Hoje em dia o número de canis, centros de recolha e outros projectos mais informais, que se dedicam á protecção de cães e gatos floresce a olhos vistos.
Já nem me refiro à abordagem antropomorfizada dos seus promotores, nem ao perfil ou razões de natureza emocional que estão subjacentes a muitos desses projectos, mas apenas aos riscos para a Saúde dos próprios animais.
O argumento de que, apesar de tudo, pior será que esses animais vagueiem por aí não se reveste que grande substância.
De que vale então o apuro tecnológico e a evolução científica, se na prática a recolha e abrigo dos animais funciona em moldes medíocres, mau grado a boa vontade, o “humanismo” dos seus promotores ou a dedicação a uma causa?
Desconheço as estatísticas (maldita...), mas talvez as razões para as dificuldades na adopção resultem em grande medida dos riscos e incerteza sobre as condições de saúde dos animais.
Não está portanto em causa a oportunidade de promover e desenvolver um projecto deste tipo (recolha e adopção), seja por entidade pública ou privada, mas das condições, gestão e logística associada ao projecto.
Julgo que o problema está no facto de, na generalidade dos casos, os projectos estarem focalizados no lado “humano” dos esquemas de adopção e na adopção em si... só que existe o outro lado: como e onde são os animais mantidos e que riscos podem advir para a saúde da “comunidade” canina/felina que aí se abrigou?
Seria bom que os Médicos Veterinários directa ou indirectamente envolvidos promovessem os aspectos relacionados com as condições de instalação dos animais pois, também a este nível, seria bom que os diferentes centros competissem por um melhor estatuto sanitário.
E as diferenças não estão entre canis/gatis municipais e centros de recolha privados; de um e de outro lado existem bons e maus exemplos... no entanto ambos desenvolvem projectos de adopção, o que prova que os objectivos só por si não são determinantes, mas antes a forma como se concretizam na prática.
Infelizmente esta diferença subtil, não perceptível para muitos colegas, pode ter efeitos negativos para a profissão.
Sem querer “lançar achas para a fogueira”, muito menos da vaidade de muitos dos promotores, parceiros ou entusiásticos defensores da recolha e adopção a qualquer preço, acho preocupante que os esquemas de recolha e adopção de animais não beneficiem mais dos aspectos técnicos e científicos adequados e de uma estratégia que assente nesses princípios.
22 de abril de 2009
O OUTRO LADO DOS CENTROS DE RECOLHA
Pareceu a Clint às 13:15
11 comentários:
O Almeida faz obra em Sintra......um CRO de se lhe tirar o chapéu.....
Parabéns Almeida...foi por isso que andaste desaparecido.......agora aí está uma obra do catano.....
Qual estratégia?
Como o Clint saberá bem , a recolha de animais abandonados é feita por razões de segurança, designadamente sanitária.
A adopção tem um carácter sobretudo humanitário, já que quem recolhe/captura os animais entende que deve ser feito um sério esforço para dar a esses animais uma oportunidade em que os cuidados com a sua saúde e alimentação, seja assumida responsavelmente por alguém que de forma voluntária se dispõe a isso.
A estratégia de apenas permitir que os animais a adoptar estejam em boas condições sanitárias tem de ser bem mais que isso, é condição "sine qua non", porque inversamente estar-se-ia a disseminar o que é pretendido combater.
O papel dos médicos veterinários, como profissionais com particular vocação para esse fim, também é condição inerente à própria actividade profissional.
Já no que se refere às instalações, outras entidades e condicionantes se colocam.
Ter consciência das diferentes partes do problema é uma coisa, pretender-se intervir em todas, não me parece deva ser o principal objectivo.
Sovet
Caro clint,
Parece daquelas protectoras que vê um cão deste no canil e alega maus
tratos. O que acontece é que muito provavelmente eles já vêm assim da
rua!
Hoje em dia tem se verificado o aparecimento de muitos CROA (centros
de
recolha) modernos e que zelam pelo bem estar dos animais, perante a
incompetência da DGV, a indiferença das Autarquias, a doença
psicosomáticas
das protectoras, tudo por pressão e vontade dos MVMs. Sim esses
mesmos.
Agora senta-te à tua secretariazinha Clint e averigua lá se esse cão
foi
retirado da rua assim ou não.
Esse é que é o ponto... a recolha de cães resulta sempre num risco sanitário: o da disseminação de doenças pelo canil e posterior adopção de animais transmissores; isto se o centro de recolha não for mantido e gerido tendo em vista evitar esse problema.
Parece-me que os Médicos Veterinários que interferem nesses centros têm uma particular responsabilidade quanto a este aspecto e por isso deverão fazer prevalecer o ponto de vista técnico e científico junto das entidades detentoras dos centros.
