29 de outubro de 2004

"LÍNGUA AZUL EM FUNDO ESCURO"

O colega Fernando Estrella e Silva perdoar-me-á por abusivamente dar a este posto título do trabalho que em Novembro de 1956 (a brincar quase lá vai meio século), submeteu à então Direcção-Geral dos Serviços Pecuários, para o concurso de Literatura Veterinária.

Vêm a efeméride a propósito da recente ocorrência de língua azul no Alentejo e das habituais subsequentes medidas urgentes da actual Direcção-Geral de Veterinária.

Salvaguardadas as devidas distâncias, afinal a DGV já nem promove qualquer concurso... nem produz pareceres como aquele com que injustamente foi "brindado" o trabalho do Dr. Estrella e Silva... ao invés mantém uma supina distância dos profissionais, tomando decisões cada vez mais de gabinete... parece-me da mais elementar oportunidade recordar um trabalho que deveria ser de leitura obrigatória para todos os estudantes de Medicina Veterinária e já agora para todos os assistentes e professores da arte que por aí pululam.

O sentido ético, científico, deontológico e até estético do trabalho merece uma reedição. Se a Sociedade Portuguesa de Ciências Veterinárias não puder ou não quiser, espera-se que do Sindicato Nacional dos Médicos Veterinários ou da Ordem dos Médicos Veterinários haja uma reacção.

O grande "problema" é que a obra continua actual... actualíssima, veja-se a falta de integridade intelectual emergente em reuniões científicas como no fim-de-semana passado...

28 de outubro de 2004

UM “NOVO PORTUGUÊS”

Temos uma sociedade cada vez com mais pontos de conflito em áreas tão distintas como as respeitantes às capacidades do próprio ser humano (aspectos físico e psíquico), ou as relativas à sua própria organização social, por exemplo nos campos da Justiça, do Conhecimento e dos Recursos Naturais.
De facto, vivemos numa sociedade em que estão a ser frequentemente atingidas situações no limiar da tolerância, revelando-se as ultrapassagens aos limites como a forma mais cómoda de fazer face à sobrevivência. Até parece que se enraizou nas gentes que o melhor modo de estar na vida é adoptar comportamentos radicais, embora por enquanto isto não esteja a ser bem entendido..... Muitas vezes, tais comportamentos não são mais do que a reacção normal (natural) às fragilidades da Razão perante as contrariedades da vida, a qual é demasiadamente madrasta para um tão grande número de pessoas à nossa volta. Alguns destes comportamentos geram violência, enquanto outros somente revelam o desejo de atingir notoriedade, uma notoriedade nem que seja à custa da morte, ou de enormes sacrifícios. O que é preciso é ter visibilidade porque a sociedade a premeia demasiadas vezes ainda que sem critério decente. Frequentemente, parece que caminhamos para o caos, para a alienação, persistindo uma notória contradição entre “aquilo que eu digo e aquilo que eu faço”, quer no seio da família, quer nas escolas, nos “media” e, inclusivamente, no próprio governo da Nação. Vivemos numa sociedade sem rumo definido onde quase tudo está escravizado à pressa, à economia e à mediocridade, enquanto o Indivíduo vai perdendo a sua identidade e os sucessivos governos não atingem nem os objectivos mais banais.
Numa sociedade assim, como é que as crianças e os jovens poderão aprender, pelo menos, civismo e solidariedade?
- A governação, face aos variados problemas, porque adopta procedimentos do tipo “bombeirista” por serem eles os que mais favorecem a captação de votos. (Combate o incêndio mas não previne).
- Todos nós, face à ausência de “espírito crítico”, porque não sabemos exigir que, além das medidas avulsas, sejam postas em execução outras que visem atacar o âmago dos problemas, mesmo sabendo-se que os resultados só poderão aparecer decorridas algumas gerações;
- Os políticos em geral porque “queimam alguns neurónios disponíveis” em lutas de partido em vez de se empenharem em problemas mais exigentes em termos neuronais.
Por tudo isto, é um “novo português” que se reclama; um lusitano – que se perdeu não sei quando – que faz falta formar-se desde o Jardim-de-infância e a quem também se ensine a cantar o hino nacional; a não ter vergonha de se comover quando o ouve e a não ter receio de que os políticos de esquerda lhe chamem “fascista”, porque, acima de tudo, também deverá aprender a amar o País e o próximo.
Estamos carentes de algo que nos una, nos anime e nos orgulhe! Não temos fome dos populistas que procuram confundir-nos, nem queremos que continuem a desacreditar a Democracia.

