29 de outubro de 2004

"LÍNGUA AZUL EM FUNDO ESCURO"

O colega Fernando Estrella e Silva perdoar-me-á por abusivamente dar a este posto título do trabalho que em Novembro de 1956 (a brincar quase lá vai meio século), submeteu à então Direcção-Geral dos Serviços Pecuários, para o concurso de Literatura Veterinária.

Vêm a efeméride a propósito da recente ocorrência de língua azul no Alentejo e das habituais subsequentes medidas urgentes da actual Direcção-Geral de Veterinária.

Salvaguardadas as devidas distâncias, afinal a DGV já nem promove qualquer concurso... nem produz pareceres como aquele com que injustamente foi "brindado" o trabalho do Dr. Estrella e Silva... ao invés mantém uma supina distância dos profissionais, tomando decisões cada vez mais de gabinete... parece-me da mais elementar oportunidade recordar um trabalho que deveria ser de leitura obrigatória para todos os estudantes de Medicina Veterinária e já agora para todos os assistentes e professores da arte que por aí pululam.

O sentido ético, científico, deontológico e até estético do trabalho merece uma reedição. Se a Sociedade Portuguesa de Ciências Veterinárias não puder ou não quiser, espera-se que do Sindicato Nacional dos Médicos Veterinários ou da Ordem dos Médicos Veterinários haja uma reacção.

O grande "problema" é que a obra continua actual... actualíssima, veja-se a falta de integridade intelectual emergente em reuniões científicas como no fim-de-semana passado...

28 de outubro de 2004

UM “NOVO PORTUGUÊS”

Temos uma sociedade cada vez com mais pontos de conflito em áreas tão distintas como as respeitantes às capacidades do próprio ser humano (aspectos físico e psíquico), ou as relativas à sua própria organização social, por exemplo nos campos da Justiça, do Conhecimento e dos Recursos Naturais.
De facto, vivemos numa sociedade em que estão a ser frequentemente atingidas situações no limiar da tolerância, revelando-se as ultrapassagens aos limites como a forma mais cómoda de fazer face à sobrevivência. Até parece que se enraizou nas gentes que o melhor modo de estar na vida é adoptar comportamentos radicais, embora por enquanto isto não esteja a ser bem entendido..... Muitas vezes, tais comportamentos não são mais do que a reacção normal (natural) às fragilidades da Razão perante as contrariedades da vida, a qual é demasiadamente madrasta para um tão grande número de pessoas à nossa volta. Alguns destes comportamentos geram violência, enquanto outros somente revelam o desejo de atingir notoriedade, uma notoriedade nem que seja à custa da morte, ou de enormes sacrifícios. O que é preciso é ter visibilidade porque a sociedade a premeia demasiadas vezes ainda que sem critério decente. Frequentemente, parece que caminhamos para o caos, para a alienação, persistindo uma notória contradição entre “aquilo que eu digo e aquilo que eu faço”, quer no seio da família, quer nas escolas, nos “media” e, inclusivamente, no próprio governo da Nação. Vivemos numa sociedade sem rumo definido onde quase tudo está escravizado à pressa, à economia e à mediocridade, enquanto o Indivíduo vai perdendo a sua identidade e os sucessivos governos não atingem nem os objectivos mais banais.
Numa sociedade assim, como é que as crianças e os jovens poderão aprender, pelo menos, civismo e solidariedade?
- A governação, face aos variados problemas, porque adopta procedimentos do tipo “bombeirista” por serem eles os que mais favorecem a captação de votos. (Combate o incêndio mas não previne).
- Todos nós, face à ausência de “espírito crítico”, porque não sabemos exigir que, além das medidas avulsas, sejam postas em execução outras que visem atacar o âmago dos problemas, mesmo sabendo-se que os resultados só poderão aparecer decorridas algumas gerações;
- Os políticos em geral porque “queimam alguns neurónios disponíveis” em lutas de partido em vez de se empenharem em problemas mais exigentes em termos neuronais.
Por tudo isto, é um “novo português” que se reclama; um lusitano – que se perdeu não sei quando – que faz falta formar-se desde o Jardim-de-infância e a quem também se ensine a cantar o hino nacional; a não ter vergonha de se comover quando o ouve e a não ter receio de que os políticos de esquerda lhe chamem “fascista”, porque, acima de tudo, também deverá aprender a amar o País e o próximo.
Estamos carentes de algo que nos una, nos anime e nos orgulhe! Não temos fome dos populistas que procuram confundir-nos, nem queremos que continuem a desacreditar a Democracia.

25 de outubro de 2004

RAÇA BARROSÃ

Há tempos li num Semanário Regional algo sobre o risco de extinção da Raça Mirandesa e há cerca disso fiz um post que não mereceu qualquer comentário.
Na edição de 22 de Outubro pp. daquele mesmo semanário um novo artigo desta vez referindo que também a Raça Barrosã corria risco de extinção. Apesar dos subsídios da CE se manterem e de ter aumentado o consumo da carne especial daqueles vitelos, o número de nascimentos vinha decrescendo anualmente pondo em causa o projecto em que a Associação está empenhada.
Em relação ao post anterior (Raça Mirandesa) não houve, como disse, qualquer esclarecimento por parte de algum médico veterinário pelo que não auguramos nada de bom......
É estranho que os sinais positivos referidos pela própria Associação não consigam reverter a tendência para a extinção. Ou será que os proventos resultantes dos subsídios e da venda de carne e venda de animais não estejam a ser aplicados da melhor maneira? Ou será que a venda de animais vivos está comprometendo o programa? Tem de haver uma resposta técnica para esta situação.

18 de outubro de 2004

ESTETOSCÓPIO

Fui na velha Escola Superior de Medicina Veterinária brindado com uma destas peças de equipamento... lá para o terceiro ano... que toda a gente usava, e usa, como um ícone, um pin, uma referência da Medicina, mais do que como auxiliar de diagnóstico.
Ao tempo o diagnóstico era tido como uma arte, mau grado haverem diagnosticadores do tipo: "resolução de equações a uma ou duas incógnitas", "resolução de inequações"... por aí fora.
E dizia-se "...mediante o diagnóstico é favorável o prognóstico...", citando uma das conhecidas sumidades da "Escola".

Estetoscópio Posted by Hello
Quem cuida da componente artística dos jovens licenciados? A Universidade mantém um grande distanciamento do produto que lança no mercado de trabalho e até o "estágio para obtenção do grau de licenciatura" é promovido de forma muito incipiente, talvez mais nuns cursos que noutros (como em tudo há sempre quem se destaque), mas quase sempre conseguido à custa do esforço pessoal do interessado e em grande medida resultante da sua "capacidade" para encontrar um bom orientador.

Agora que há para aí tanto curso de Medicina Veterinária, pergunta-se: qual é a sua posição no ranking das Universidades portuguesas? Se a preocupação com o "estágio profissional" que a Ordem pretende institucionalizar for critério de classificação, não tenho dúvidas em afirmar que o nível é apreciável! Qual é a visão de cidadania, preconizada pelo processo de Bolonha, que os cursos de Medicina Veterinária vão adoptar? como vão "...criar o gosto pelo saber, pela aprendizaggem de valores e pela aquisição de uma metodologia de trabalho"?
Se os Cursos (oficiais) de Medicina Veterinária foram tão céleres a escrever ao Bastonário manifestando a sua preocupação pelo acesso à profissão (estágio profissional e exame à Ordem), como não são capazes de entre si se entenderem quanto ao perfil dos licenciados que andam a produzir?

17 de outubro de 2004

ANIMAL RIGHTS CAMPAIGNERS

O "No Quinto do Impérios" chama-nos a atenção para
esta notícia
: a profanação de uma campa por activistas defensores dos direitos dos animais…
Talvez a onda não atravesse a "mancha", nem tão pouco chegue a este torrão lusitano… mas é pena que razões tão objectivas de incumprimento da legislação da protecção dos animais apenas mereçam a reacção da LPDA... até lá descansam as sogras em paz!

ARRE BURRO (sapientis est mutare consilium)

Não se trata de querer ou de pretender ser político profissional e muito menos de me guindar à categoria de comentador na Imprensa Nacional. Não é essa a minha profissão. Todavia as pessoas não conseguem abstrair-se totalmente dos factos que se passam à sua volta, das situações que afectam as populações, especialmente quando se está convencido de a nossa vida poderia ser melhor se outras soluções governativas tivessem sido perseguidas. É o meu caso, particularmente naqueles aspectos que gritam mais com a minha sensibilidade.
Como cidadão, cabe-me o direito de opinar e como não tenho acesso aos Media serve-me o blog.
Para mim tem sido evidente que em muitos casos os nossos políticos fazem asneiras ou seguem caminhos errados por ignorarem completamente os pareceres técnicos só pelo simples facto de quererem manter a posição de que estes não podem ser vinculativos (um dos seus dogmas).
Há tanta asneira que poderia ser evitada, que teimo em fazer uso deste meu direito. Pena é que me sinta tão sozinho nesta área onde as pressões externas não têm cabimento fácil e, portanto, não podem subordinar o que se tem para dizer.

14 de outubro de 2004

MISSÃO: BRUCELOSE EM PORTUGAL


Solicita-se informação pertinente sobre os resultados da missão da UE de avaliação do programa de erradicação da brucelose dos pequenos ruminantes em Portugal.Posted by Hello

A AMBIÇÃO E A ÉTICA

Acordo de Bolonha à parte, e à parte muitos dos disparates, generalizações e/ou simplificações a que se está a reduzir esse acordo (a isto voltaremos mais tarde), parece inquestionável ser competência da Universidade lidar com a ambição e a ética inculcada aos discentes, sendo esta preocupação particularmente sentida para os cursos de Medicina Veterinária.

Não existem indicadores estatísticos que permitam relacionar a prática não ética com a origem universitária do profissional que a pratica, nem tão pouco a relação de causa-efeito com a ambição instilada a esses licenciados (futuros profissionais), formados nas Escolas de Medicina Veterinária, mas seria de facto interessante ter a percepção do eventual denominador universitário comum de incumprimento ético e deontológico.
Tal interesse é suscitado pela convicção de que à Universidade não caberá apenas o papel de transmitir conhecimentos de natureza mais ou menos científica e de oferecer metodologias de aplicação prática desses conhecimentos, mas sobretudo de saber enquadrar esse “sistema de ensino-aprendizagem” num adequado sistema de referência que tenha em conta a ambição e a ética.

Aquela mistura de vontade, desejo e atracção que os docentes universitários transmitem ao futuro profissional, particularmente nas situações práticas que de alguma forma “simulam” o futuro dia-a-dia desses profissionais: planeamento produtivo de uma exploração pecuária, actos clínicos, uma cirurgia, concepção e realização de Inquéritos Epidemiológicos ou concretização de um diagnóstico, avaliação do lay out de uma indústria alimentar, etc. etc., poderá, em muitas circunstâncias, sobrepor-se ao enquadramento ético desse exercício, de que as dificuldades de emprego são “apenas” enorme catalizador.
Seria de esperar que a Universidade clarificasse os discentes sobre como se articulam a ambição e a ética, não permitindo que subsistissem quaisquer dúvidas sobre o plano ocupado por cada um dos conceitos, como é habitual notar-se: que a ambição termina onde a ética começa, como se se tratassem de duas questões não miscíveis.

