidos, subsiste o mistério na atribuição do mesmo valor de diagnóstico da AGID com a FC, desde que o título desta última seja superior a 66 Unidades Internacionais de Aglutinação.

Nem as Autoridades de serviço se comparam à CIA, nem a Al-Qaeda de prepara para produzir REV1 em massa, mas se George W. Bush soubesse, David Kay não precisava ter reconhecido: "Enganámo-nos todos"…

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