25 de outubro de 2004

RAÇA BARROSÃ

Há tempos li num Semanário Regional algo sobre o risco de extinção da Raça Mirandesa e há cerca disso fiz um post que não mereceu qualquer comentário.
Na edição de 22 de Outubro pp. daquele mesmo semanário um novo artigo desta vez referindo que também a Raça Barrosã corria risco de extinção. Apesar dos subsídios da CE se manterem e de ter aumentado o consumo da carne especial daqueles vitelos, o número de nascimentos vinha decrescendo anualmente pondo em causa o projecto em que a Associação está empenhada.
Em relação ao post anterior (Raça Mirandesa) não houve, como disse, qualquer esclarecimento por parte de algum médico veterinário pelo que não auguramos nada de bom......
É estranho que os sinais positivos referidos pela própria Associação não consigam reverter a tendência para a extinção. Ou será que os proventos resultantes dos subsídios e da venda de carne e venda de animais não estejam a ser aplicados da melhor maneira? Ou será que a venda de animais vivos está comprometendo o programa? Tem de haver uma resposta técnica para esta situação.

18 de outubro de 2004

ESTETOSCÓPIO

Fui na velha Escola Superior de Medicina Veterinária brindado com uma destas peças de equipamento... lá para o terceiro ano... que toda a gente usava, e usa, como um ícone, um pin, uma referência da Medicina, mais do que como auxiliar de diagnóstico.
Ao tempo o diagnóstico era tido como uma arte, mau grado haverem diagnosticadores do tipo: "resolução de equações a uma ou duas incógnitas", "resolução de inequações"... por aí fora.
E dizia-se "...mediante o diagnóstico é favorável o prognóstico...", citando uma das conhecidas sumidades da "Escola".

Estetoscópio Posted by Hello
Quem cuida da componente artística dos jovens licenciados? A Universidade mantém um grande distanciamento do produto que lança no mercado de trabalho e até o "estágio para obtenção do grau de licenciatura" é promovido de forma muito incipiente, talvez mais nuns cursos que noutros (como em tudo há sempre quem se destaque), mas quase sempre conseguido à custa do esforço pessoal do interessado e em grande medida resultante da sua "capacidade" para encontrar um bom orientador.

Agora que há para aí tanto curso de Medicina Veterinária, pergunta-se: qual é a sua posição no ranking das Universidades portuguesas? Se a preocupação com o "estágio profissional" que a Ordem pretende institucionalizar for critério de classificação, não tenho dúvidas em afirmar que o nível é apreciável! Qual é a visão de cidadania, preconizada pelo processo de Bolonha, que os cursos de Medicina Veterinária vão adoptar? como vão "...criar o gosto pelo saber, pela aprendizaggem de valores e pela aquisição de uma metodologia de trabalho"?
Se os Cursos (oficiais) de Medicina Veterinária foram tão céleres a escrever ao Bastonário manifestando a sua preocupação pelo acesso à profissão (estágio profissional e exame à Ordem), como não são capazes de entre si se entenderem quanto ao perfil dos licenciados que andam a produzir?

17 de outubro de 2004

ANIMAL RIGHTS CAMPAIGNERS

O "No Quinto do Impérios" chama-nos a atenção para
esta notícia
: a profanação de uma campa por activistas defensores dos direitos dos animais…
Talvez a onda não atravesse a "mancha", nem tão pouco chegue a este torrão lusitano… mas é pena que razões tão objectivas de incumprimento da legislação da protecção dos animais apenas mereçam a reacção da LPDA... até lá descansam as sogras em paz!

ARRE BURRO (sapientis est mutare consilium)

Não se trata de querer ou de pretender ser político profissional e muito menos de me guindar à categoria de comentador na Imprensa Nacional. Não é essa a minha profissão. Todavia as pessoas não conseguem abstrair-se totalmente dos factos que se passam à sua volta, das situações que afectam as populações, especialmente quando se está convencido de a nossa vida poderia ser melhor se outras soluções governativas tivessem sido perseguidas. É o meu caso, particularmente naqueles aspectos que gritam mais com a minha sensibilidade.
Como cidadão, cabe-me o direito de opinar e como não tenho acesso aos Media serve-me o blog.
Para mim tem sido evidente que em muitos casos os nossos políticos fazem asneiras ou seguem caminhos errados por ignorarem completamente os pareceres técnicos só pelo simples facto de quererem manter a posição de que estes não podem ser vinculativos (um dos seus dogmas).
Há tanta asneira que poderia ser evitada, que teimo em fazer uso deste meu direito. Pena é que me sinta tão sozinho nesta área onde as pressões externas não têm cabimento fácil e, portanto, não podem subordinar o que se tem para dizer.