A ética, encarada como um conjunto de “regras” que regulam a conduta, neste caso dos Médicos Veterinários e que em termos do colectivo se plasmam no Código Deontológico, não se opõem ou castram a ambição, como muitos “empresários da profissão” julgam ou aprenderam na Universidade.
A atitude platónica de renunciar aos prazeres e à riqueza a favor da dedicação à virtude, tendo em vista a conquista da felicidade, não me parece aplicar-se a esta circunstância ou seja, não se trata de escolher entre a ambição e a ética, como alguns doutos fazedores de licenciados parecem atemorizar os jovens alunos.
A verdadeira tarefa da Escola reside em dotar o aluno de capacidades que possam manter no plano da ética as suas mais legítimas aspirações: a vontade e o desejo deverão assentar em preceitos éticos, em vez de ser colocados em campos opostos numa espécie de campo de batalha mental e emocional.

Interessante seria, de qualquer modo, conhecer a “estatística da ambição e da ética”, reportada a cada um dos cursos de Medicina Veterinária.
Talvez o Conselho Profissional e Deontológico da Ordem dos Médicos Veterinários (ou até de uma outra qualquer Ordem), saiba informar.

VERTICALMENTE

O governo de Pedro Santana Lopes garante: a autonomização e verticalização dos Serviços Veterinários, será uma realidade até ao final do ano.
Os sectores atingidos pela medida reagem de forma diferenciada.
No seio dos Serviços Veterinários as reacções variam entre o cepticismo e o entusiasmo contido, e a desconfiança e denotada preocupação… estarão em causa factores determinantes: por um lado o permanente anúncio e eterno “volta atrás”, aliado ao facto do Ministério ser governado por convictos “regionalistas”, por outro lado a certeza de grandes dificuldades futuras com a gestão desses Serviços, cuja resolução parece estar para lá da reorganização orgânica.
Os sectores de produção intensiva reagem favoravelmente, em oposição aos tradicionais sectores de produção, mais ligados ao desenvolvimento rural e cooperativo, claramente contrários a esse desiderato.
No sector do consumo o alheamento é quase total.
O Director-Geral de Veterinária apostou, com êxito, o seu destino à frente da DGVA, ao fazê-lo depender da consecução da verticalização.
Ainda não se ouviram os foguetes, talvez porque a festa ainda não tenha começado ou porque o orçamento assim obriga.

11 de outubro de 2004

SOBRE A CIDADANIA

A cidadania é um conceito extraordinariamente complexo que não se limita à simples participação sob o ponto de vista político, mas onde também não cabe a simples recepção mecânica de direitos garantidos por via externa.
Parece inexplicável que uma série de colegas – ainda por cima não recém-formados – se tivessem excluído da discussão da revisão dos Estatutos da nossa ORDEM, indicando que estão indiferentes à evolução dum mecanismo fundamental da regulação da profissão.
Se todos os colegas – nas várias Regionais – se comportarem do mesmo modo, a revisão dum mecanismo tão fundamental acabará por ser efectuada por apenas uma dezena de colegas mais dedicados, o que equivale a dizer que aqueles que se excluíram não favoreceram a democracia instituída, embora, com toda a certeza, não queiram deixar de fazer uso dos direitos consagrados por todos aqueles que a tornaram possível.

6 de outubro de 2004

POR DETRÁS DUMA NOTÍCIA

No Público de 04.10.05 logo na 1.ª página, em letras bem gordas, a vermelho, diz-se:
"Sampaio rejeita medidas avulsas e impõe condições ao governo”
Na página 10, já não a vermelho mas ainda em letras gordas, novo título bombástico, desta vez num artigo de Eunice Lourenço:
”Presidente da República faz ultimato ao governo”
Ouvindo o discurso do Senhor Presidente da República não se pode entender que S.Excia tenha imposto condições ao governo e muito menos que tenha feito um ultimato.
Então qual terá sido a intenção de dar a notícia daquela maneira? Curioso foi também constatar que no noticiário das 20 horas daquele mesmo dia a SIC também afinou pelo mesmo diapasão........
Não sendo admissível que a jornalista em causa e o próprio Jornal desconheçam o significado das palavras ultimato e exigir, sou levado a pensar que o motivo não corresponde apenas à vontade de dar informação correcta. Correcto será concluir-se que aqueles dois expoentes do nosso “media” não são nem apartidários nem imparciais.
O governo que se acautele porque se está caminhando para fazer cair na rua o Poder.

5 de outubro de 2004

COMBATER AS CAUSAS

Complementando o post anterior “Uma à esquerda, outra à direita”

Várias são as situações de degradação do comportamento moral e cívico sendo nossa convicção que muitas delas são resultado duma falha profunda e generalizada na educação na fase de infância, não propriamente na área da transmissão do Conhecimento, mas na da transmissão de certos valores morais e cívicos – tão combatidos pela Esquerda – os quais, digam o que disserem, são referências sólidas para o resto da vida.
Há coisas que devem ser aprendidas (estimuladas) a partir dos 2 até aos 7-8 anos de idade, quando a estrutura cerebral começa a estar em franco desenvolvimento e não mais tarde porque, então, já não resulta tão bem.
Como sabemos, os pais actuais – na esmagadora maioria – vivem permanentemente preocupados com aspectos materiais relativos à manutenção da família ao mesmo tempo que muitos deles têm dúvidas ou ignoram qual a melhor forma de educar os filhos, enquanto que outros, embora saibam como os educar apenas estão em condições de o fazer se abdicarem de interesses materiais tornados indispensáveis. Naqueles, os que constituem a maioria, a educação que receberam na infância não foi a apropriada e agora, como pais, nem fazem ideia dos erros nem das consequências das omissões que cometem na educação dos filhos. E nem sequer imaginam as razões pelas quais os seus “rebentos” não aguentam os tumultos e os contratempos a que ficam sujeitos nesta nossa “vida de cão” e soçobram sem luta face às vicissitudes emocionais. Deviam estar apetrechados para suportar as agruras, as contrariedades (ir ou não ir à “boite”;estudar ou não; etc.) que, aliás, toda a gente tem de suportar, embora suponham que são apenas eles os desprotegidos da sorte. Nem admitem que haja quem as suporte por a sua alma ter sido “temperada” em criança! O que está acontecendo é que em vez de se estar preparado para suportar as contrariedades se vacila às primeiras vicissitudes e se procuram saídas fáceis como, por exemplo, o recurso à droga, ao álcool, ao roubo, etc., como se não existissem outros caminhos. Só que a educação que tiveram não os ensinou a suportar.... E é chegado a este ponto que me insurjo veementemente com todos os processos em que a abdicação é lema a seguir.....
Mais Polícia na rua; mais Escola Segura; mais parques para ensinar prevenção rodoviária às crianças; mais apreensão de droga; mais presídios; mais centros de acolhimento de toxidependentes; menos “casais ventosos”; e outras medidas similares, são, sem dúvida, formas de luta infelizmente necessárias, mas elas não combatem as causas profundas; não passam de tratamento sintomático. A sociedade precisa de formas de luta que combatam as causas, ainda que não possa prescindir das outras formas de acção, mesmo sabendo que a luta a travar seja para durar gerações.
Sinceramente, é isto que se consegue usando apenas aquelas medidas avulsas? É evidente que os tais tratamentos sintomáticos ajudam, mas se não formos ao âmago da questão, a sociedade corre o risco de amanhã constatar que um cidadão perito em prevenção rodoviária assassinou a mãe dos seus filhos por ela não ter feito a sopa a tempo e horas...

4 de outubro de 2004

Vulpes vulpes

É mesmo urgente que apareçam Vets na Política. A Ordem é composta por funcionários públicos que em vez de se baterem pelos interesses reais e futuro da classe, não têm nenhuma independência para o fazer pois têm de obedecer não aos interesses da profissão, mas sim, ao que o "patrão" (Director-geral, Secretário, Ministro), determina, sob pena de serem votados ao ostracismo (leia-se prateleira) lá na repartição onde labutam já que não podem ser postos na rua. Até ver, p'ra já...
Isto não seja tido como crítica. É o que é. É a classe que somos.
Quando a profissão um dia passar a ser eminentemente liberal (como o é nos outros países desta UE onde vivemos) e começar a sentir as reais agruras da vida no pêlo, as coisas poderão começar a mudar.
Enquanto os Vets se escudarem no empregozito medíocre mas seguro do Estado e fizerem da profissão (clínica, etc) um biscate pós laboral, regra geral em consultórios e clínicas de vão de escada que não dignificam em nada a imagem pública da profissão, nada mudará no status quo que se arrasta há muitos, muitos anos. Talvez os novos Vets apareçam com outra postura dada a tempestade que se lhes avizinha. Mas tenho dúvidas! Com a agricultura (?) a dar últimos suspiros e os urbanos cada vez com menos dinheiro nos bolsos para pagar as facturas com a saúde dos animais de companhia, mal vai de facto o futuro da profissão se não aparecerem e já, Vets na política. Lembrem-se: o recente episódio da BSE constituiu uma enorme oportunidade para visibilidade da profissão. Ordem e Sindicato pouco ou quase nada foram capazes de tirar partido da excelente situação... etc. etc. Não sabem de política, são coxos em marketing.
Nada disso. Simplesmente os "patrões" proibiram ou mandaram calar, suas Exas os bastonários, de se pronunciar sobre os temas. Simples!
Take Five

Mais do que VETS na política melhor seria não ter raposas a dirigir a profissão… enquanto assim for a confusão com o pobre ratito é um enorme risco…

A ver o que diz o Fernando…

A DOENÇA MISTERIOSA… OUTRA VEZ!

Completamente de pernas para o ar… perdeu-se todo o discernimento!
A condução dos casos de doença em Seara – Ponte de Lima e o destaque dado pelos jornalistas ao caso, foram a todos os títulos dignos de crítica, tudo o que o "nosso" médico disse sobre o caso… foi pouco.

Para rematar, só a história que nos foi dada, uma vez mais, diligentemente pela TV no jornal da tarde de hoje: Começaram as operações de desinfestação de jardins, parques infantis, arruamentos, muros e outros locais públicos em Seara.
A jornalista de serviço informa que se trata de um acaricida (com um nome destes deve ser eficaz), mas logo o Médico Veterinário Municipal esclarece tratar-se de uma substância designada por amitraz (até rima com eficaz…): no mercado existe apenas uma apresentação comercial (vamos omitir propositadamente o nome e empresa) e essa está apenas indicada para aplicação em banho ou pulverização de ovinos, bovinos e suínos e não em instalações ou locais.
Havendo produtos bem mais baratos, indicados para o tipo de desinfestação pretendida, porque razão se optou por esta metodologia?
Existem, por outro lado, empresas especializadas em desinfestações, não se entendendo a opção pelo "faça você mesmo", estando em causa garantir uma determinada eficácia.

Mas bem pior que tudo isto subsistem razões de natureza científica que toda a gente parece esquecer: sem colheitas sistemáticas de exemplares de carraças, ao longo dos meses, não é possível conhecer os ciclos de vida dos parasitas, susceptíveis de permitir um combate eficaz, resultando a iniciativa da Câmara de Ponte de Lima em operação baseada em suposições sem qualquer valor prático.

Gostaríamos, de qualquer modo, conhecer que suposições foram essas: que carraças esperam eliminar (ovos e larvas incluídas)? Será esta aqui, a carraça castanha do cão?... que reproduzimos com a devida vénia da Public Health Pest Control.


Rhipicephalus sanguineus Posted by Hello

Que efeito residual tem o produto aplicado e em que se baseia tal suposição? Qual foi a concentração utilizada e que suposta reinfestação se pretende evitar? Quantas são as gerações destes parasitas que o clima de Seara "permite"?

Continuarão a comunidade científica e os Serviços Veterinários imperturbáveis ou aproveitarão a oportunidade para repensar o levantamento parasitário do país, conjugando os esforços que muitos vêm desenvolvendo pontualmente aqui e ali, potenciando intervenções que já são habitualmente desenvolvidas no meio rural?...

