22 de setembro de 2004

DECADÊNCIA

É usual verificar-se um acentuado desrespeito pelas normas de conduta em sociedade, especialmente por parte dos mais jovens, mesmo em alguns dos que frequentam os graus mais elevados do Ensino. Mas não só nos jovens!
Este comportamento resulta principalmente do facto dessas pessoas não terem sido ensinadas (educadas) a suportar de cabeça erguida as contrariedades que sempre surgem no dia-a-dia da vida, como acontece quando em criança todas as vontades são sistematicamente satisfeitas. Tais manifestações, mesmo aquelas que, para bem da formação do carácter dos próprios contestatários deveriam ter sido “contrariadas” em devido tempo não o foram e assim, sob o ponto de vista sociológico, o futuro está a tornar-se confuso e um tanto “perigoso”.
É evidente que aquelas normas não constavam de um “catálogo” adquirível numa qualquer banca de jornais, ou duma cartilha escolar. O seu ensino era ministrado pelos pais, pelos avós, pelos professores e, mais cautelosamente, até pela pessoa mais próxima através duma admoestação directa. Eram normas tacitamente admitidas e o desagrado pelos incumprimentos era de tal modo feito sentir que, em geral, só numa determinada “franja” da sociedade ele não dava resultado. Em tempos mais recentes, as manifestações de desagrado (mania dos fascistas) deixaram de ser feitas e de seguida uns quantos passaram, propositadamente, a não cumprir as regras como se tratasse de um desafio entre os que se consideravam a si próprios mais espertos, ou mais aptos e o resto...... A tal “franja” cresceu.
A confusão entre Autoridade e Liberdade acentuou-se e a falta de uma estratégia para contrariá-la – omissão devida, essencialmente, ao medo da contestação, aliás sistematicamente explorada por alguns quadrantes políticos – levou à situação actual, por sinal nada lisonjeira para os políticos em geral (a democracia não se constrói assim).
Os mentores desta situação deixaram deformar o conceito de Autoridade alegando temer o abuso por parte dos que a detinham, como se os abusos de poder só pudessem ser contrariados pelos próprios contestatários e não combatidos pela Justiça. Assim, o Estado de Direito é frequentemente molestado. Para cúmulo, tem-se deixado “correr o marfim”..... Agora é o que se vê!
Muitos pais abdicaram do dever de educar os filhos porque eles também não foram devidamente ensinados e muitos dos adultos que têm a incumbência de fiscalizar, controlar, passaram a ser ao mesmo tempo juízes, permitindo-se “perdoar” toda a espécie de infracções, das mais ligeiras às mais graves, ou fazer vista grossa, à sombra da tolerância.... Até a nível oficial muitos desvios das regras foram praticados sem se medirem as consequências sociológicas resultantes do povo constatar que, afinal, o exemplo não vem de cima..... E aumentou a corrupção!
Nem ataque ao âmago do problema, nem repressão; e de degrau em degrau desceu-se ao nível de pôr a própria democracia em perigo. Atingiu-se um ponto donde dificilmente se vislumbra uma saída sem uma Autoridade muito mais dura do que aquela que se pretendeu (?) evitar.
E já passaram 30 anos servindo a quem?

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