14 de outubro de 2004

MISSÃO: BRUCELOSE EM PORTUGAL


Solicita-se informação pertinente sobre os resultados da missão da UE de avaliação do programa de erradicação da brucelose dos pequenos ruminantes em Portugal.Posted by Hello

A AMBIÇÃO E A ÉTICA

Acordo de Bolonha à parte, e à parte muitos dos disparates, generalizações e/ou simplificações a que se está a reduzir esse acordo (a isto voltaremos mais tarde), parece inquestionável ser competência da Universidade lidar com a ambição e a ética inculcada aos discentes, sendo esta preocupação particularmente sentida para os cursos de Medicina Veterinária.

Não existem indicadores estatísticos que permitam relacionar a prática não ética com a origem universitária do profissional que a pratica, nem tão pouco a relação de causa-efeito com a ambição instilada a esses licenciados (futuros profissionais), formados nas Escolas de Medicina Veterinária, mas seria de facto interessante ter a percepção do eventual denominador universitário comum de incumprimento ético e deontológico.
Tal interesse é suscitado pela convicção de que à Universidade não caberá apenas o papel de transmitir conhecimentos de natureza mais ou menos científica e de oferecer metodologias de aplicação prática desses conhecimentos, mas sobretudo de saber enquadrar esse “sistema de ensino-aprendizagem” num adequado sistema de referência que tenha em conta a ambição e a ética.

Aquela mistura de vontade, desejo e atracção que os docentes universitários transmitem ao futuro profissional, particularmente nas situações práticas que de alguma forma “simulam” o futuro dia-a-dia desses profissionais: planeamento produtivo de uma exploração pecuária, actos clínicos, uma cirurgia, concepção e realização de Inquéritos Epidemiológicos ou concretização de um diagnóstico, avaliação do lay out de uma indústria alimentar, etc. etc., poderá, em muitas circunstâncias, sobrepor-se ao enquadramento ético desse exercício, de que as dificuldades de emprego são “apenas” enorme catalizador.
Seria de esperar que a Universidade clarificasse os discentes sobre como se articulam a ambição e a ética, não permitindo que subsistissem quaisquer dúvidas sobre o plano ocupado por cada um dos conceitos, como é habitual notar-se: que a ambição termina onde a ética começa, como se se tratassem de duas questões não miscíveis.

A ética, encarada como um conjunto de “regras” que regulam a conduta, neste caso dos Médicos Veterinários e que em termos do colectivo se plasmam no Código Deontológico, não se opõem ou castram a ambição, como muitos “empresários da profissão” julgam ou aprenderam na Universidade.
A atitude platónica de renunciar aos prazeres e à riqueza a favor da dedicação à virtude, tendo em vista a conquista da felicidade, não me parece aplicar-se a esta circunstância ou seja, não se trata de escolher entre a ambição e a ética, como alguns doutos fazedores de licenciados parecem atemorizar os jovens alunos.
A verdadeira tarefa da Escola reside em dotar o aluno de capacidades que possam manter no plano da ética as suas mais legítimas aspirações: a vontade e o desejo deverão assentar em preceitos éticos, em vez de ser colocados em campos opostos numa espécie de campo de batalha mental e emocional.

Interessante seria, de qualquer modo, conhecer a “estatística da ambição e da ética”, reportada a cada um dos cursos de Medicina Veterinária.
Talvez o Conselho Profissional e Deontológico da Ordem dos Médicos Veterinários (ou até de uma outra qualquer Ordem), saiba informar.

