21 de setembro de 2004

DOENÇA DESCONHECIDA

Há três ou quatro dias que os midia, através de entrevistas, espalham ou acalentam o medo na população onde ocorreram meia dúzia de doentes com uma doença desconhecida e, ainda por cima, com duas mortes.
Habitualmente, os jornalistas, especialmente os da TV, exercem uma “pressão” tal sobre os médicos que estes, sem darem por isso, se deixam enredar em explicações nem sempre claras para os leigos que as escutam, contribuindo assim para aumentar a confusão, ao mesmo tempo que facilitam uma ascendência dos “midia” nem sempre susceptível de aplauso..... É certo que os midia podem desempenhar um papel importantíssimo na informação e no esclarecimento das populações (isso ninguém discute), mas o modo como actuam exerce uma “pressão” que faz com que os técnicos receiem errar, pois logo a TV e o “povo” lhes cai em cima e muitas vezes injustamente.
Por um lado, o excesso de cautela, por outro a inibição que as pessoas não habituadas às câmaras da TV sentem, faz com que os “discursos” surjam confusos, titubeantes, pouco claros e que, assim, seja transmitida sobre o entrevistado uma ideia de pouca segurança de conhecimentos, quando não de incompetência.
O presente “surto” – como tem sido chamado – é paradigmático do que acabámos de referir.
Na génese desta situação podem estar alguns factores, mas um me parece particularmente importante: A falta de especialização do jornalista sobre a matéria relativa à entrevista. Se atentarmos no que se passa no país, um mesmo jornalista tanto é despachado para cobrir um incêndio como para... perguntar a uma pessoa que acabou de perder um ente querido como é que ela se sente.
No caso da “doença desconhecida” ocorrida há pouco na área de Ponte de Lima, os médicos “desconfiam” do que se trata, mas como há outras hipóteses não querem arriscar a hipótese mais provável porque se as análises laboratoriais não confirmarem a suspeita logo serão declarados por toda a legião que ouviu a entrevista como incompetentes.
Mas a falta de especialização do jornalista é notória porque se ela existisse não só as perguntas feitas seriam de outro género como a oportunidade seria aproveitada para “informar” a população sobre vários aspectos que, clamorosamente, ficaram em aberto....
Todas as cautelas são poucas!

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