UMA À ESQUERDA, OUTRA À DIREITA

Esta vida está de pernas pro ar!
Considero que a profissão de bombeiro é muito ingrata porque ele, o profissional, pode saber qual a causa do incêndio que está a combater sem, contudo, estar habilitado a combater a causa que lhe deu origem o que, a verificar-se, por certo evitaria algumas vezes que o incêndio se repetisse. É como se um médico tratasse um doente com tuberculose pulmonar apenas com um xarope antitússico, ou um médico veterinário não se preocupasse com a etiologia responsável pela doença do seu “cliente” e apenas o medicasse com vista a debelar a sintomatologia manifestada. Aliás é esta a maneira como a maioria dos políticos encara os problemas que têm em mãos ou seja, uma actuação à bombeiro, o tal que não tem possibilidade de evitar os incêndios que mais tarde ou mais cedo terá que combater....
Vem isto a propósito duma notícia no Público de 2004.10.03 em que a jornalista Bárbara Wong refere que o Reitor da Católica está preocupado com o insucesso escolar dos alunos que chegam à Universidade pretendendo - julgo eu - que o Poder interfira sobre o funcionamento dos bares e “boites” para que – deduzo eu – os alunos universitários não apresentem tão altas taxas de subaproveitamento escolar.
Como a rapaziada não foi ensinada na infância – o tal “tratamento preventivo” – a comportar-se bem, eis que o Senhor Reitor faz apelo ao governo para o uso dum tratamento sintomático em vez de clamar por uma actuação etiológica.
Vá lá, vá lá, que o Senhor Reitor teve o bom senso de não propor que se legislasse no sentido de encerrar todos os bares e casas de alterne e que se edificassem em todas as Escolas e Universidades mais espaços lúdicos capazes de entreter os alunos, com vista a desviá-los dos tais “antros de perdição”....
Talvez um processo de vigilância electrónica desse resultado!


Veterinário precisa-se para diagnóstico de "especialidade"... Posted by Hello

3 de outubro de 2004

COMPROU MULHER POR 15 CABRAS

O vigário atacou: a troco de quinze cabras ofereceu-se a mulher… o vigarizado "morre" de vergonha… mas o que não sabemos é se os animais estavam vacinados com a famosa REV1, no âmbito da, não menos famosa, campanha de vacinação massiva (ou maciça como lhe chama o seu principal mentor).
Agradecemos informações sobre a emissão de passaporte ou destacável de rebanho, assim como das respectivas guias sanitárias…

SAÚDE PÚBLICA

O nome de um "dossier especial", de periodicidade quinzenal e de distribuição conjunta com o jormal "Expresso".
Há uns quinze dias, mais coisa menos coisa, salvo erro na edição nº 13, aquela publicação dispunha uma meia página, dedicada à Ordem dos Farmacêuticos, dando oportunidade à divulgação de "dia do farmacêutico" e, se não me engano outra vez, o dia de S. Cosme e S. Damião, permitiam ao bastonário Aranda da Silva a exaltação da profissão.
Amanhã, dia 4 de Outubro, comemora-se o dia do Veterinário... na edição de Sábado passado do "Saúde Pública" (nº 14), nem uma linha sobre o facto... Alguém me ajuda a interpretar o facto?
Qual a admiração? no site da Ordem dos Médicos Veterinários também não é feita qualquer alusão...

2 de outubro de 2004

SEGURANÇA ALIMENTAR, ESQUER' DIREITA

Não tenho a pretensão de pensar que existam assuntos que não são nem de esquerda, nem de direita, muito embora assim pareça quando se fala de Segurança Alimentar ou Saúde Pública.
A industrialização, o desenvolvimento económico, a igualdade de direitos, foram a par com o número crescente da procura de bens alimentares associado à evolução social e política, factores essenciais à identificação de elementos de Segurança Alimentar e Saúde Pública, parecendo assim que o assunto tem uma natureza estritamente técnica, despida de conteúdo ideológico e de opções políticas.
Julgo que quem assim pensa se engana redondamente.
Sem ser exaustivo, este espaço não tem esse fim nem essa capacidade, basta olhar para alguns dos princípios em que assentam, particularmente a Segurança Alimentar, mas também a Saúde Pública:

a) Da exploração à refeição (stable to table, fish to dish, farm to table, etc.). Este princípio básico, em que assenta toda a política de segurança alimentar da União Europeia (a profissão veterinária em Portugal tem feito pouco eco deste aspecto, diga-se de passagem e não se sabe bem porquê), exige que em toda a cadeia alimentar, em todos os sectores de produção, em toda a União e a todos os níveis de decisão, exista uma abordagem integrada, que envolva e responsabilize todos os intervenientes. Ora este primado de Autoridade e Responsabilidade sempre foi visto de lado por socialista e comunistas, para quem se impõe, antes de mais, a democratização dos sistemas e a garantia de "alimentos para todos".

b) Avaliação, comunicação e gestão dos riscos na Saúde Pública. Toda a política de Segurança Alimentar deve basear-se nestes três componentes da análise de riscos, de forma rígida e sistemática, baseada em estruturas de coordenação e controlo em cuja Autoridade seja depositada toda a confiança, sejam por parte dos produtores, seja por parte dos consumidores. Também este tipo de exigência em termos de organização, gestão eficaz e eficiente e sobretudo grande disciplina e profissionalismo, não vão ao encontro de uma "ideologia de esquerda".

c) Responsabilidade básica pela segurança alimentar: cabe aos produtores de alimentos para os animais, criadores, agricultores e produtores de alimentos. Sem negar este princípio de responsabilização, que até defenderá, a "esquerda" enfatiza sobretudo os valores da democracia, da intervenção do estado e do financiamento público, afastando-se precisamente daquele princípio.

Talvez por esta razão a Segurança Alimentar em Portugal continue a marcar passo: curiosamente, a profissão Veterinária gosta de primar por aqueles valores, de forma tão interessante que não é difícil encontrar "esquerdistas" inveterados em defesa de uma certa forma de "corporativismo"… o corporativismo da ciência… sobretudo… ou imbecis corporativistas escudando a sua ignorância e incompetência naqueles primados…

Que o governo manifeste a sua disposição em manter a resolução do anterior executivo relativamente à organização dos Serviços Veterinários (SV), já não é mau, desesperante são os timings políticos e a oportunidade de impor essa organização… releve-se a o meu pretensiosismo em pensar tratarem-se de SV… mas muito pior que isso são as tibiezas das Organizações profissionais, a indolência dos seus membros e os enredos, urdiduras e mexericos em que se metem os dirigentes associativos.

29 de setembro de 2004

QUE DIABO DE MANEIRA DE SER POLÍTICO (in cauda venenum)

As páginas 6 e 7 do jornal Público de 04.09.22 formam um conjunto notável sob vários aspectos quanto aos conteúdos dos artigos inseridos, embora na presente oportunidade apenas me apraz sublinhar contradições.
No escrito pelo Ministro do Ambiente sobressai uma seriedade de propósitos que por não ser usual nos políticos é digna de reparo, embora – por ser escrito por um ministro – não deixe de ser lamentavelmente ingénuo;
No subscrito pelo jornalista e licenciado em Filologia Germânica pela Faculdade de Letras do Porto, Joaquim Fidalgo, sobressai uma ironia que só não classifico de invejosa por acreditar que ela não existe no carácter deste jornalista, embora o que foi escrito pudesse ser dito dum modo menos contundente para o visado a quem não é justo culpá-lo por uma situação não criada por ele mesmo.
No artigo “A Floresta de Enganos de António Barreto”, subscrito pelo Prof. Pedro Teixeira da Faculdade de Economia do Porto, atribui a António Barreto a intenção de arranjar um “bode expiatório” fácil, embora reconheça o mal que se tem feito na educação em Portugal, para de seguida espraiar-se em considerações apenas com o intuído de ilibar a Esquerda das culpas que lhe foram assacadas por António Barreto;
Na coluna de Eduardo Prado Coelho – doutorado em Teoria da Literatura – me parece algo criticável o recurso que usou para pôr em cheque o ministro Nobre Guedes, recorrendo à expressão: “Enviaram-no para uma pasta, a do Ambiente, em que não se lhe conhecia a menor preparação.....” Será que o doutoramento em Teoria da Literatura e os vários cargos em que o Prof. Prado Coelho tem sido investido são de molde a conferir-lhe a autoridade bastante para partir do princípio que cada ministro deva ser um expert em todos os assuntos da sua “pasta”?
Curioso é também a coincidência de três indesmentíveis ataques à direita terem sido publicados em páginas contíguas de modo a que quem abra o jornal se depare de imediato com todos os artigos. Há muitas coincidências deste género.
Aliás de há muito que parece existir uma estratégia de pressão constante contra o governo de modo a atingir-se o desidrato daquele velho adágio: “Água mole.....”

27 de setembro de 2004

A PRESSA

Vivemos num mundo em que não mais se tem paciência para esperar seja o que for; num mundo que estimula cada um a ser rápido e passar à frente ao mais ínfimo tempo de espera. Cheios de pressa e ansiosos por atingir os objectivos, já não se sabe se alguns dos vulgares dispositivos tecnológicos apareceram em consequência daquela pressa, ou se esta resultou da oferta daquelas tecnologias...
Certo é que “pressionar um botão” facilitou extraordinariamente a obtenção dos objectivos a ponto de até os menos atingidos por este mal já não terem paciência para esperar que alguém demore algum tempo a fornecer o que desejam, ou, sequer, para ouvir o que se tem para lhes dizer. Se instalassem nas tais máquinas (refrigerantes, preservativos, etc.) um contador de murros e de ponta pés, ou se os responsáveis estivessem mais atentos ao que se passa com as crianças e adolescentes, veriam que há motivo para preocupação. Já nem os mais velhos são capazes de fazer com que a mente acompanhe os avanços científicos e tecnológicos e, muito menos, que possam dizer que estão a par seja do que for, embora vivamos num mundo que nos sufoca com Informação de toda a ordem, ainda que, quase sempre, eivada de superficialidade porque quem a divulga também padece do mesmo problema.......
Não sei se o que está a acontecer é maléfico para a sociedade, mas suponho que sim porque o cérebro não é “artigo” que se possa comprar na loja do chinês.... Mais cedo que mais tarde, surgirão outras consequências – quiçá mais graves – deste “fenómeno” e uma delas certamente que dirá respeito ao comportamento relativamente à “coisa política” porque nem há “botão” para ser pressionado, nem os políticos deixaram de olhar para o próprio umbigo uma vez que continuam a não dar satisfação à tal pressa com que toda a gente quer que se façam as mudanças......Continuam muito distraídos (?). E como, na generalidade, não há uma massa crítica capaz de lutar pelos seus ideais, não será de esperar outra coisa que um desinteresse cada vez maior, o qual acabará por também pôr em perigo a Democracia.
Será isto o que se deseja? Estejamos atentos!

