11 de setembro de 2004

E VÃO SEIS

Claramente à frente na União Europeia!
Um novo dado estatístico vem colocar Portugal na vanguarda, infelizmente, uma vez mais, não pelas melhores razões.
Não se trata da taxa de analfabetismo, nem das taxas de abandono escolar, nem, tão pouco, das taxas de insucesso dos estudantes do ensino superior, trata-se tão simplesmente de mais um curso de Medicina Veterinária.
Desta vez a iniciativa foi da Universidade Lusófona, anunciando nove protocolos com entidades privadas e instituições públicas.

Somos, de longe, o país da União europeia, provavelmente do mundo, que tem maior número relativo de cursos de Medicina Veterinária. Das duas uma: ou são realmente necessários (o que ninguém no seu perfeito juízo acredita), ou não passam de projectos que se objectivam em si próprios, omitindo o destino que estarão a dar aos futuros licenciados (o que parece realmente verdade).
É mais que sabido que o número de profissionais existentes no país, mau grado algumas carências pontuais e marginais, particularmente no domínio da Administração Veterinária, vai dando e sobrando para as necessidades…
É mais que sabido que o número de profissionais que anda por aí "ò tio, ò tio" a saber de trabalho, é mais que muito…
É mais que sabido que ao contrário do que muitos alegaram no passado, o aumento da oferta não resultou em aumento da qualidade, diria mesmo, antes pelo contrário…
Então onde reside a Autoridade para travar semelhante dispersão de recursos, intelectuais, físicos e financeiros? Para devolver ao "cliente" (pais e alunos) um futuro condizente com as expectativas criadas e o investimento produzido? Para dar à sociedade aquilo que se exige e não aquilo que possam ser, ainda que legítimas, as ambições pessoais ou empresariais de alguns elementos dessa sociedade?
Impressionante parece ser a capacidade da Ordem para manifestar o seu parecer e até dá-lo a conhecer.
Quando surgiu o terceiro projecto de ensino da Medicina Veterinária, patrocinado pelo Instituto de Ciência Biomédicas Abel Salazar, depois de Lisboa (Gomes Freire/Ajuda) e Vila Real (Qta dos Prados), houve um grande sururu com o número de Veterinários que para aí vinham… afinal depois disso viram à luz Évora (Mitra) e Coimbra (Mosteiro de S. Jorge) e agora de novo Lisboa (Campo Grande) e nada!...
Curioso é igualmente o anúncio de protocolos com a Direcção-Geral de Veterinária (DGV), o Laboratório Nacional de Investigação Veterinária (LNIV) e o Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia e Inovação (INETI). Em que se baseiam esses protocolos? Ou são extensões educacionais da Universidade que superam deficiências de ensino do próprio curso, ou são complementares do ensino ministrado e neste caso não se entende o anúncio em si.
Invocar estes tipos de protocolo, sem deixar claro o seu conteúdo, parece configurar publicidade enganosa.
Seja como for, deixo apenas um motivo de reflexão: porque será que países com a dimensão populacional semelhante à de Portugal e até maiores, não têm, nem de perto, nem de longe, tão grande número de cursos de Medicina Veterinária?

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