17 de janeiro de 2009

HIPÓTESE NULA

Fotógrafo: Estúdio Mário Novais, 1933-1983.
Data aproximada de produção da fotografia original: 1975-1988.
in Galeria de Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian


1. Confesso... sempre que numa reunião, assembleia ou grupo de trabalho, todos os participantes estão de acordo e nada adiantam ao assunto em discussão (particularmente em temas relevantes), limitando-se a anuir com um balancear de cabeça, sinto-me imediatamente impelido a assumir o contraponto.
 
Espírito de contradição, dizem alguns... será, não contesto, mas prefiro refugiar-me no vício estatístico da hipótese nula...
 
Guardei das lições de estatística aplicada à epidemiologia que, a impossibilidade de demonstrar uma hipótese como verdadeira (mesmo que provável), prova que a mesma é falsa.
 
Foi (também) por esse motivo que, quando todos os presentes na última Assembleia Geral (AG) da Ordem dos Médicos Veterinários (OMV) desataram a desancar no contrato de comodato materializado no edifício da Escola Superior de Medicina Veterinária (ESMV), ainda por cima de forma sublinhada com trejeitos e esgares de superioridade intelectual, imediatamente "aplaudi" quem soube trazer à discussão uma visão diferente sobre a matéria.
 
Aliás, este espírito de recusar certas obras por questões de princípio ou outras mesquinhas questões, seja por falta de abertura mental, desconfiança ou simples imobilismo, é um mal bem lusitano.
 
2. A possibilidade de ter, bem no centro de Lisboa, um local privilegiado, com espaço (até para estacionamento), albergando salas para reuniões, seminários e workshops, alojando outras Associações Profissionais, a começar pela própria Sociedade Portuguesa de Ciências Veterinárias, que foi, salvo erro, a primeira a ali se instalar, com espaços equipados para o desenvolvimento de acções de formação de qualidade em parceria com os estabelecimentos de ensino de Medicina Veterinária, seria um ganho para a profissão. Tal possibilidade não foi demonstrada como falsa.
 
Não acredito que o "Estado" se opusesse a um projecto que permitiria reabilitar uma zona da cidade semi-abandonada, até por permitir, concomitantemente, complementar o projecto com a edificação de zona residencial de qualidade, na área remanescente do espaço ocupado pela antiga ESMV, sendo por isso também um ganho para a cidade de Lisboa. Tal possibilidade, também não foi demonstrada como falsa.
 
O argumento de que ali "estamos", vai para 75 anos, também não é assim tão despiciendo quanto isso, existe de facto um "valor emocional" associado à profissão Veterinária que poderá ser esgrimido a favor. Tal argumento também não foi demonstrado como falso.
 
3. Olhar para o problema, como o fizeram pessoas responsáveis na AG, do Tesoureiro do Conselho Directivo, à Presidente do Conselho Fiscal da OMV, pelos antolhos jurídicos de um contrato de comodato, parece-me pouquinho... já para não dizer que revela ignorância sobre o significado legal de comodato.
 
Para além do património histórico que a profissão pode e deve reivindicar, estamos a um par de dias de eleições autárquicas e por isso deveríamos questionar politicamente os candidatos, e potenciais candidatos, sobre o que pensam do projecto de reabilitação do espaço onde era a ESMV, pois que o mesmo trará um ganho objectivo para a cidade de Lisboa.
 
Fazer comparações grosseiras, como foi feito, sobre a decisão de deixar a sede na R. Victor Cordon, é que me parece de quem nem sequer alguma vez entrou naquela instalação: o actual arquivo e armazém da OMV não caberiam lá sequer!
 
4. Suponhamos que tudo isto não passa de facto de uma utopia clintoniana... mas quantas utopias não se tornaram realidades na nossa curta existência? Para não ir mais longe... a blogosfera, há 15 anos, era, não uma utopia, mas pura ficção científica.
 
Os descobrimentos lusitanos foram uma utopia, os Estados Unidos da América foram uma utopia, a "conquista" da Lua (e agora Marte) foi uma utopia, a criação da União Europeia foi uma utopia... e a simples recuperação do edifício da ESMV para os Médicos Veterinários é uma impossibilidade? Tenham dó...
 
Admitamos ainda assim (hipótese nula), que tal é de facto impossível... lutar por aquele espaço não nos deixaria, em qualquer das circunstâncias, em melhor posição para negociar, com o "Estado" um qualquer outro espaço na cidade de Lisboa?
 
Se somos nós próprios a abandonar o local sem qualquer resistência de que boas vontades estamos à espera, e de quem, para negociar uma alternativa?

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