26 de setembro de 2004

ACABOU A DOENÇA MISTERIOSA

Foi finalmente esclarecido o “mistério” que “atacou” na Aldeia de Seara, em Ponte de Lima. O Instituto Ricardo Jorge acabou por identificar o agente causador da doença que alimentou o noticiário televisivo durante alguns dias e que pelo seu teor chegou a “alarmar” as pessoas que vivem na dita aldeia e arredores e quiçá algumas outras, menos avisadas, no resto deste atrasado país.
A extrapolaçâo para o caso do jornalista não especializado, autor das reportagens televisivas, faz-me lembrar aquela anedota do “feijão no ouvido do paciente.”
E agora? Esclarecido o caso, acabou-se o manancial produtor da notícia!
Que teria acontecido SE o director clínico daquele hospital durante a entrevista tivesse dado a sua opinião sobre qual seria o agente infeccioso e, agora, o veredicto do Instituto não a confirmasse? Cairia o Carmo e a Trindade com a agravante da opinião pública – estimulada pelo tom agressivo do entrevistador televisivo – passar a ser altamente desfavorável sobre o dito médico quando isso em nada adiantaria! O público teria ficado melhor esclarecido?
Só sob uma opinião induzida, alguém, mesmo que ignorante, pode pensar que um médico – só por ser médico – perante uma situação semelhante nunca erra.
Enquanto as condições não mudarem – o que será impossível enquanto se quiser empolar o acontecimento para dele se extrair material para mais notícias – fará muito bem qualquer entrevistado acautelar-se!
Ou o senhor jornalista ao dar conta do que conseguiu com uma notícia vulgar - que não merecia ser A Notícia - colmatou o exagero “recolocando o feijão no ouvido do paciente”?
Caberá agora à Autoridade Veterinária local o papel de actuar convenientemente e fornecer à população as informações adequadas.

23 de setembro de 2004

VET ON WHEELS

A necessidade espevita o engenho, e se melhor o pensou, melhor o fez, de facto: a falta de oportunidades de trabalho levou um médico veterinário a prestar serviços móveis de cardiologia por esse país fora.
Veja (aqui) a história completa de uma ideia magnífica: aproveitando formação complementar e específica no domínio da cardiologia no Reino Unido, este médico veterinário adaptou um veículo ao diagnóstico de patologia cardíaca, deslocando-se às diferentes clínicas e hospitais que necessitam do seu concurso.

Original no âmbito da Medicina Veterinária, esta solução fora já "inventada" na Medicina Humana desde os tempos da luta contra a tuberculose, com carrinhas móveis que se deslocavam às populações, instituições e empresas, provendo serviço de rastreio (intradermotuberculinização e radiologia) ou mais recentemente através das unidades móveis de medicina do trabalho, estabelecendo calendários de "despistes" exigíveis legalmente por aquele programa de medicina do trabalho, em que também os meios auxiliares de diagnóstico se deslocam aos trabalhadores.

Resta agora saber qual a classificação que a Ordem dos Médicos Veterinários vai dar a este tipo de unidade, já que o respectivo "Regulamento de Exercício de Clínica Médico Veterinária dos Animais de Companhia em Centros de Atendimento Médico Veterinário", não prevê este tipo de unidades.

Estamos em pulgas para ver!

22 de setembro de 2004

DECADÊNCIA

É usual verificar-se um acentuado desrespeito pelas normas de conduta em sociedade, especialmente por parte dos mais jovens, mesmo em alguns dos que frequentam os graus mais elevados do Ensino. Mas não só nos jovens!
Este comportamento resulta principalmente do facto dessas pessoas não terem sido ensinadas (educadas) a suportar de cabeça erguida as contrariedades que sempre surgem no dia-a-dia da vida, como acontece quando em criança todas as vontades são sistematicamente satisfeitas. Tais manifestações, mesmo aquelas que, para bem da formação do carácter dos próprios contestatários deveriam ter sido “contrariadas” em devido tempo não o foram e assim, sob o ponto de vista sociológico, o futuro está a tornar-se confuso e um tanto “perigoso”.
É evidente que aquelas normas não constavam de um “catálogo” adquirível numa qualquer banca de jornais, ou duma cartilha escolar. O seu ensino era ministrado pelos pais, pelos avós, pelos professores e, mais cautelosamente, até pela pessoa mais próxima através duma admoestação directa. Eram normas tacitamente admitidas e o desagrado pelos incumprimentos era de tal modo feito sentir que, em geral, só numa determinada “franja” da sociedade ele não dava resultado. Em tempos mais recentes, as manifestações de desagrado (mania dos fascistas) deixaram de ser feitas e de seguida uns quantos passaram, propositadamente, a não cumprir as regras como se tratasse de um desafio entre os que se consideravam a si próprios mais espertos, ou mais aptos e o resto...... A tal “franja” cresceu.
A confusão entre Autoridade e Liberdade acentuou-se e a falta de uma estratégia para contrariá-la – omissão devida, essencialmente, ao medo da contestação, aliás sistematicamente explorada por alguns quadrantes políticos – levou à situação actual, por sinal nada lisonjeira para os políticos em geral (a democracia não se constrói assim).
Os mentores desta situação deixaram deformar o conceito de Autoridade alegando temer o abuso por parte dos que a detinham, como se os abusos de poder só pudessem ser contrariados pelos próprios contestatários e não combatidos pela Justiça. Assim, o Estado de Direito é frequentemente molestado. Para cúmulo, tem-se deixado “correr o marfim”..... Agora é o que se vê!
Muitos pais abdicaram do dever de educar os filhos porque eles também não foram devidamente ensinados e muitos dos adultos que têm a incumbência de fiscalizar, controlar, passaram a ser ao mesmo tempo juízes, permitindo-se “perdoar” toda a espécie de infracções, das mais ligeiras às mais graves, ou fazer vista grossa, à sombra da tolerância.... Até a nível oficial muitos desvios das regras foram praticados sem se medirem as consequências sociológicas resultantes do povo constatar que, afinal, o exemplo não vem de cima..... E aumentou a corrupção!
Nem ataque ao âmago do problema, nem repressão; e de degrau em degrau desceu-se ao nível de pôr a própria democracia em perigo. Atingiu-se um ponto donde dificilmente se vislumbra uma saída sem uma Autoridade muito mais dura do que aquela que se pretendeu (?) evitar.
E já passaram 30 anos servindo a quem?

21 de setembro de 2004

DOENÇA DESCONHECIDA

Há três ou quatro dias que os midia, através de entrevistas, espalham ou acalentam o medo na população onde ocorreram meia dúzia de doentes com uma doença desconhecida e, ainda por cima, com duas mortes.
Habitualmente, os jornalistas, especialmente os da TV, exercem uma “pressão” tal sobre os médicos que estes, sem darem por isso, se deixam enredar em explicações nem sempre claras para os leigos que as escutam, contribuindo assim para aumentar a confusão, ao mesmo tempo que facilitam uma ascendência dos “midia” nem sempre susceptível de aplauso..... É certo que os midia podem desempenhar um papel importantíssimo na informação e no esclarecimento das populações (isso ninguém discute), mas o modo como actuam exerce uma “pressão” que faz com que os técnicos receiem errar, pois logo a TV e o “povo” lhes cai em cima e muitas vezes injustamente.
Por um lado, o excesso de cautela, por outro a inibição que as pessoas não habituadas às câmaras da TV sentem, faz com que os “discursos” surjam confusos, titubeantes, pouco claros e que, assim, seja transmitida sobre o entrevistado uma ideia de pouca segurança de conhecimentos, quando não de incompetência.
O presente “surto” – como tem sido chamado – é paradigmático do que acabámos de referir.
Na génese desta situação podem estar alguns factores, mas um me parece particularmente importante: A falta de especialização do jornalista sobre a matéria relativa à entrevista. Se atentarmos no que se passa no país, um mesmo jornalista tanto é despachado para cobrir um incêndio como para... perguntar a uma pessoa que acabou de perder um ente querido como é que ela se sente.
No caso da “doença desconhecida” ocorrida há pouco na área de Ponte de Lima, os médicos “desconfiam” do que se trata, mas como há outras hipóteses não querem arriscar a hipótese mais provável porque se as análises laboratoriais não confirmarem a suspeita logo serão declarados por toda a legião que ouviu a entrevista como incompetentes.
Mas a falta de especialização do jornalista é notória porque se ela existisse não só as perguntas feitas seriam de outro género como a oportunidade seria aproveitada para “informar” a população sobre vários aspectos que, clamorosamente, ficaram em aberto....
Todas as cautelas são poucas!

QUEM É O DESEMBARGADOR?

Não haverá grandes dúvidas sobre a natureza "política" do embargo ao comércio de bovinos, produtos de origem bovina e produtos bovinos, imposto a Portugal pela União Europeia; da mesma maneira que não subsistem quaisquer dúvidas sobre os fundamentos de natureza técnica e científica que sustentam o sequestro dos bovinos nacionais.
Quer dizer que, no quadro de funcionamento da União Europeia, temo até que não haverá "volta a dar" a tal condicionalismo, nem agora, nem no futuro, as decisões assentarão sempre em critérios de natureza exclusivamente política.
Por outras palavras: os aspectos de natureza técnica e científica estarão sempre subordinados aos de natureza política ou melhor, não basta que técnica e cientificamente se justifique "fazer" de determinada maneira, será necessário demonstrar que essa é a maneira correcta e equilibrada de se fazer, para que seja possível (politicamente) merecer uma decisão nesse sentido.
Apenas a estética e a arte conseguiram alguma emancipação desta "tutela".

Sem emitir qualquer juízo de valor sobre tal circunstância, esse não é o leitmotiv deste post, é evidente que dentro de certos parâmetros, a capacidade de exprimir um certo parecer científico e a qualidade desse parecer condicionam e determinam o sentido de uma dada decisão política.
Dentro de determinados limites, uma decisão desta natureza poderá ser tomada num determinado sentido ou no sentido exactamente contrário, ainda que a sua sustentação técnica e científica seja "de facto" a mesma.
No caso do embargo às exportações bovinas nacionais, os fundamentos parecem enquadrar-se no que ficou dito: os mesmos dados estatísticos e de avaliação da execução do programa de controlo em Portugal, sustentam dois sentidos de voto: a França votando contra e a Alemanha, Espanha, Itália e Reino Unido, votando a favor.
Sendo a base da decisão exactamente a mesma, a divergência de opiniões tem obrigatoriamente que se sustentar na latitude de análise permitida por esses dados, sem o que facilmente poderia ser posta em causa a credibilidade de um certo sentido de voto, como o voto contra da França.

Mesmo admitindo um maior ou menor nível de exigência, não é admissível que um conjunto de elementos estatísticos e uma avaliação da execução das acções revelando uma evolução positiva e deixando, sem margem para dúvidas, que, à luz dos indicadores estabelecidos pelo Office International des Epizooties (OIE), foram concretizados os objectivos mínimos, na perspectiva do levantamento do embargo, possibilite outro sentido de voto que não aquele.
A não ser assim, permito-me pensar que a apresentação de resultados pelas Autoridades Nacionais não obedeceu aos melhores critérios de natureza técnica e científica, pois assim sendo a "latitude de análise" a que antes aludi, estaria muitíssimo condicionada, tão limitada que seria ridículo votar contra, como a França continua a ameaçar fazer, apenas porque politicamente tal voto poderá ser o primeiro passo para o levantamento do embargo ao Reino Unido, abrindo portanto o caminho à abertura ao comércio do outro lado da mancha.

As movimentações diplomáticas podem ser muitas, mas o que lhes daria força seria, sem dúvida, um relatório de execução de actividade em Portugal, claro e objectivo, assente em conceitos correctos de epidemiologia e estatística, não deixando margem para dúvidas sobre o profissionalismo colocado naquela execução.
Penso que este não é o caso e por isso foi dada "margem de manobra" às Autoridades francesas; não se queixem pois do seu feitio terrible, cuidem antes de emendar a mão, os "técnicos e cientistas" responsáveis pela elaboração dos relatórios.

Não venham, em qualquer caso, lamentar a decisão do Desembargador, que afinal não vai desembargar nada, nem embandeirar em arco em caso contrário.
Já falta pouco, mais logo e quarta-feira será tomada uma decisão pelo respectivo Comité Permanente.
Aceitam-se apostas!

