2 de fevereiro de 2004

OLHAR AS ESTRÊLAS

No ambiente em que vivem os seres vivos (animais e plantas) originam-se “acontecimentos” que se traduzem por um conjunto de formas, de cores, de odores, cantos, etc., mas que, na realidade, lhes fornecem “sinais”. Estes, porém, não têm, evidentemente, o mesmo significado para todos os seres vivos e para o Homem ainda menos porque desde há muito ele perdeu essa faculdade; deixou de saber fazer a “leitura” desses mesmos sinais.
As plantas captam avisos da radiação solar, da tensão dos gases atmosféricos, etc; os insectos como, por exemplo, as abelhas, decifram mensagens cromáticas e olfactivas que as flores emanam; os carnívoros decifram a passagem das presas pelos rastos, odores e sons; mas o Homem comum já nem sequer sabe olhar para as estrelas.....
Tais avisos, contudo, entenda-se, não são informações emitidas pelo ecossistema; são, isso sim, o resultado dos vários acontecimentos que ocorrem no pequeno mundo constituído pela totalidade dos organismos que o ocupam e onde se relacionam entre si e com o meio ambiente (ecossistema). Uns são casuais, outros repetitivos e regulares como o nascer do sol (ciclo dia/noite), as marés, etc. Alguns destes ciclos são mais rápidos (bi-diários como as marés); outros mais lentos (estações do ano) e outros tão lentos que não há memória das suas ocorrências (glaciares).
A gravitação que o sol exerce sobre o planeta que habitamos, o circuito feito em torno do sol e a sua rotação sobre si mesmo, criam uma ordem cíclica que o mundo vivo, desde há milhões de anos, incorporou como propriedade da sua organização fisiológica. Os seres vivos, mesmo não tendo consciência do facto, possuem a capacidade de “medir”o tempo e de se organizarem em função disso.
Os chamados ciclos da biosfera (geoclimáticos, atmosféricos, etc.) ficaram, ao longo dos milhões de anos da evolução, bem interiorizados em cada indivíduo vivo, acabando a periodicidade desses ciclos por comandar as suas actividades fundamentais (alimentação; repouso; reprodução), de tal maneira que, na maioria dos tecidos do corpo, a maior parte das células divide-se ao entardecer e durante a noite e não durante as horas do dia, por mais estranho que possa parecer.
Qualquer agricultor, ou pessoa que faça a sua vida no campo, não pode deixar de reparar em determinados factos que se repetem ciclicamente, como, por exemplo, a emigração de algumas aves e a construção dos ninhos. o início da floração; o fim da hibernação do texugo; a queda das folhas de algumas árvores; etc.
No entanto, sabe-se que os fenómenos de índole social (solidariedade, egoísmo, inveja, ganância, organização, tolerância, etc.) nunca chegarão a influenciar a evolução global da nossa espécie sob o ponto de vista biológico, não só porque são fenómenos que aparecem com uma aceleração muito grande, mas também porque o próprio homem lhes vai introduzindo alterações de vária ordem.... Mas é pena que assim seja – passe a ironia – porque seria muito interessante que se pudesse verificar as diferenças de ordem física, fisiológica e mental entre o Homem Lusitano actual e entre este e cada um dos “especializados” na interpretação dos “sinais” de índole social... Um dos factos mais interessante seria analisar a capacidade deste Novo Homem Lusitano para interpretar os sinais de ordem política que muito provavelmente já andam por aí...... Talvez se formos para Marte, face às novas condições gravitacionais, surja um novo Homem mais solidário, mais tolerante, mais crítico e menos oportunista. Digamos, o Homem Lusitano Utópico!

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