VERTICALMENTE

O governo de Pedro Santana Lopes garante: a autonomização e verticalização dos Serviços Veterinários, será uma realidade até ao final do ano.
Os sectores atingidos pela medida reagem de forma diferenciada.
No seio dos Serviços Veterinários as reacções variam entre o cepticismo e o entusiasmo contido, e a desconfiança e denotada preocupação… estarão em causa factores determinantes: por um lado o permanente anúncio e eterno “volta atrás”, aliado ao facto do Ministério ser governado por convictos “regionalistas”, por outro lado a certeza de grandes dificuldades futuras com a gestão desses Serviços, cuja resolução parece estar para lá da reorganização orgânica.
Os sectores de produção intensiva reagem favoravelmente, em oposição aos tradicionais sectores de produção, mais ligados ao desenvolvimento rural e cooperativo, claramente contrários a esse desiderato.
No sector do consumo o alheamento é quase total.
O Director-Geral de Veterinária apostou, com êxito, o seu destino à frente da DGVA, ao fazê-lo depender da consecução da verticalização.
Ainda não se ouviram os foguetes, talvez porque a festa ainda não tenha começado ou porque o orçamento assim obriga.

11 de outubro de 2004

SOBRE A CIDADANIA

A cidadania é um conceito extraordinariamente complexo que não se limita à simples participação sob o ponto de vista político, mas onde também não cabe a simples recepção mecânica de direitos garantidos por via externa.
Parece inexplicável que uma série de colegas – ainda por cima não recém-formados – se tivessem excluído da discussão da revisão dos Estatutos da nossa ORDEM, indicando que estão indiferentes à evolução dum mecanismo fundamental da regulação da profissão.
Se todos os colegas – nas várias Regionais – se comportarem do mesmo modo, a revisão dum mecanismo tão fundamental acabará por ser efectuada por apenas uma dezena de colegas mais dedicados, o que equivale a dizer que aqueles que se excluíram não favoreceram a democracia instituída, embora, com toda a certeza, não queiram deixar de fazer uso dos direitos consagrados por todos aqueles que a tornaram possível.

6 de outubro de 2004

POR DETRÁS DUMA NOTÍCIA

No Público de 04.10.05 logo na 1.ª página, em letras bem gordas, a vermelho, diz-se:
"Sampaio rejeita medidas avulsas e impõe condições ao governo”
Na página 10, já não a vermelho mas ainda em letras gordas, novo título bombástico, desta vez num artigo de Eunice Lourenço:
”Presidente da República faz ultimato ao governo”
Ouvindo o discurso do Senhor Presidente da República não se pode entender que S.Excia tenha imposto condições ao governo e muito menos que tenha feito um ultimato.
Então qual terá sido a intenção de dar a notícia daquela maneira? Curioso foi também constatar que no noticiário das 20 horas daquele mesmo dia a SIC também afinou pelo mesmo diapasão........
Não sendo admissível que a jornalista em causa e o próprio Jornal desconheçam o significado das palavras ultimato e exigir, sou levado a pensar que o motivo não corresponde apenas à vontade de dar informação correcta. Correcto será concluir-se que aqueles dois expoentes do nosso “media” não são nem apartidários nem imparciais.
O governo que se acautele porque se está caminhando para fazer cair na rua o Poder.

5 de outubro de 2004

COMBATER AS CAUSAS

Complementando o post anterior “Uma à esquerda, outra à direita”

