27 de agosto de 2003

OS ROLLING STONES DA VETERINÁRIA

A sério… sem qualquer tipo de anti-revivalismo, esta dos antigos alunos da Faculdade de Medicina Veterinária formarem uma Associação é das melhores da temporada, bem sei que ainda estamos na chamada silly season, mas a escritura de constituição já vem de Abril último.
Que anualmente cuidassem de reunir os Antigos e Actuais Alunos, como em bom tempo cuidaram de o fazer a Associação de Estudantes, ainda vá que não vá (ao tempo era praticamente a única oportunidade de ir a Lisboa sorver um pouco de ciência e reencontrar velhos companheiros), mas agora esta de criar uma Associação com os fins que se anunciam não lembrava o diabo.

Se as atribuições invocadas são eminentemente de carácter profissional, porque razão o esforço não é canalizado para as Associações da profissão: Sindicato, Ordem e Sociedade de Ciências Veterinárias (com os seus satélites)?
Estará Lisboa a querer mostrar a sua superioridade em relação a Vila Real, a Évora, ao Porto ou a Coimbra (e outras que venham)? Se é isso… então é dar-lhes… mesmo assim prefiro ficar em casa a ouvir um CD dos Rolling Stones, que ir a um concerto dos Linkin Park!
Já estou a ver o ar embeiçado dos Antigos Alunos de Vila Real (sim, porque os outros ainda não conseguem reunir dez elementos para firmar uma escritura…)! E os docentes de Vila Real? Aqueles que foram antigos alunos de Lisboa? Esses até vão inchar de soberba!...

Tem muito que se lhe diga, esta de estreitar relações de natureza profissional entre titulares de um grau académico, quando afinal profissionais são todos os Médicos Veterinários, independentemente do local onde obtiveram o seu grau de licenciatura: ou será que a solidariedade profissional com outros licenciados, até no estrangeiro, é coisa peçonhenta lá para os lados do Alto da Ajuda?

Uma coisa é certa, a plena realização dos objectivos da Faculdade de Medicina Veterinária (Lisboa, Vila Real, etc. etc. … todas), só poderá realmente ter lugar se os docentes saírem dos seus casulos e descerem ao mundo real. Eminentemente teóricos têm uma visão, do que se passa “lá fora”, muito enviesada, e do seu pedantismo urbano sobra apenas um olhar curioso e uma manifestação, pouco sincera, de admiração e surpresa pela rusticidade da província.
Regurgitem os garfos, deitem fora o ar cagalizado e os sorrisos de superioridade intelectual (perdoem-me as excepções) e se realmente querem essa ligação da Faculdade à vida prática, tenham a coragem de eleger uma Direcção sem elementos do corpo docente, representando os diversos sectores profissionais.

E já agora, expliquem lá o que é isso de um fórum de reflexão que contribua para estreitar as relações entre alunos, ex-alunos e docentes. Vão reflectir sobre que temas? Que relações querem estreitar?
Que seja necessário alguém dizer à Faculdade como promover a ligação à Sociedade e que respostas, em termos de Investigação e Desenvolvimento, são necessários, não se estranha. Mas para isso bastaria que o corpo docente se munisse de humildade suficiente… aliás ocorre perguntar… não será a humildade um sinal de capacidade intelectual?
Deixem então a atitude dogmática de que a verdade científica está apenas de um lado… sempre serviria para alguma coisa, mais uma Associação.

Mas a verdade é mais nua e crua: Lisboa perde terreno que quer recuperar, as Associações que hoje representam a profissão não têm mais como denominador comum a Gomes Freire/Alto da Ajuda e isso é supinamente incomodativo; saibam então acertar o passo, todas as Faculdades de Veterinária, para um bem comum: o nível de formação científica, intelectual e moral do Veterinário do novo milénio, desenterrem o nariz do umbigo, que ainda enquistam que nem bicho da conta… a Sociedade agradece!

Entretanto vou ficar a ler o According to The Rolling Stones, uma biografia pelos próprios, ao som de You can’t always get what you want ou Gimmie shelter… coisas antigas por coisas antigas, vale bem mais a pena!

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