20 de setembro de 2004

MEU CARO MÉDICO

Não é com facilidade que, com uma frequência inusitada, nos vemos confrontados, já nem falo da iliteracia científica, mas da mediocridade intelectual de certos jornalistas e também com a estreiteza mental de quem com eles, por vezes, fala. Não sei se "as luzes dos holofotes" são capazes de bloquear algumas sinapses nervosas mas certo, certinho, é que muito boa gente quando colocada à frente duma câmara acaba por se baralhar, de tal maneira, com a linguagem que utiliza (entre o cientificamente pretensioso e a "banalidade" inteligível pelo cidadão comum), com a colocação no "ângulo mais favorável" (como se o perfil físico tivesse alguma coisa que ver com o "parceiro" intelectual), com o reconhecimento das capacidades e competências (que por ser auto-focada é geralmente distorcida), que na pior das hipóteses deixa tolhido qualquer mortal, quando não suscita um riso a bandeiras despregadas.

Vem a lenga-lenga a propósito da notícia que hoje inundou jornais e televisões sobre a "doença misteriosa" que atingiu mortalmente duas pessoas em Seara – Ponte de Lima.

Diz o Publiconline": "Em comum, os sete casos têm apenas os sintomas (febres altas, manchas amareladas no corpo e coma) e a origem: Seara"... devemos concordar que é uma grande apenas!... e mais à frente: "Duas semanas depois, o marido da senhora foi encaminhado, com os mesmos sintomas, para o CHAM [Centro Hospitalar do Alto Minho]...Em observação, e segundo avançou ontem o director clínico do CHAM, Adriano Magalhães, estão também os dois netos das vítimas. ", que raio, ninguém, entre os habilitados, fez referência aos factores de risco presentes... sempre julguei que com umas "attack rates" e um inquérito bem conduzido já teria sido possível ter pistas bem concretas e se esse é o sentido de análises sofisticadíssimas, a esse não menos mediático e não menos misterioso (para a população em geral) ADN. Então porque não se faz referência ao facto?

Mas aquela peça inclui uma outra preciosidade: "...o delegado de saúde de Ponte de Lima, Emídio Morais, ordenou o abate dos animais domésticos da casa, nomeadamente galinhas e um porco, que também estava doente, pedindo também a remoção dos dejectos animais.", mas tal competência não requer o concurso da Autoridade Veterinária? Mudou a Lei ou a competência legal para determinar o abate de animais, por razões sanitárias, está atribuída exclusivamente à Direcção-Geral de Veterinária? O Delegado de Saúde não sabia ou fê-lo com que concurso das Autoridades Veterinárias? Admitindo que a decisão possa ter sido, na prática, uma boa decisão, pelo risco que aqueles animais pudessem representar, coloca-se uma questão interessante: qual foi o destino dado aos cadáveres? Não me digam que não se preocupou a Autoridade Sanitária em proceder à sua destruição! Se realmente constituíam um perigo em termos de contágio, o seu enterramento (admitindo que o destino foi apenas esse) não será uma fonte de disseminação?
Entretanto o "Correio da Manhã" anuncia que: "O presidente da Junta de Seara, Cândido Afonso, já mandou abater os animais da família (porcos e galinhas), enquanto o delegado de Saúde, Emídio Morais, aconselhou a população da freguesia a não consumir a água dos poços."... enfim ficamos sem saber ao certo quem determinou o "abate sanitário". Afinal foi o Presidente da Junta ou o Delegado de Saúde? Em qualquer dos casos é curiosa a frase, já que a inumação do cadáver sempre poderia estar associada à contaminação freática.

Título no "Correio da Manhã": "Pânico em Ponte de Lima. VÍRUS MATA DUAS PESSOAS"
Título do "Diário de Notícias": "A origem da doença que atingiu 7 habitantes da Aldeia da Seara, em Ponte de Lima, ainda é desconhecida."

Interessante mesmo é como o raio da doença foi apelidada de misteriosa… parece que não havia melhor sinónimo de desconhecida, ou até como o desconhecido foi confundido com o "ainda sem diagnóstico definitivo".

Sem comentários... interpretem como quiserem... aceitam-se comentários!
Em particular do mais popular médico da blogosfera!

16 de setembro de 2004

VETERINÁRIO PRECISA-SE

Um semanário da região de Trás-os-Montes, na sua edição de 3 de Setembro pp., adverte para o perigo de extinção da Raça Mirandesa por haver falta de vitelos para futuros reprodutores....
Com tantos técnicos de gabarito estou certo de que tal não acontecerá, mas parece impor-se alguma observação credível sobre o pressuposto, não vá o diabo tecê-las.
Segundo aquela notícia, os agricultores que fazem parte da Associação responsável pela raça já reivindicam mais subsídios (sempre o subsídio!) ainda que seja quase certo que o problema, a existir, não se resolverá desse modo mas sim pelo cumprimento de certas regras técnicas e administrativas a par da mobilização de vontades e firme convicção – por parte dos agricultores envolvidos – de que a “meia bola e força” habitual não se pode aplicar a um problema deste género.

A culpa é do governo diria a vaca mirandesa Presidente do Sindicato dos Bovino da Raça Mirandesa..... se soubesse falar!
Os veterinários que se acautelem!

14 de setembro de 2004

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA (3) (Dois erros clássicos)

O que se passa na Administração Pública relativamente à desmotivação dos funcionários é confrangedor. Embora se saiba, perfeitamente, que a inépcia dos decisores, inclusivamente na área das relações pessoais, é uma das causas da séria diminuição do desempenho do seu pessoal, o governo continua a não dar importância especial a este nível. Qualquer reforma que se faça não tendo em devida consideração a avaliação destes senhores estará irremediavelmente comprometida.
O governo dos USA – com mais de dois milhões de funcionários – desde há muito que faz uma avaliação pormenorizada das competências necessárias para o desempenho eficaz de qualquer função, não se compreendendo que no nosso país ela não seja feita e que o governo se proponha fazer uma reforma antes de implementar as bases desta avaliação. Esta atitude, só por si, demonstra a pouca (ou nenhuma) importância (falta de competência?) dada a esta questão mesmo ao nível mais alto da AP.
Por isso dizemos que entre nós continuam a ser praticados dois erros clássicos: - Um é pressupor que alguém que possua um qualquer conhecimento técnico especializado sabe, necessariamente, dirigir pessoal mesmo que as pessoas sejam tão diferenciadas como acontece na AP. Não significa que um técnico superior, só pelo facto de possuir uma licenciatura, tenha, necessariamente, capacidade de liderança. O outro erro, este bem mais grave, é partir-se do princípio de que este aspecto nem sequer deve ser discutido porque a decisão é sempre política e como tal quem é nomeado como decisor estará capacitado para decidir e ponto final.
É evidente que não se discute se uma determinada pessoa escolhida pela sua filiação partidária, ou pela sua afinidade política, não possa ser um bom decisor. Condenável é não se avaliar a sua competência em termos de Inteligência Emocional e de liderança antes de ser concretizada a sua nomeação.
É confrangedor ver tanta gente – capaz de efectuar o seu trabalho de maneira eficiente – estar tão descrente e tão desmotivada e acabar por se tornar negligente por o decisor nem sequer saber a importância que uma palavra de estímulo pode ter. Em contrapartida, ele próprio sabe que não será posto em causa porque o seu desempenho não será avaliado, ou que está imune pelo facto de ter sido nomeado por compadrio político.
Não é negligenciando estes aspectos que a nossa AP poderá alguma vez ser eficiente q.b., seja qual for a reforma que se faça.
Haverá algum VET que, sinceramente, duvide disto?

13 de setembro de 2004

VET MUNICIPAL / AMBIENTE

Quem está em contacto permanente com o campo – como acontece com um agricultor ou com um médico veterinário municipal – é quase impossível não reparar em certos factos que se repetem ciclicamente. Estamos a pensar na emigração de certas aves; no cair das folhas de algumas árvores; na construção dos ninhos; no início da floração; em possíveis comportamentos de uma grande série de “insectos” face às condições climáticas, como acontece, por exemplo, com o escaravelho da batata que tem a sua actividade condicionada ao Nº de horas de dia; enfim, num grande número de outros fenómenos.
Na vivência destas pessoas estes fenómenos podem ser tão corriqueiros, tão banais, que podem passar-lhes ao lado sem a sua atenção ser despertada. No entanto, creio, bastará um motivo e uma oportunidade para já não ser assim.
Motivo existe: está em curso uma certa alteração climática donde possivelmente resultarão perturbações em alguns habitats.
Oportunidade também existe, especialmente para o médico veterinário municipal, mesmo muito maior que para um biólogo. Ao médico veterinário municipal – se estiver para aí motivado – será fácil contactar com factos que o alertem para alterações (muito precoces) do ciclo evolutivo ou do habitat (por exemplos) duma carraça, duma ave, ou de uma borboleta......Mesmo que o médico veterinário não tenha tantos conhecimentos especializados como um biólogo, contudo, em relação a ele estará em nítida vantagem visto o problema das oportunidades de contacto com o objecto de estudo lhe ser francamente favorável.

Não há nenhuma alteração a um habitat que lhe tenha chamado a atenção?
Não deu conta de alguma alteração climática susceptível de interferir com a vida dum determinado insecto, por exemplo um mosquito?
Estamos numa época em que a valorização pessoal é indispensável e a competição acesa!

DOBAR A MEADA

É uma das melhores metáforas ao trabalho de equipa e sobretudo ao saber dar e receber.
Dois braços esticados que se agitam e se ajeitam ao ritmo do novelo que se enrola, dando fio a uma velocidade regular e sem deixar que estique ou afrouxe demasiado. Outras duas mãos que giram e reviram sobre si arrumando o fio num fofo novelo, ao ritmo em que a meada se vai libertando, e em pequenas "aduelas" que o não deixam desfazer.
Não sei se por saudades da infância, em que me "fartei" de ajudar a dobar meadas, se pela firme certeza que a maior parte das coisas só funciona se houver espírito de equipa, de dar e receber, o certo é que bem podiam pôr os alunos das Escolas, Faculdades ou Universidades, em particular os cursos de Medicina Veterinária, a dobar meadas durante os quatro anos que dura a licenciatura (sim… com a implementação do
processo de Bolonha vão ser quatro...).

A propósito do processo de Bolonha e relativamente ao Veterinário que se precisa para o futuro, não era nada mau que o ensino/aprendizagem de dobar meadas incluísse alguns princípios básicos:
- dignidade: saber gerir e dirigir uma "organização veterinária";
- responsabilidade: na conduta profissional e ética;
- integridade: no trabalho de equipa e na relação com os colegas;
- honestidade: sobretudo de natureza intelectual;
- sabedoria: das ciências em que se baseia a profissão médico-veterinária;
- humildade: saber quando e a quem pedir ajuda profissional;
- franqueza: na comunicação, com os clientes, os colegas e as autoridades;
- curiosidade: saber manter os conhecimentos profissionais actualizados;
- rectidão: na elaboração de relatórios, na prescrição de medicamentos e na emissão de certificados;
- probidade: na aplicação da lei, seja ela qual for;
Como o calendário de aplicação do processo de Bolonha não espera pelos distraídos, aqui fica a colaboração do Veterinário precisa-se… para esses lembramos que a sua implementação está prevista para 2005-2006, não sabemos é qual vai ser o input da profissão no processo…

11 de setembro de 2004

E VÃO SEIS

Claramente à frente na União Europeia!
Um novo dado estatístico vem colocar Portugal na vanguarda, infelizmente, uma vez mais, não pelas melhores razões.
Não se trata da taxa de analfabetismo, nem das taxas de abandono escolar, nem, tão pouco, das taxas de insucesso dos estudantes do ensino superior, trata-se tão simplesmente de mais um curso de Medicina Veterinária.
Desta vez a iniciativa foi da Universidade Lusófona, anunciando nove protocolos com entidades privadas e instituições públicas.