Várias são as situações de degradação do comportamento moral e cívico sendo nossa convicção que muitas delas são resultado duma falha profunda e generalizada na educação na fase de infância, não propriamente na área da transmissão do Conhecimento, mas na da transmissão de certos valores morais e cívicos – tão combatidos pela Esquerda – os quais, digam o que disserem, são referências sólidas para o resto da vida.
Há coisas que devem ser aprendidas (estimuladas) a partir dos 2 até aos 7-8 anos de idade, quando a estrutura cerebral começa a estar em franco desenvolvimento e não mais tarde porque, então, já não resulta tão bem.
Como sabemos, os pais actuais – na esmagadora maioria – vivem permanentemente preocupados com aspectos materiais relativos à manutenção da família ao mesmo tempo que muitos deles têm dúvidas ou ignoram qual a melhor forma de educar os filhos, enquanto que outros, embora saibam como os educar apenas estão em condições de o fazer se abdicarem de interesses materiais tornados indispensáveis. Naqueles, os que constituem a maioria, a educação que receberam na infância não foi a apropriada e agora, como pais, nem fazem ideia dos erros nem das consequências das omissões que cometem na educação dos filhos. E nem sequer imaginam as razões pelas quais os seus “rebentos” não aguentam os tumultos e os contratempos a que ficam sujeitos nesta nossa “vida de cão” e soçobram sem luta face às vicissitudes emocionais. Deviam estar apetrechados para suportar as agruras, as contrariedades (ir ou não ir à “boite”;estudar ou não; etc.) que, aliás, toda a gente tem de suportar, embora suponham que são apenas eles os desprotegidos da sorte. Nem admitem que haja quem as suporte por a sua alma ter sido “temperada” em criança! O que está acontecendo é que em vez de se estar preparado para suportar as contrariedades se vacila às primeiras vicissitudes e se procuram saídas fáceis como, por exemplo, o recurso à droga, ao álcool, ao roubo, etc., como se não existissem outros caminhos. Só que a educação que tiveram não os ensinou a suportar.... E é chegado a este ponto que me insurjo veementemente com todos os processos em que a abdicação é lema a seguir.....
Mais Polícia na rua; mais Escola Segura; mais parques para ensinar prevenção rodoviária às crianças; mais apreensão de droga; mais presídios; mais centros de acolhimento de toxidependentes; menos “casais ventosos”; e outras medidas similares, são, sem dúvida, formas de luta infelizmente necessárias, mas elas não combatem as causas profundas; não passam de tratamento sintomático. A sociedade precisa de formas de luta que combatam as causas, ainda que não possa prescindir das outras formas de acção, mesmo sabendo que a luta a travar seja para durar gerações.
Sinceramente, é isto que se consegue usando apenas aquelas medidas avulsas? É evidente que os tais tratamentos sintomáticos ajudam, mas se não formos ao âmago da questão, a sociedade corre o risco de amanhã constatar que um cidadão perito em prevenção rodoviária assassinou a mãe dos seus filhos por ela não ter feito a sopa a tempo e horas...

4 de outubro de 2004

Vulpes vulpes

É mesmo urgente que apareçam Vets na Política. A Ordem é composta por funcionários públicos que em vez de se baterem pelos interesses reais e futuro da classe, não têm nenhuma independência para o fazer pois têm de obedecer não aos interesses da profissão, mas sim, ao que o "patrão" (Director-geral, Secretário, Ministro), determina, sob pena de serem votados ao ostracismo (leia-se prateleira) lá na repartição onde labutam já que não podem ser postos na rua. Até ver, p'ra já...
Isto não seja tido como crítica. É o que é. É a classe que somos.
Quando a profissão um dia passar a ser eminentemente liberal (como o é nos outros países desta UE onde vivemos) e começar a sentir as reais agruras da vida no pêlo, as coisas poderão começar a mudar.
Enquanto os Vets se escudarem no empregozito medíocre mas seguro do Estado e fizerem da profissão (clínica, etc) um biscate pós laboral, regra geral em consultórios e clínicas de vão de escada que não dignificam em nada a imagem pública da profissão, nada mudará no status quo que se arrasta há muitos, muitos anos. Talvez os novos Vets apareçam com outra postura dada a tempestade que se lhes avizinha. Mas tenho dúvidas! Com a agricultura (?) a dar últimos suspiros e os urbanos cada vez com menos dinheiro nos bolsos para pagar as facturas com a saúde dos animais de companhia, mal vai de facto o futuro da profissão se não aparecerem e já, Vets na política. Lembrem-se: o recente episódio da BSE constituiu uma enorme oportunidade para visibilidade da profissão. Ordem e Sindicato pouco ou quase nada foram capazes de tirar partido da excelente situação... etc. etc. Não sabem de política, são coxos em marketing.
Nada disso. Simplesmente os "patrões" proibiram ou mandaram calar, suas Exas os bastonários, de se pronunciar sobre os temas. Simples!
Take Five

Mais do que VETS na política melhor seria não ter raposas a dirigir a profissão… enquanto assim for a confusão com o pobre ratito é um enorme risco…

A ver o que diz o Fernando…

A DOENÇA MISTERIOSA… OUTRA VEZ!

Completamente de pernas para o ar… perdeu-se todo o discernimento!
A condução dos casos de doença em Seara – Ponte de Lima e o destaque dado pelos jornalistas ao caso, foram a todos os títulos dignos de crítica, tudo o que o "nosso" médico disse sobre o caso… foi pouco.

