17 de janeiro de 2009

2008: UM ANO PARA RECORDAR

1. OMV - CRISE INSTITUCIONAL

No seio da Ordem dos Médicos Veterinários (OMV) viveram-se situações únicas, para não dizer caricatas, que resultaram no último sopro do "sempre" Bastonário, Cardoso de Resende; no desacerto de ideias sobre o futuro da Organização; no total alheamento dos seus membros...

Guerras jurídicas que explodiram como pólvora seca, posicionamentos criticáveis de todos os lados, ética e princípios às malvas, enfim um enorme desvario.

Organização entorpecida, sistematicamente esquecida pelos poderes públicos, apoucada no seu papel institucional e pouco reconhecida como tal pelos seus membros.

A crise que atingiu a OMV poderá ser vista como um incêndio que rejuvenesce. Resta saber que sementes despontarão agora.

Um coisa é preocupante: ainda ninguém ter reflectido sobre as razões do que aconteceu. Mesmo que o carácter pessoal do anterior Bastonário possa ser invocado, tal não é suficiente para explicar tudo o que se passou.

Parece-me incrível que uma trapalhada, com base numa leitura diversa dos Estatutos, não tenha inexoravelmente conduzido, pelo menos, a uma proposta de interpretação esclarecida.
 
2. SNMV - A IMPLOSÂO

O Sindicato Nacional dos Médicos Veterinários (SNMV) sobrevive com dificuldade. O natural ensombramento pela OMV começou a concretizar-se.

A crise afectou de sobremaneira o SNMV. Os Médicos Veterinários, a começar por aqueles que deveriam reconhecer os méritos do Sindicato, até por terem beneficiado directamente da sua intervenção, viram-lhe as costas; a OMV, a quem caberia privilegiar a cooperação institucional, esqueceu as suas responsabilidades; sem se entender muito bem, aqueles que mais precisariam pedem a demissão de sócios e refugiam-se no conforto de advogados oportunistas (tal como muita boa gente recorre à bruxa em situações emocionais descontroladas)...

Não vale a pena entrar em paranóia e começar a apontar culpados. Seria fácil demais crucificar o "Presidente" Edmundo Pires e julga-lo como responsável pela situação. As razões da crise do SNMV são muito mais profundas e requerem uma análise ponderada.

Julgo que a actual direcção manterá a cabeça fria e encarará a situação, introduzindo as novidades na actuação do SNMV que as circunstâncias exigem, na consciência de que não há formulas mágicas, apenas dedicação e trabalho eficiente.
 
3. CAMV - A EXPLOSÃO

Os Centros de Atendimento Médico-Veterinário (CAMV) continuaram a florescer um pouco por todo o lado. Não há cidade de dimensão média que não se orgulhe de um Hospital e várias Clínicas ou vila ou cidade pequena que não tenha 2 ou 3 Clínicas e Consultórios.

Nalguns casos fizeram-se investimentos de bradar aos céus. Não é preciso ser economista para perceber que o serviço financeiro de tais investimentos jamais será recuperado. Os casos de concorrência desleal ou pelo menos de concorrência selvagem são o dia-a-dia.

Esta enorme bolha vai rebentar um dia. Chamem-me profeta da desgraça se quiserem, mas não deixem de considerar como dados objectivos os indicadores económicos que enfrentamos: défice a 3%, crescimento do PIB de 0,1% e desemprego para lá dos 8%.

Houve, contudo, estruturas que nasceram da cooperação entre colegas e com o sentido de profissionalizar a intervenção, sendo por isso de aplaudir. Essas estarão em melhores condições para suportar a crise, constituindo exemplo de cooperação e economia de escala a encorajar.
 
4. SVO - UM SENÃO

O alicerçar da verticalização dos Serviços Veterinários Oficiais (SVO) revelou tiques de arrogância a nível regional e local, apesar de tudo dificilmente previsíveis.

Na ausência de planeamento estratégico credível os SVO não encontraram a sua identidade. Registam-se sobreposições de competência com outras entidades, sejam os Municípios, seja a própria Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE). Faltou sobretudo uma linha de rumo bem definida e coerente, que incluísse uma cooperação institucional mais aprofundada com outras entidades públicas e privadas.

As pouco esclarecidas decisões sobre a organização dos Serviços de Inspecção Sanitária; a condução errática dos programas de Saúde Animal; a ausência do projecto europeu da Semana Veterinária e da divulgação da política europeia para o sector; o desmembramento da estrutura privada que executa os programas de controlo e erradicação oficiais; as confusões com os cães perigosos e a gestão da identificação dos animais de companhia; as trapalhadas com o controle da Febre Catarral Ovina, são exemplos do que disse.

Soube contudo, o Director-Geral, Agrela Pinheiro, estar, quando necessário, manter o projecto de verticalização e ancorar no Ministro da tutela o necessário apoio político. Apesar de tudo, mostrou, sem sobressaltos e em momentos decisivos, estar por dentro das situações, conhecer bem os dossiers (como habitualmente se diz) e tomar as decisões convenientes a uma gestão eficaz.
 
5. UMA PROFISSÃO ÚNICA, MESMO ASSIM.

Foram muitas as personalidades, referência na profissão, que deixaram de estar entre nós. Pode ser até que esta percepção não corresponda à realidade (o avançar na idade tem destas coisa), mas diria que neste particular 2008 não nos poupou. Saibamos ser dignos do legado que nos deixaram.

Em diferentes sectores sociais e profissionais a Veterinária está presente, das artes às ciências, deslumbrando e atraindo a comunidade, pena que falte estimar e dignificar esses valores.

Na blogosfera são vários os exemplos da generosidade dos Médicos Veterinários, revelando uma profissão viva e disponível. Não posso deixar de referir o bom humor do Vetvelhaco, o diário da colega Ana em terras de Sua Majestade, a irreverência dos futuros colegas da UTAD, sem esquecer a nossa vizinha Alma, com um interessante editorial.

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