14 de setembro de 2004

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA (3) (Dois erros clássicos)

O que se passa na Administração Pública relativamente à desmotivação dos funcionários é confrangedor. Embora se saiba, perfeitamente, que a inépcia dos decisores, inclusivamente na área das relações pessoais, é uma das causas da séria diminuição do desempenho do seu pessoal, o governo continua a não dar importância especial a este nível. Qualquer reforma que se faça não tendo em devida consideração a avaliação destes senhores estará irremediavelmente comprometida.
O governo dos USA – com mais de dois milhões de funcionários – desde há muito que faz uma avaliação pormenorizada das competências necessárias para o desempenho eficaz de qualquer função, não se compreendendo que no nosso país ela não seja feita e que o governo se proponha fazer uma reforma antes de implementar as bases desta avaliação. Esta atitude, só por si, demonstra a pouca (ou nenhuma) importância (falta de competência?) dada a esta questão mesmo ao nível mais alto da AP.
Por isso dizemos que entre nós continuam a ser praticados dois erros clássicos: - Um é pressupor que alguém que possua um qualquer conhecimento técnico especializado sabe, necessariamente, dirigir pessoal mesmo que as pessoas sejam tão diferenciadas como acontece na AP. Não significa que um técnico superior, só pelo facto de possuir uma licenciatura, tenha, necessariamente, capacidade de liderança. O outro erro, este bem mais grave, é partir-se do princípio de que este aspecto nem sequer deve ser discutido porque a decisão é sempre política e como tal quem é nomeado como decisor estará capacitado para decidir e ponto final.
É evidente que não se discute se uma determinada pessoa escolhida pela sua filiação partidária, ou pela sua afinidade política, não possa ser um bom decisor. Condenável é não se avaliar a sua competência em termos de Inteligência Emocional e de liderança antes de ser concretizada a sua nomeação.
É confrangedor ver tanta gente – capaz de efectuar o seu trabalho de maneira eficiente – estar tão descrente e tão desmotivada e acabar por se tornar negligente por o decisor nem sequer saber a importância que uma palavra de estímulo pode ter. Em contrapartida, ele próprio sabe que não será posto em causa porque o seu desempenho não será avaliado, ou que está imune pelo facto de ter sido nomeado por compadrio político.
Não é negligenciando estes aspectos que a nossa AP poderá alguma vez ser eficiente q.b., seja qual for a reforma que se faça.
Haverá algum VET que, sinceramente, duvide disto?

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