18 de agosto de 2003

HÁ QUE DISTINGUIR

Profissão da merda/prof de merda. Desde sempre foi da, mesmo quando trabalhar no e para o mundo rural era honroso. É bom não esquecer que no país a industrialização não se baseava na generalização do Conhecimento. Ainda hoje, somos um país de quase analfabetos e pouco esclarecidos, embora convencidos de que somos bons e termos baixa produtividade, claro. Nessa ocasião, não havia outros “doutores” sujando as mãos nos trabalhos agrícolas (semear batatas, por ex.) a altas horas da noite como acontece com os veterinários ajudando a nascer os filhos das Mimosas ou das Bonitas.....Estes profissionais sabem outras coisas, evidentemente, mas não conseguiram chamar a si a fiscalização nem o respeito pela Autoridade que ficaram entregues a outros, os quais, por descuido ou incompetência, muitas vezes comprometem aqueles.
Na sociedade actual, surgem frequentemente valores diferentes substituindo os já precários que regiam os comportamentos. Antes, as regras duravam muito tempo, havia valores que perduravam gerações, mas hoje mudam rapidamente e são através delas e em sobressalto as que passaram a existir para encararmos o futuro ..... Mas toda a gente aceita sempre as novas “normas” sem discutir. Todo o mundo sabe que são efémeras, mas ...... E os tais profissionais foram atrás da mudança sem contestação; acomodaram-se e até gostaram. Substituíram o anterior estatuto (consideração pública) que possuíam (herdaram) por algum bem estar material e por vezes sem trabalhar condignamente. Sinais dos tempos! Foi assim que de profissionais duma profissão que sempre foi da ...... muitos optaram passar a profissionais de merda, sem se lembrarem que nesta vida tudo o que é bom (melhor) exige sacrifícios e renúncias. Hoje há quem lamente, mas ninguém pode ter coragem para renunciar. Ainda por cima pensando que a culpa de tudo é do Estado. Evidentemente que, hoje, ninguém trocaria o bem estar material alcançado apenas por uma situação profissional menos humilhante. Passou a oportunidade. Desde há muito que a única coisa a fazer é “engolir sapos”. E a merda persiste.
Os prismas pelos quais o homem luso olha o desenvolvimento do país primam por valores muito primários nada propícios a facilitar qualquer reabilitação, mesmo a longo prazo. Diz-se que a culpa é do Estado. Certamente que não da inteira responsabilidade do que se induz dos tais prismas, mas porque ele – o interveniente profundo, mas sem uma “política de intervenção” – nada tem feito há gerações sucessivas para modificar a génese dos mesmos. É tal o nosso atraso que para melhorar a alma lusitana, mesmo com muito empenho, seria necessário impor regras desde o Jardim de Infância..... e mesmo assim teria de decorrer um milénio completo....Impor, mesmo nesta estúpida democracia???
Mas não se pense que é apenas esta profissão que está mergulhada em merda. Olhando em redor há merda que basta. O país está tão poluído quanto o Rio Tejo no Terreiro do Paço e há quem afirme que o exemplo vem de cima. Não há ETARES que cheguem. Continuamos a combater os incêndios à maneira dos Bombeiros (quando e onde aparecem) e na maior parte das vezes até na prevenção surge merda. E como vivemos numa democracia participativa (?) – passe a ironia – os mais sérios acabam, a título de compensação, por pagar as dívidas de todos os “chicos-espertos” que enganam o Fisco e não pagam ao vizinho do lado, o qual, por sua vez, também é caloteiro e não quer pagar o PEC....Enfim, estas coisas acontecem porque na alma lusa não existem valores morais suficientemente bem implantados para evitar que se pense que não seguir o exemplo que vem de cima faz correr o risco de se ser considerado parvo....
Eis uma maneira de perpetuar o ruim e a estupidez.

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