Isto para que precisamente as imagens, como a que juntei, não sejam indevidamente utilizadas por qualquer protectora conforme referido no comentário acima... que aliás é o caso... mas sobre isso voltarei ao assunto.
Concordo com o que disse Sovet, o objectivo é essencial.
Aliás o post que aqui deixei é exactamente sobre isso... é que muitas vezes a profissão Veterinária aparece associada ao lado humanitário da adopção (nada a dizer, julgo que é desse lado que devemos estar... também!), como se a adopção fosse o objectivo em si e não a recolha de animais vadios ou errantes, pelo risco que representam em termos de Saúde Pública.
Aqui está uma imagem descontextualizada. E a partir dela, quem quiser pode dizer que o animal está a ser maltratado no canil. Foi o que aconteceu a este, que foi assim recolhido da rua, tão simples como isso. Mas esta imagem deu para fazer a maior guerra, através de blogs, pondo em causa tratadores, veterinários e até autarcas, responsáveis pelo canil. Há senhoras de associações ditas de defesa dos animais, que captam estas imagens e toca a divulgar...dizendo mal de tudo e de todos. Mas não são só elas, a maledicência é atributo de muita gente e parece-me que alguns veterinários nisso são campeões...
É necessário muita cautela com essa gente e também os próprios canis devem estar adaptados estruturalmente, para que a captação de imagens como estas não possa acontecer.
Imagem descontextualizada?
Como assim, se a imagem ilustra apenas a tese de que um centro de recolha pode ser local de disseminação de doenças?
É óbvio que qualquer dedução sobre o funcionamento deste Centro (que nem sequer é identificado) é abusiva.
Que o comentador acima conheça o caso em que a imagem foi exposta e a polémica que possa ter gerado, isso não vincula o "Veterinário precisa-se..." a essa discussão mas apenas ao que ficou escrito no post.
Por ser necessária muita cautela com o que muita gente possa dizer ou fazer, mau grado as suas boas intenções, é que aqui defendi uma abordagem mais científica da gestão dos Centros de Recolha e menos centrada no objectivo da adopção... não que não tenha um profundo respeito por quem se dedica a salvar animais.
Caro Clint,
é curioso a forma como aborda os mais diversos e variados temas. Mas infelizmente tal acarreta por vezes fala de precisão e objectividade.
Aqui parece-me que meteu os pés pelas mãos. Eu explico: O local onde foi retirada esta foto de um animal retirado da rua, é um CROA moderno e, como tal, mantém os animais capturados separados dos para adopção.
Ou seja, muito dificilmente irá transmitir as possíveis doenças que tenha até à cura ou eutanásia a outros animais.
Conforme já disse antes, o clint está agarrado a uma ideia de canil que felizmente tem vindo a desaparecer. Aconselho-o a efectuar uma visita para que possa remodelar este tópico.
Mais uma coisa, pf não entre no campo da demagogia de se pôr dos lados das protectoras, é que sacode-sacos já temos muitos...
Cara Colega,
1. Não é verdade que aborde muitos e variados temas, mas apenas assuntos relativos à profissão Veterinária (veja o "editorial" do blog).
2. Não fiz qualquer referência ao Centro onde a fotografia foi captada, nem referi onde a fui "roubar"... por isso quanto muito poderei ser acusado de não respeitar o copyright da mesma.
3. O post não era sobre esse ou outro centro em particular, mas sim sobre as circunstâncias em que muitos centros de recolha são geridos e mantidos.
4. Não estou preso a nenhuma ideia de canil, aliás nem fiz particular referência a condições estruturais, mas antes à forma com certos centros são geridos e mantidos.
5. A motivação para tal post resultou da informação de muitas adopções trazerem consigo um rol de problemas de saúde e até de comportamentos dos animais, que quem adoptou não esperava vir a ter de encarar.
6. Não estou ao lado das protectoras, nem compreendo essa crítica. Se leu bem o que escrevi (agradeço que releia) poderia era ser acusado de estar contra a adopção e por isso contra as protectoras dos animais.
Sobre o assunto voltarei à liça porque o que realmente me custa é que a profissão (leia-se Ordem dos Médicos Veterinários), não tenha os colégios de especialidade a funcionar e a dar parecer científico sobre estas e outras questões.
Procuro falar de aspectos da profissão que vêm a público ou revelam actualidade, por esta ou aquela razão, e muitas vezes na dúvida fico calado.
Apesar do Conselho de Administração do "Veterinário precisa-se..." estar demissionário, há uma coisa que aqui não se faz... escrever por escrever, ou para manter uma regularidade diária (ou outra) só por manter.
Oh filho, tu do que gostas é de dialéctica e oratória. Só te falta começares a falar latim... Olha, alguma vontade que tinha de te dar razão, já a perdi toda. Acabou-se...
Nemo dat quod non habet.
Assim tá bem...Isso é que é perorar...e com "cultura acima da média"...
Enviar um comentário