Somos, de longe, o país da União europeia, provavelmente do mundo, que tem maior número relativo de cursos de Medicina Veterinária. Das duas uma: ou são realmente necessários (o que ninguém no seu perfeito juízo acredita), ou não passam de projectos que se objectivam em si próprios, omitindo o destino que estarão a dar aos futuros licenciados (o que parece realmente verdade).
É mais que sabido que o número de profissionais existentes no país, mau grado algumas carências pontuais e marginais, particularmente no domínio da Administração Veterinária, vai dando e sobrando para as necessidades…
É mais que sabido que o número de profissionais que anda por aí "ò tio, ò tio" a saber de trabalho, é mais que muito…
É mais que sabido que ao contrário do que muitos alegaram no passado, o aumento da oferta não resultou em aumento da qualidade, diria mesmo, antes pelo contrário…
Então onde reside a Autoridade para travar semelhante dispersão de recursos, intelectuais, físicos e financeiros? Para devolver ao "cliente" (pais e alunos) um futuro condizente com as expectativas criadas e o investimento produzido? Para dar à sociedade aquilo que se exige e não aquilo que possam ser, ainda que legítimas, as ambições pessoais ou empresariais de alguns elementos dessa sociedade?
Impressionante parece ser a capacidade da Ordem para manifestar o seu parecer e até dá-lo a conhecer.
Quando surgiu o terceiro projecto de ensino da Medicina Veterinária, patrocinado pelo Instituto de Ciência Biomédicas Abel Salazar, depois de Lisboa (Gomes Freire/Ajuda) e Vila Real (Qta dos Prados), houve um grande sururu com o número de Veterinários que para aí vinham… afinal depois disso viram à luz Évora (Mitra) e Coimbra (Mosteiro de S. Jorge) e agora de novo Lisboa (Campo Grande) e nada!...
Curioso é igualmente o anúncio de protocolos com a Direcção-Geral de Veterinária (DGV), o Laboratório Nacional de Investigação Veterinária (LNIV) e o Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia e Inovação (INETI). Em que se baseiam esses protocolos? Ou são extensões educacionais da Universidade que superam deficiências de ensino do próprio curso, ou são complementares do ensino ministrado e neste caso não se entende o anúncio em si.
Invocar estes tipos de protocolo, sem deixar claro o seu conteúdo, parece configurar publicidade enganosa.
Seja como for, deixo apenas um motivo de reflexão: porque será que países com a dimensão populacional semelhante à de Portugal e até maiores, não têm, nem de perto, nem de longe, tão grande número de cursos de Medicina Veterinária?

8 de setembro de 2004

VETERINÁRIO PRECISA-SE

Para exterminação de praga de carraças...
A notícia que há dias subiu ao ecrã da televisão (pelo óculo da TVI, salvo erro), não seria digna desse destaque, mesmo considerando o insólito da circunstância: associado à morte de dois cachorros, umas dezenas de carrapatos "emigrou" para outras paragens, naturalmente em busca de um novo senhorio...

É uma daquelas notícias que geralmente ocorre na emissão dos "tele-regionais", com um impacto não desprezível, a esse nível, exactamente por falar e mostrar, de pessoas e locais "bem conhecidos".
Também, por este motivo, se esperaria que a notícia abordasse duas perspectivas interessantes: os aspectos técnicos decorrentes do Bem-Estar Animal, já que a morte dos canídeos pareceu estar associada a negligência grosseira dos donos e as consequências que poderiam ocorrer no domínio da Saúde Pública.
Esperava-se que o jornalista recorresse ao douto parecer do Médico Veterinário Municipal. Na verdade quem melhor estaria em condições de tecer considerações sobre os aspectos de Bem-Estar Animal e de Saúde Pública? Não temos a mínima dúvida: a Autoridade Sanitária Veterinária Concelhia!
Mas não... ao jornalista só lhe terá ocorrido pedir a opinião do Delegado de Saúde, que por sinal se encontrava de férias (não se sabe se o jornalista terá solicitado a presença do substituto).

Ficamos na incerteza sobre o papel do Médico Veterinário Municipal.
Será que o canal televisivo em causa desconhece a existência desta Autoridade? Se for este o caso caberia à Autarquia colmatar essa falha e até mesmo à Ordem profissional emitir reparo ou de qualquer modo desenvolver iniciativa nesse sentido.
Não sabemos o que aconteceu! Alguém nos pode esclarecer?
Será que não foi sequer considerado o eventual recurso à Autoridade Sanitária Veterinária Concelhia? Mesmo sabendo-se da sua existência? A ser assim o caso parece ainda mais grave pois a "Autoridade" só o é em termos formais, na realidade ela não foi reconhecida. Neste caso não se justificaria igualmente uma intervenção da Edilidade e da Ordem, no sentido de repor esse reconhecimento?

Ou será que na Câmara Municipal de Cantanhede não há lugar (ou não está preenchido) de Médico Veterinário Municipal?
Também não sabemos! Alguém poderá esclarecer?

7 de setembro de 2004

difficile est saturam nom scribere

É preciso também saber usar a cabeça, que sobretudo num vet deve fazer uma grande diferença da dos animais.
vetatento

É difícil não escrever sátiras… de facto, numa sociedade como a nossa.
Seria essencial usar a cabeça, ou melhor a massa cinzenta. Seria importante que:
- a actualização de conhecimentos fosse efectiva e não apenas um conjunto de diplomas;
- os certificados correspondessem à verdade;
- a prescrição fosse dirigida apenas a animais que pessoalmente se acompanhou;
- a abstenção de publicitar ou propagandear a actividade fosse real.

6 de setembro de 2004

DESCUBRA AS DIFERENÇAS

Estas duas imagens são diferentes em oito pequenos detalhes, Será que os consegue descobrir?


(soluções em próximo post) Posted by Hello

NÃO ESTAMOS SÓS

Diz a National Aeronautics and Space Administration (NASA) ter descoberto uma nova classe de planetas extra-solares: rochosos do "tipo Terra", orbitando em torno de um sol e de uma dimensão do "tipo grande Terra".
"Ultrajante…" afirma Nuno Santos, astrónomo português que integra a equipa do European Southern Observatory (ESO), que em 22 de Agosto passado anunciara o mais característico daqueles planetas até hoje descoberto… atrapalharam-se os americanos por chegarem "um pouco" depois…
Não é para admirar: quem disse que, também nos meios científicos, não há ciúmes, nem invejas?
Polémicas à parte, estão de parabéns a ESO, a sua equipa e o "nosso" Nuno Santos.
O projecto de pesquisa deste tipo de planetas, semelhantes à Terra, visa a identificação de condições para a vida fora do Sistema Solar; não confundir com extra-terrestres (ET).

Aliás, a propósito de confusões, nada de baralhar com a sigla VET… não! Não se trata de Veterinários Extra-Terrestres! Embora os haja que são igualmente difíceis de encontrar: nos municípios, no local de abate (on the spot…), no momento da emissão de um certificado, da colheita de uma amostra para exame, de constatar as condições físicas de recepção de produtos alimentares.
Aposto que é mais fácil o astrónomo Nuno Santos encontrar um exo-planeta que alguns desses VET, de qualquer modo aqui fica a nossa mensagem para esses:


This plaque was launched with Pioneer 10 and 11 in 1972 and 1973 respectively. It was designed to explain to 'scientifically literate' aliens when the Pioneers were launched, who launched them, and where they came from.

Cá ficamos aguardando alguma mensagem de resposta ao nosso apelo, pois sabemos que não estamos sós…

4 de setembro de 2004

UM COELHO DA CARTOLA

O anterior governo, pela mão do Primeiro-Ministro, Durão Barroso, do Ministro da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas, Sevinate Pinto e do Secretário de Estado Adjunto e das Pescas, Frazão Gomes, propunha-se apresentar uma "reforma" do Sector Público Administrativo que tutela os "assuntos veterinários".
A proposta previa uma boa clarificação das diferentes componentes e das diferentes responsabilidades do sector: a Agência para a Qualidade e Segurança Alimentar (AQSA), responsável pela avaliação e comunicação dos riscos no âmbito da segurança alimentar; a Direcção-Geral de Veterinária e Alimentação, como Autoridade Sanitária Veterinária Nacional e por isso responsável pela gestão daqueles riscos e a Inspecção-Geral de Alimentação, responsável pelo "policiamento" das actividades contrárias à Lei, sempre no domínio da Segurança Alimentar.
Com a tomada de posse do governo liderado por Santana Lopes e tendo particularmente em conta o perfil da actual equipa de governantes no Ministério da Agricultura, não foi sem surpresa que no seu sítio fomos dar com a intenção de cumprimento da Resolução do Conselho de Ministros n.º 131/2002.
Aliás a notícia é ainda mais surpreendente, o Conselho de Ministros de anteontem (2 de Setembro) aprovou a Lei Orgânica da APSA (afinal mudou de nome… nós que gostávamos tanto de AQSA…), é caso para dizer que saiu um coelho da cartola…

3 de setembro de 2004

METE-ME CÁ UMA RAIVA…

Um caso de raiva num cachorro está a deixar a França em polvorosa… é que o animal (este aqui)

terá "pregado" algumas dentadas e distribuído outras tantas mordidelas, supondo-se que as mesmas tenham tido consequências graves para as vítimas.
O alerta do Director-Geral de Saúde francês dirige-se a todos os potenciais "mordidos", pois que o animal andou com o dono por diversos festivais de verão do sudoeste de França e sabe-se lá quantas vezes terá feito o gosto ao dente… ainda por cima numa população deslocalizada, implicando aspectos de natureza epidemiológica muito interessantes, bom… não na óptica dos mordidos.
É que Gilles Brucker, Director-Geral do Instituto de Vigilância Sanitária francês, declarou que a raiva é "…a única doença infecciosa mortal a 100%...", ainda bem, pois que se fosse mortal aí a uns 80% não seria caso para tanta preocupação...
Como o caso envolve uma população desconhecida e potencialmente incluindo estrangeiros, o alerta foi já generalizado pela Comissão Europeia a todos os Estados Membros… atenção portugueses! Quem foi até França a algum dos festivais de verão (Périgueux - 5/8; Miramont de Guyenne - 7 a 8/8 e Libourne - 12 a 14/8) e ainda não esqueceu aquela ferradela irritante do cão do vizinho…
DIRIJA-SE RAPIDAMENTE AO CENTRO DE SAÚDE MAIS PRÓXIMO E INFORME AS AUTORIDADES!
Aqui fica o nosso contributo!
Para a gravidade do caso parece que pouca foi a publicitação dada… o que dizem as Autoridades sobre o caso? Uma espreitadela ao site do Ministério da Agricultura, do Office International des Epizooties, da Comissão Europeia e da Autoridade francesa é esclarecedora…
notícias só nas "páginas" da Comissão e do Instituto de Vigilância Sanitária Francesa… e o que dizem os profissionais? Bom a Ordem dos Médicos Veterinários, nada… a Federação dos Veterinários da Europa, também não…

Mas a história não acaba aqui! O animal em causa foi importado irregularmente de Marrocos em Julho passado, facto que levanta, uma vez mais, a questão pertinente dos passaportes de animais de companhia (designadamente cães e gatos).
Alguém conhece o passaporte português? O Veterinário Precisa-se… não! Nem tão pouco o modelo a utilizar em toda a União Europeia! O que pensam os Médicos Veterinários dessa questão? Aceitam-se sugestões, opiniões e palpites!
O que pensam as Autoridades portuguesas sobre o tema? Desconheço! Tanta falta de iniciativa mete-me cá uma raiva...