Para rematar, só a história que nos foi dada, uma vez mais, diligentemente pela TV no jornal da tarde de hoje: Começaram as operações de desinfestação de jardins, parques infantis, arruamentos, muros e outros locais públicos em Seara.
A jornalista de serviço informa que se trata de um acaricida (com um nome destes deve ser eficaz), mas logo o Médico Veterinário Municipal esclarece tratar-se de uma substância designada por amitraz (até rima com eficaz…): no mercado existe apenas uma apresentação comercial (vamos omitir propositadamente o nome e empresa) e essa está apenas indicada para aplicação em banho ou pulverização de ovinos, bovinos e suínos e não em instalações ou locais.
Havendo produtos bem mais baratos, indicados para o tipo de desinfestação pretendida, porque razão se optou por esta metodologia?
Existem, por outro lado, empresas especializadas em desinfestações, não se entendendo a opção pelo "faça você mesmo", estando em causa garantir uma determinada eficácia.

Mas bem pior que tudo isto subsistem razões de natureza científica que toda a gente parece esquecer: sem colheitas sistemáticas de exemplares de carraças, ao longo dos meses, não é possível conhecer os ciclos de vida dos parasitas, susceptíveis de permitir um combate eficaz, resultando a iniciativa da Câmara de Ponte de Lima em operação baseada em suposições sem qualquer valor prático.

Gostaríamos, de qualquer modo, conhecer que suposições foram essas: que carraças esperam eliminar (ovos e larvas incluídas)? Será esta aqui, a carraça castanha do cão?... que reproduzimos com a devida vénia da Public Health Pest Control.


Rhipicephalus sanguineus Posted by Hello

Que efeito residual tem o produto aplicado e em que se baseia tal suposição? Qual foi a concentração utilizada e que suposta reinfestação se pretende evitar? Quantas são as gerações destes parasitas que o clima de Seara "permite"?

Continuarão a comunidade científica e os Serviços Veterinários imperturbáveis ou aproveitarão a oportunidade para repensar o levantamento parasitário do país, conjugando os esforços que muitos vêm desenvolvendo pontualmente aqui e ali, potenciando intervenções que já são habitualmente desenvolvidas no meio rural?...

UMA À ESQUERDA, OUTRA À DIREITA

Esta vida está de pernas pro ar!
Considero que a profissão de bombeiro é muito ingrata porque ele, o profissional, pode saber qual a causa do incêndio que está a combater sem, contudo, estar habilitado a combater a causa que lhe deu origem o que, a verificar-se, por certo evitaria algumas vezes que o incêndio se repetisse. É como se um médico tratasse um doente com tuberculose pulmonar apenas com um xarope antitússico, ou um médico veterinário não se preocupasse com a etiologia responsável pela doença do seu “cliente” e apenas o medicasse com vista a debelar a sintomatologia manifestada. Aliás é esta a maneira como a maioria dos políticos encara os problemas que têm em mãos ou seja, uma actuação à bombeiro, o tal que não tem possibilidade de evitar os incêndios que mais tarde ou mais cedo terá que combater....
Vem isto a propósito duma notícia no Público de 2004.10.03 em que a jornalista Bárbara Wong refere que o Reitor da Católica está preocupado com o insucesso escolar dos alunos que chegam à Universidade pretendendo - julgo eu - que o Poder interfira sobre o funcionamento dos bares e “boites” para que – deduzo eu – os alunos universitários não apresentem tão altas taxas de subaproveitamento escolar.
Como a rapaziada não foi ensinada na infância – o tal “tratamento preventivo” – a comportar-se bem, eis que o Senhor Reitor faz apelo ao governo para o uso dum tratamento sintomático em vez de clamar por uma actuação etiológica.
Vá lá, vá lá, que o Senhor Reitor teve o bom senso de não propor que se legislasse no sentido de encerrar todos os bares e casas de alterne e que se edificassem em todas as Escolas e Universidades mais espaços lúdicos capazes de entreter os alunos, com vista a desviá-los dos tais “antros de perdição”....
Talvez um processo de vigilância electrónica desse resultado!


Veterinário precisa-se para diagnóstico de "especialidade"... Posted by Hello

3 de outubro de 2004

COMPROU MULHER POR 15 CABRAS

O vigário atacou: a troco de quinze cabras ofereceu-se a mulher… o vigarizado "morre" de vergonha… mas o que não sabemos é se os animais estavam vacinados com a famosa REV1, no âmbito da, não menos famosa, campanha de vacinação massiva (ou maciça como lhe chama o seu principal mentor).
Agradecemos informações sobre a emissão de passaporte ou destacável de rebanho, assim como das respectivas guias sanitárias…

SAÚDE PÚBLICA

O nome de um "dossier especial", de periodicidade quinzenal e de distribuição conjunta com o jormal "Expresso".
Há uns quinze dias, mais coisa menos coisa, salvo erro na edição nº 13, aquela publicação dispunha uma meia página, dedicada à Ordem dos Farmacêuticos, dando oportunidade à divulgação de "dia do farmacêutico" e, se não me engano outra vez, o dia de S. Cosme e S. Damião, permitiam ao bastonário Aranda da Silva a exaltação da profissão.
Amanhã, dia 4 de Outubro, comemora-se o dia do Veterinário... na edição de Sábado passado do "Saúde Pública" (nº 14), nem uma linha sobre o facto... Alguém me ajuda a interpretar o facto?
Qual a admiração? no site da Ordem dos Médicos Veterinários também não é feita qualquer alusão...

2 de outubro de 2004

SEGURANÇA ALIMENTAR, ESQUER' DIREITA

Não tenho a pretensão de pensar que existam assuntos que não são nem de esquerda, nem de direita, muito embora assim pareça quando se fala de Segurança Alimentar ou Saúde Pública.
A industrialização, o desenvolvimento económico, a igualdade de direitos, foram a par com o número crescente da procura de bens alimentares associado à evolução social e política, factores essenciais à identificação de elementos de Segurança Alimentar e Saúde Pública, parecendo assim que o assunto tem uma natureza estritamente técnica, despida de conteúdo ideológico e de opções políticas.
Julgo que quem assim pensa se engana redondamente.
Sem ser exaustivo, este espaço não tem esse fim nem essa capacidade, basta olhar para alguns dos princípios em que assentam, particularmente a Segurança Alimentar, mas também a Saúde Pública:

a) Da exploração à refeição (stable to table, fish to dish, farm to table, etc.). Este princípio básico, em que assenta toda a política de segurança alimentar da União Europeia (a profissão veterinária em Portugal tem feito pouco eco deste aspecto, diga-se de passagem e não se sabe bem porquê), exige que em toda a cadeia alimentar, em todos os sectores de produção, em toda a União e a todos os níveis de decisão, exista uma abordagem integrada, que envolva e responsabilize todos os intervenientes. Ora este primado de Autoridade e Responsabilidade sempre foi visto de lado por socialista e comunistas, para quem se impõe, antes de mais, a democratização dos sistemas e a garantia de "alimentos para todos".

b) Avaliação, comunicação e gestão dos riscos na Saúde Pública. Toda a política de Segurança Alimentar deve basear-se nestes três componentes da análise de riscos, de forma rígida e sistemática, baseada em estruturas de coordenação e controlo em cuja Autoridade seja depositada toda a confiança, sejam por parte dos produtores, seja por parte dos consumidores. Também este tipo de exigência em termos de organização, gestão eficaz e eficiente e sobretudo grande disciplina e profissionalismo, não vão ao encontro de uma "ideologia de esquerda".

c) Responsabilidade básica pela segurança alimentar: cabe aos produtores de alimentos para os animais, criadores, agricultores e produtores de alimentos. Sem negar este princípio de responsabilização, que até defenderá, a "esquerda" enfatiza sobretudo os valores da democracia, da intervenção do estado e do financiamento público, afastando-se precisamente daquele princípio.

Talvez por esta razão a Segurança Alimentar em Portugal continue a marcar passo: curiosamente, a profissão Veterinária gosta de primar por aqueles valores, de forma tão interessante que não é difícil encontrar "esquerdistas" inveterados em defesa de uma certa forma de "corporativismo"… o corporativismo da ciência… sobretudo… ou imbecis corporativistas escudando a sua ignorância e incompetência naqueles primados…

Que o governo manifeste a sua disposição em manter a resolução do anterior executivo relativamente à organização dos Serviços Veterinários (SV), já não é mau, desesperante são os timings políticos e a oportunidade de impor essa organização… releve-se a o meu pretensiosismo em pensar tratarem-se de SV… mas muito pior que isso são as tibiezas das Organizações profissionais, a indolência dos seus membros e os enredos, urdiduras e mexericos em que se metem os dirigentes associativos.