VETERINÁRIOS ANÓNIMOS

Só por brincadeira se poderia pensar tratar-se de uma analogia com os alcoólicos anónimos… de facto a natureza anónima dos alcoólicos visará salvaguardar o ostracismo social, constituindo também fundamento espiritual da auto-estima e do respeito por princípios.
Não tememos o ostracismo, embora nos pautemos por princípios, afinal nem estamos em Atenas, nem sujeitos à "assembleia do povo", nem tão pouco abdicamos do direito à crítica… séria, honesta e responsável e isso não é solúvel no anonimato.
O poder dos argumentos vale mais do que as individualidades que os esgrimam, embora por cá nem sempre assim seja e muitas vezes a exposição dos argumentos começa por: não sou eu que o digo, mas sim Beltrano…
Não que o anonimato deste blog seja motivado por esse tipo de pudor, de facto não… ele é produzido por anónimos, nada intelectuais ou aristocráticos… apenas cidadãos e profissionais atentos às questões que os afligem dia-a-dia.
Não confundimos o direito à crítica com a injúria ou a ofensa, e essa é objectivamente uma fronteira que estabelecemos, sem grande dificuldade, não sentindo sequer necessidade de a impor… esse é um princípio básico pelo qual nos pautamos, fluindo, por isso, intuitivamente.
Faz parte daquela fronteira um outro valor: o da verdade, do fundamentado… mais do que firmes convicções (essas também existem), os argumentos assentam na verdade dos factos ou são sustentados pelos dados e essa verdade vale mais que o anonimato, direi mesmo que está muito acima dele e por isso, muito para além das "individualidades" que defendem esta ou aquela perspectiva das coisas.
Nem por isso a crítica deixa de ser mordaz, porque irónica ou jocosa, bem-humorada, valorizada por esse destaque e nesta perspectiva por vezes satírica, mas nunca ofensiva, em transgressão ou difamatória.
Infelizmente também não é o anonimato que nos põe a salvo das angústias e ansiedades que os temas que abordam suscitam, mas a forma responsável como os encaramos.
Não é uma intervenção clandestina, embora resista contra alguns poderes instalados, mas nem por isso sugere qualquer promessa de futura quebra do anonimato, ainda que contrariando esses "poderes".
Mesmo correndo o risco de injustificado, o anonimato continuará a ser o condimento deste blog, mas sempre responsável, verdadeiro, bem-humorado e não ofensivo.
Estamos de volta.

11 de fevereiro de 2004

SOCIEDADE DO FUTURO

O futuro alicerça-se no que ficou do passado, mas também naquilo que se vai fazendo e nas consequências do que, por incúria, se deixou de fazer. Por isso nos preocupamos com o tipo de sociedade que aí vem.....
Dum modo geral vive-se num frenesim constante que, por um lado e por vezes, nos impele para atitudes impensadas e, por outro, leva-nos ao desinteresse e sempre à revolta quando a vida nos pressiona um pouco mais do que o habitual. A maior parte de nós quase desespera quando as coisas desejadas não aparecem rapidamente, como acontece quando se pressiona sem sucesso um qualquer botão duma qualquer maquineta electrónica. Sobretudo na juventude nota-se este tipo de impaciência que muitas vezes é traduzida em desistências de vária ordem ou em atitudes de demasiada contestação emocional, embora todos saibamos que a vida não é um mar de rosas..... A falta de treino para suportar as contrariedades desta vida agudiza esta situação.
Vivemos numa época de mudanças rápidas, entre um passado que estava estagnado e um presente que nos empurra para atitudes radicais, num contraste de extremos muito grande. Quase a ninguém estranha que se ponha em dúvida se as pessoas podem livremente degradar-se, prostituir-se, drogar-se, ou suicidar-se sem que o Estado nada tenha a ver com isso, ou se, pelo contrário, o Estado deve fazer chegar o seu braço até aí, advogando um papel social, ainda que nem sempre cumpra com este mesmo papel em outros campos, quiçá mais importantes....
Pessoas com grande responsabilidade perante os seus concidadãos por seus escritos serem lidos por muita gente esquecem-se disso e manifestam opiniões que mais agravam a situação actual, ou, na melhor hipótese, em nada contribuem para lançar os alicerces adequados a mudanças equilibradas.
Assim, parece que o Estado apenas sabe exercer a sua intervenção directamente, como que querendo traçar previamente os moldes em que as mudanças hão de surgir - parecendo querer intervir cada vez mais na vida de cada um de nós - em vez de exercer a sua função burilando o que já está feito e aqui ou além introduzindo algumas novas influências.
Ao caminhar-se no sentido actual e considerando a tendência para o radicalismo, em breve chegaremos a uma situação em que o Estado será omnipresente.
Será um devaneio do socialismo democrático, ou será isto o que a maioria deseja?

9 de fevereiro de 2004

SANTINHO

Olh'ó nitrofurano barato… é p'rá acabar…
Quem dizia que os nitrofuranos estavam acabados? Pelos vistos a venda ilegal continua... E, fico perplexo, foi a Inspecção-Geral das Actividades Económicas (IGAE), numa joint-venture com o Instituto da Farmácia e do Medicamento (INFARMED), que concretizou as apreensões… tendo em conta a crónica falta de fiscalização do cumprimento da Lei, não será esta apenas a ponta do iceberg?
As apreensões foram feitas na zona das Caldas da Rainha, mas não parece que as substâncias estivessem escondidas em nenhum ex-libris local... antes pelo contrário, ali mesmo, aos quilos, em estabelecimentos clandestinos, sob a forma de pó, comprimidos… muito do material nem sequer se sabe o que será… mas as suspeitas recaem sobre os pobres nitrofuranos e os, cada vez menos famosos, antibióticos.
Como "de Espanha nem bom vento nem bom casamento", também agora a poeirada se suspeita ter aquela origem e provavelmente através de uma network criminosa, bem organizada, a que o Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) não vai dar tréguas.
Pelo menos 90 processos-crime já estão instaurados e continuam em investigação, embora ainda sem acusação formada… como os processo que a Ordem dos Médicos Veterinários prometeu… instaurados, mas ainda sem acusação formada… ou arquivamento (parece o mais provável).
Vejamos… se o raio das substâncias está proibido (embora a sua eventual utilização, mesmo em animais destinados ao consumo público, seja discutível… mas quem somos nós para dizer isso…), mas aparentemente continuam a ser utilizadas, porque raio de razão, das análises aleatoriamente promovidas no âmbito do Programa de pesquisa de resíduos, só resultam resultados negativos?
Serão circunstâncias estatísticas especiais? Será do nível aleatório da amostragem? Ou será devido a qualquer outra razão?
Subsistirá sempre a dúvida, que se espera brevemente esclarecida: os assistentes das explorações serão assim tão distraídos que não se apercebem da incorporação nas farinhas? O que pensa o Governo do assunto? não se justificam medidas urgentes?
Ainda nos vão dizer que a gripe aviaria não passa afinal de uma alergia a tanta poeirada… se as galinhas espirrassem… era caso para dizer: santinho!

8 de fevereiro de 2004

A CRISE DOS 4 EFES

De há muito que vem crescendo na população a falta de confiança nos partidos políticos e actualmente pode dizer-se que a própria democracia representativa está a ser posta em causa. Não foram as notícias vindas ultimamente a público sobre corrupção que desencadearam este sentimento; não é um fenómeno recente. O que parece é que os políticos têm andado distraídos....Os cidadãos, em geral, puseram grandes esperanças na Democracia Representativa, mas estão cansados de esperar pela sua consolidação e descrentes da vontade dos próprios Partidos para que isso aconteça. E, mais vezes do que o saudável, já admitem que os políticos não a desejam melhorar e que preferem envolver-se em lutas de poder pelo poder em vez das que são de interesse para todos nós. São exemplo as contradições em que os deputados caiem quando produzem justificações a coberto da disciplina partidária, ou quando mudam de atitude e de opinião conforme estão no poder ou na oposição; o interesse focado nos cidadãos só na ocasião dos períodos eleitorais; as concessões “ negociadas” para aprovação do OE, da própria Constituição; etc. Em relação ao Governo, são notórias as actuações tipo bombeiro (atacar os incêndios e não as suas causas); as promessas não cumpridas; e, entre mil e uma outras coisas, a falta de estratégias adequadas para a “agricultura” e para a “transmissão de conhecimento”, por exemplo; a falta de fiscalização em vários sectores; a quase indisponibilidade para garantir a segurança das pessoas contrastando com as garantias dadas ao capital financeiro; etc., etc. Em relação ao poder local também são inúmeras as circunstâncias nas quais se radica a crise de confiança, entre elas a permanente indiferença (ou mesmo desprezo) quanto a uma maior participação das populações na vida da comunidade quando essa mesma participação poderia ser conseguida facilmente utilizando melhor a existência das Juntas de Freguesia, etc. Enfim, existe um grande número de motivos para criar no nosso coração a falta de confiança, mas mais confrangedor é assistir-se à total indiferença dos políticos, a tal ponto que essa indiferença acaba por tornar ridículas as próprias “referências” feitas pelo Senhor PR....Tudo isto concorre para o povo, com a sua tradicional sabedoria, se convencer de que, afinal, o Sistema está mais interessado no poder pelo poder do que lutar pelo que é de maior interesse para a Nação.
É previsível que em breve se assista a numerosas declarações de intenção sobre Democracia Participativa e tentativas de justificação relativas aos referendos: o que contrariou o da Regionalização e já habilidosamente contornado; o respeitante ao aborto, e aos que dirão respeita à nossa própria Constituição e à da UE.
O povo continua meio anestesiado pelo futebol, mas, em boa verdade, pode-se considerar dividido em quatro grandes áreas de interesse dos 4 efes: - futebol das massas; finanças do grande capital; farola dos políticos; o quarto não digo qual é....

5 de fevereiro de 2004

RETRATO DE FAMÍLIA

Quando na Actividade Privada se conclui que este ou aquele empregado apresenta um rendimento mais baixo que o habitual logo há um responsável que procura a causa, dependendo do nível da empresa e da importância do problema, evidentemente, porque a causa pode estar no próprio seio laboral e - a persistir - levará ao abaixamento do rendimento de outro ou de mais outros trabalhadores......Ao nível dos quadros superiores existe também muita preocupação a este respeito.
Como é óbvio, este mesmo problema existe também na Administração Pública, ocorrendo muito mais do que seria razoável, só que nesta “empresa” as chefias – desde as mais baixas até às de topo – não se preocupam, ou quando se preocupam não são apoiadas, ou mesmo saem do processo mais frustradas do que no início por falta de apoio, de compreensão e de possibilidade prática para o resolver convenientemente.
Quem nas chefias da Administração Pública está preocupado com o baixo rendimento deste ou daquele funcionário, mesmo deste ou daquele grupo inteiro de funcionários? Quer o recrutamento das chefias seja feito com base num concurso público, ou por escolha, nunca vi – durante os meus largos anos na Função Pública – ser dada qualquer importância aos problemas relacionados com a Inteligência Emocional, nalguns quadros superiores completamente ignorada, ou até vilipendiada.
Agora que está à porta uma reforma da AP, já deram conta da preocupação para resolver esta gravíssima realidade? Apesar de toda a atenção, apenas me foi dado constatar preocupações respeitantes à defesa daquilo que eu classifico como prerrogativas de natureza sindical, para logo de seguida se manifestar algum interesse quanto à melhoria da produtividade e eficiência, como se estes factores estivessem em planetas diferentes. Esperemos que haja bom senso e que as alterações não girem apenas à roda de melhores instalações, novo mobiliário, melhores ajudas de custo, mais viaturas, etc.
Se na reforma anunciada não for levada em consideração a I E no que concerne às chefias e não existirem soluções adequadas às causas dos os problemas, estou certo de que tudo continuará na mesma logo que passados os primeiros meses da euforia......É que a moldura poderá ser diferente, mas o “RETRATO DE FAMÍLIA” será o mesmo!

3 de fevereiro de 2004

ARMAS DE VACINAÇÃO MACIÇA

Quando se fala e se perspectiva adoptar uma campanha de vacinação, logo dois coros de "cientistas" se perfilam: um, que de alma e coração se coloca a favor, depressa e em força, e outro, que com igual veemência, chama a atenção para a necessidade de controlo dos inconvenientes ou mesmo sublinhando a impossibilidade que esses contras sugerem à aplicação de um certo imunogénio.
A este propósito, a comunidade científica também não mantém a mente aberta, o quanto baste, na busca da decisão mais equilibrada, face à situação real, nas suas vertentes técnica, social e económica, tendo em conta o compromisso com a sociedade a que se dirige.

Vem tudo isto a propósito da vacinação maciça do efectivo ovino e caprino de Trás-os-Montes contra a brucelose, com REV1, aplicado por via conjuntival.
Por muito que este "velho do Restelo" se ponha aqui a perorar, o certo certinho é que o número de abates sanitários se reduziu a valores nunca vistos (porque a vacinação suspendeu o rastreio), invocando os responsáveis, com algum atrevimento, que até o número de casos de brucelose entre a população diminuiu (deve ser porque a vacina cura…).
O tempo falará por si… e quando vierem à tona todas as falências em que a esta vacinação se enxertou, inevitavelmente sobrará sempre a desculpa que alguma coisa era necessário fazer, segundo uma lógica que sempre é pior não decidir que decidir mal.

Para já, para já, aqui ficam algumas pérolas avulsas sobre o assunto… Como já lá vão dois anos e meio desde o início da vacinação, impõe-se agora saber o que fazer aos animais vacinados… que maçada… bom, conforme mandam as regras há que rastrear a doença, de novo, e livrarmo-nos dos positivos (supostamente infectados).

Começam os problemas, porque qualquer que seja o critério a adoptar, com base nos testes laboratoriais de diagnóstico que eventualmente venham a ser adoptados, subsistem a priori, vários problemas: o dos animais que foram vacinados, mas sabe-se lá quando… o dos animais que supostamente foram vacinados, mas relativamente aos quais não se sabe realmente se o foram ou não… o dos animais que ninguém conseguirá identificar… aqueles outros que possam ter sido marcados (tatuados) em local, que não o de eleição, e por isso escaparão a essa identificação… já para não falar daqueles que serão identificados como não vacinados, mas que de facto o foram, ou aqueles que venham a ser abatidos para consumo, supostamente importados desde Espanha!
Seja como for, como só passaram… nalguns casos três anos… a Autoridade Veterinária chegou à conclusão que é urgente definir-se o que fazer aos animais reagentes, até porque admite a detecção dos 7% de positivos (mais coisa, menos coisa, e contando com os não contabilizados, serão uns 15 ou 20%... não liguem, isto são exageros aqui do Veterinário precisa-se…).
Assim, para que não haja dúvidas, o caso nem é para ser discutido ou sequer explicado aos Veterinários de serviço (que aliás parecem digerir a coisa com bastante complacência), a metodologia a seguir é simples… é só ter em conta a ligação da célebre Agar Gel ImunoDifusão (AGID) à não menos desconhecida Fixação do Complemento (FC)!!!???...

E de uma penachada se resolve um problema científico até agora sem solução: distinguir, por testes laboratoriais correntes, seropositivos em resultado de uma vacinação ou de uma infecção… e dizem estes que a coisa é impossível…: "Dessa forma, os resultados obtidos não estimulam o uso da prova de imunodifusão em gel de ágar, utilizando como antígeno extrato polissacarídeo de parede de Brucella (POLI O) como técnica diagnóstica de rotina, em virtude de sua baixa sensibilidade, o que possibilita manter animais infectados no rebanho e favorece a disseminação da doença.".
Pois… mas para a Autoridade Veterinária a prova de AGID permite a diferenciação de animais vacinados com REV1 dos animais infectados e (até esta pasme-se) dos animais que estão a excretar brucella.

É verdade que nos bovinos, segundo nos dizem do Brasil, a AGID parece ser "…uma prova de diagnóstico útil para identificar animais seropositivos, naturalmente infectados, de animais vacinados com diferentes doses reduzidas de B. abortus S19…" mas ainda assim salvaguardando a necessidade de investigações adicionais, pelo que a generalização da "ciência" nacional nos parece, no mínimo… atrevida…
Não sei porque não se atreveram a ter em atenção a experiência de França…, talvez pelas influências de Espanha….

Em qualquer dos casos, e já não seria mau se o assunto pudesse ser discutido com os Médicos Veterinários envolvidos, subsiste o mistério na atribuição do mesmo valor de diagnóstico da AGID com a FC, desde que o título desta última seja superior a 66 Unidades Internacionais de Aglutinação.

Nem as Autoridades de serviço se comparam à CIA, nem a Al-Qaeda de prepara para produzir REV1 em massa, mas se George W. Bush soubesse, David Kay não precisava ter reconhecido: "Enganámo-nos todos"…

2 de fevereiro de 2004

OLHAR AS ESTRÊLAS

No ambiente em que vivem os seres vivos (animais e plantas) originam-se “acontecimentos” que se traduzem por um conjunto de formas, de cores, de odores, cantos, etc., mas que, na realidade, lhes fornecem “sinais”. Estes, porém, não têm, evidentemente, o mesmo significado para todos os seres vivos e para o Homem ainda menos porque desde há muito ele perdeu essa faculdade; deixou de saber fazer a “leitura” desses mesmos sinais.
As plantas captam avisos da radiação solar, da tensão dos gases atmosféricos, etc; os insectos como, por exemplo, as abelhas, decifram mensagens cromáticas e olfactivas que as flores emanam; os carnívoros decifram a passagem das presas pelos rastos, odores e sons; mas o Homem comum já nem sequer sabe olhar para as estrelas.....
Tais avisos, contudo, entenda-se, não são informações emitidas pelo ecossistema; são, isso sim, o resultado dos vários acontecimentos que ocorrem no pequeno mundo constituído pela totalidade dos organismos que o ocupam e onde se relacionam entre si e com o meio ambiente (ecossistema). Uns são casuais, outros repetitivos e regulares como o nascer do sol (ciclo dia/noite), as marés, etc. Alguns destes ciclos são mais rápidos (bi-diários como as marés); outros mais lentos (estações do ano) e outros tão lentos que não há memória das suas ocorrências (glaciares).
A gravitação que o sol exerce sobre o planeta que habitamos, o circuito feito em torno do sol e a sua rotação sobre si mesmo, criam uma ordem cíclica que o mundo vivo, desde há milhões de anos, incorporou como propriedade da sua organização fisiológica. Os seres vivos, mesmo não tendo consciência do facto, possuem a capacidade de “medir”o tempo e de se organizarem em função disso.
Os chamados ciclos da biosfera (geoclimáticos, atmosféricos, etc.) ficaram, ao longo dos milhões de anos da evolução, bem interiorizados em cada indivíduo vivo, acabando a periodicidade desses ciclos por comandar as suas actividades fundamentais (alimentação; repouso; reprodução), de tal maneira que, na maioria dos tecidos do corpo, a maior parte das células divide-se ao entardecer e durante a noite e não durante as horas do dia, por mais estranho que possa parecer.
Qualquer agricultor, ou pessoa que faça a sua vida no campo, não pode deixar de reparar em determinados factos que se repetem ciclicamente, como, por exemplo, a emigração de algumas aves e a construção dos ninhos. o início da floração; o fim da hibernação do texugo; a queda das folhas de algumas árvores; etc.
No entanto, sabe-se que os fenómenos de índole social (solidariedade, egoísmo, inveja, ganância, organização, tolerância, etc.) nunca chegarão a influenciar a evolução global da nossa espécie sob o ponto de vista biológico, não só porque são fenómenos que aparecem com uma aceleração muito grande, mas também porque o próprio homem lhes vai introduzindo alterações de vária ordem.... Mas é pena que assim seja – passe a ironia – porque seria muito interessante que se pudesse verificar as diferenças de ordem física, fisiológica e mental entre o Homem Lusitano actual e entre este e cada um dos “especializados” na interpretação dos “sinais” de índole social... Um dos factos mais interessante seria analisar a capacidade deste Novo Homem Lusitano para interpretar os sinais de ordem política que muito provavelmente já andam por aí...... Talvez se formos para Marte, face às novas condições gravitacionais, surja um novo Homem mais solidário, mais tolerante, mais crítico e menos oportunista. Digamos, o Homem Lusitano Utópico!

VÉNUS…

Faltam 126 dias… para puder ver algo que ninguém vivo alguma vez testemunhou.
Parece charlatanismo. Mas não é… não mande dinheiro agora… ah ah ah ah…

Retomemos a seriedade, porque o assunto a merece, chamando a atenção do curioso leitor para o extraordinário fenómeno (?) que o planeta Vénus oferece neste ano da graça de 2004.
Para os mais "distraídos", comecem por olhar o céu ao anoitecer… para esse lado não… mais para Sul e agora para a direita… isso… sudoeste, mais ou menos onde o Sol de põe. Está a vê-la? Essa "estrela" brilhante bem alto no horizonte é, nada mais, nada menos, que o planeta Vénus… para os interessados aqui fica o respectivo planisfério (zero graus de longitude ao centro).
Antes de começar a pensar que aí está algum mau presságio, note que mais uns meses e o raio da "estrela" se apagará… porquê? É simples…

Imagine uma pista de atletismo circular, onde você corre na pista 3, e outro atleta (de nome Vénus) corre na pista 2… pelo efeito décalage (a sua pista tem uma curvatura maior) mais tarde ou mais cedo você vê o seu companheiro de corrida ora mais afastado ora mais próximo de si, formando um ângulo maior ou menor com o centro do campo (onde está o brilhante Sol), deixando-o de o ver devido à proximidade do Sol ou por estar exactamente atrás dele ou mesmo à sua frente…
É assim que, a 29 de Março, Vénus atinge a elongação máxima (maior distância do Sol, segundo a percepção da Terra)… para os supersticiosos é aproveitar para umas emanações venusianas… e, exactamente a 8 de Junho, ocorrerá algo que não se regista desde há 112 anos: Vénus "mergulha" no Sol, passando à sua frente e alinhado com a Terra, numa espécie de minúsculo e parcial eclipse do Sol, sendo o trânsito visível em Portugal desde a madrugada (aurora) até às 12h30… marque na sua agenda…

E como estes fenómenos acontecem raramente, calcula-se que o mesmo venha a ser concomitante com o aparecimento dos renovados e verticalizados Serviços Veterinários.

1 de fevereiro de 2004

Absque argento omnia vara

Contratem um homem de negócios, um gestor, um profissional competente em marketing para director executivo da ORDEM. Paguem-lhe o que for preciso, (10.000, 20.000 euros) aumentem as quotas à maralha, ponham a industria farmacêutica a sponsorizar, eu sei cá! Roubem a Manela. Puxem pela pinha e promovam a classe, porra! Não deixem a classe nas mãos de Vets funcionários públicos que de tudo sabem e de nada percebem...
Take Five

Nada se faz sem dinheiro, mas sem inteligência também não… De qualquer modo o recado fica dado… a quem de direito! Apenas três recados:
a) Não se metam com a Ministra das Finanças… mantenham as finanças em dia e o fisco longe!
b) Se optarem por qualquer tipo de sponsor, não se esqueçam de duas coisas importantes: usem de transparência nesses financiamentos, para que todos saibamos quem financiou o quê e não fiquem dependentes do mesmo.
c) Definam bem o perfil desse Director Executivo… cuidado com os homens de negócios.