22 de abril de 2009

O OUTRO LADO DOS CENTROS DE RECOLHA

Hoje em dia o número de canis, centros de recolha e outros projectos mais informais, que se dedicam á protecção de cães e gatos floresce a olhos vistos.

Já nem me refiro à abordagem antropomorfizada dos seus promotores, nem ao perfil ou razões de natureza emocional que estão subjacentes a muitos desses projectos, mas apenas aos riscos para a Saúde dos próprios animais.

O argumento de que, apesar de tudo, pior será que esses animais vagueiem por aí não se reveste que grande substância.

De que vale então o apuro tecnológico e a evolução científica, se na prática a recolha e abrigo dos animais funciona em moldes medíocres, mau grado a boa vontade, o “humanismo” dos seus promotores ou a dedicação a uma causa?

Desconheço as estatísticas (maldita...), mas talvez as razões para as dificuldades na adopção resultem em grande medida dos riscos e incerteza sobre as condições de saúde dos animais.

Não está portanto em causa a oportunidade de promover e desenvolver um projecto deste tipo (recolha e adopção), seja por entidade pública ou privada, mas das condições, gestão e logística associada ao projecto.

Julgo que o problema está no facto de, na generalidade dos casos, os projectos estarem focalizados no lado “humano” dos esquemas de adopção e na adopção em si... só que existe o outro lado: como e onde são os animais mantidos e que riscos podem advir para a saúde da “comunidade” canina/felina que aí se abrigou?

Seria bom que os Médicos Veterinários directa ou indirectamente envolvidos promovessem os aspectos relacionados com as condições de instalação dos animais pois, também a este nível, seria bom que os diferentes centros competissem por um melhor estatuto sanitário.

E as diferenças não estão entre canis/gatis municipais e centros de recolha privados; de um e de outro lado existem bons e maus exemplos... no entanto ambos desenvolvem projectos de adopção, o que prova que os objectivos só por si não são determinantes, mas antes a forma como se concretizam na prática.

Infelizmente esta diferença subtil, não perceptível para muitos colegas, pode ter efeitos negativos para a profissão.

Sem querer “lançar achas para a fogueira”, muito menos da vaidade de muitos dos promotores, parceiros ou entusiásticos defensores da recolha e adopção a qualquer preço, acho preocupante que os esquemas de recolha e adopção de animais não beneficiem mais dos aspectos técnicos e científicos adequados e de uma estratégia que assente nesses princípios.

11 comentários:

Anónimo disse...

O Almeida faz obra em Sintra......um CRO de se lhe tirar o chapéu.....



Parabéns Almeida...foi por isso que andaste desaparecido.......agora aí está uma obra do catano.....

Anónimo disse...

Qual estratégia?

Como o Clint saberá bem , a recolha de animais abandonados é feita por razões de segurança, designadamente sanitária.

A adopção tem um carácter sobretudo humanitário, já que quem recolhe/captura os animais entende que deve ser feito um sério esforço para dar a esses animais uma oportunidade em que os cuidados com a sua saúde e alimentação, seja assumida responsavelmente por alguém que de forma voluntária se dispõe a isso.

A estratégia de apenas permitir que os animais a adoptar estejam em boas condições sanitárias tem de ser bem mais que isso, é condição "sine qua non", porque inversamente estar-se-ia a disseminar o que é pretendido combater.

O papel dos médicos veterinários, como profissionais com particular vocação para esse fim, também é condição inerente à própria actividade profissional.

Já no que se refere às instalações, outras entidades e condicionantes se colocam.

Ter consciência das diferentes partes do problema é uma coisa, pretender-se intervir em todas, não me parece deva ser o principal objectivo.

Sovet

Anónimo disse...

Caro clint,
Parece daquelas protectoras que vê um cão deste no canil e alega maus
tratos. O que acontece é que muito provavelmente eles já vêm assim da
rua!
Hoje em dia tem se verificado o aparecimento de muitos CROA (centros
de
recolha) modernos e que zelam pelo bem estar dos animais, perante a
incompetência da DGV, a indiferença das Autarquias, a doença
psicosomáticas
das protectoras, tudo por pressão e vontade dos MVMs. Sim esses
mesmos.
Agora senta-te à tua secretariazinha Clint e averigua lá se esse cão
foi
retirado da rua assim ou não.

Clint disse...

Esse é que é o ponto... a recolha de cães resulta sempre num risco sanitário: o da disseminação de doenças pelo canil e posterior adopção de animais transmissores; isto se o centro de recolha não for mantido e gerido tendo em vista evitar esse problema.

Parece-me que os Médicos Veterinários que interferem nesses centros têm uma particular responsabilidade quanto a este aspecto e por isso deverão fazer prevalecer o ponto de vista técnico e científico junto das entidades detentoras dos centros.

Isto para que precisamente as imagens, como a que juntei, não sejam indevidamente utilizadas por qualquer protectora conforme referido no comentário acima... que aliás é o caso... mas sobre isso voltarei ao assunto.

Concordo com o que disse Sovet, o objectivo é essencial.
Aliás o post que aqui deixei é exactamente sobre isso... é que muitas vezes a profissão Veterinária aparece associada ao lado humanitário da adopção (nada a dizer, julgo que é desse lado que devemos estar... também!), como se a adopção fosse o objectivo em si e não a recolha de animais vadios ou errantes, pelo risco que representam em termos de Saúde Pública.

Anónimo disse...

Aqui está uma imagem descontextualizada. E a partir dela, quem quiser pode dizer que o animal está a ser maltratado no canil. Foi o que aconteceu a este, que foi assim recolhido da rua, tão simples como isso. Mas esta imagem deu para fazer a maior guerra, através de blogs, pondo em causa tratadores, veterinários e até autarcas, responsáveis pelo canil. Há senhoras de associações ditas de defesa dos animais, que captam estas imagens e toca a divulgar...dizendo mal de tudo e de todos. Mas não são só elas, a maledicência é atributo de muita gente e parece-me que alguns veterinários nisso são campeões...
É necessário muita cautela com essa gente e também os próprios canis devem estar adaptados estruturalmente, para que a captação de imagens como estas não possa acontecer.

Clint disse...

Imagem descontextualizada?
Como assim, se a imagem ilustra apenas a tese de que um centro de recolha pode ser local de disseminação de doenças?

É óbvio que qualquer dedução sobre o funcionamento deste Centro (que nem sequer é identificado) é abusiva.

Que o comentador acima conheça o caso em que a imagem foi exposta e a polémica que possa ter gerado, isso não vincula o "Veterinário precisa-se..." a essa discussão mas apenas ao que ficou escrito no post.

Por ser necessária muita cautela com o que muita gente possa dizer ou fazer, mau grado as suas boas intenções, é que aqui defendi uma abordagem mais científica da gestão dos Centros de Recolha e menos centrada no objectivo da adopção... não que não tenha um profundo respeito por quem se dedica a salvar animais.

Anónimo disse...

Caro Clint,

é curioso a forma como aborda os mais diversos e variados temas. Mas infelizmente tal acarreta por vezes fala de precisão e objectividade.
Aqui parece-me que meteu os pés pelas mãos. Eu explico: O local onde foi retirada esta foto de um animal retirado da rua, é um CROA moderno e, como tal, mantém os animais capturados separados dos para adopção.
Ou seja, muito dificilmente irá transmitir as possíveis doenças que tenha até à cura ou eutanásia a outros animais.
Conforme já disse antes, o clint está agarrado a uma ideia de canil que felizmente tem vindo a desaparecer. Aconselho-o a efectuar uma visita para que possa remodelar este tópico.
Mais uma coisa, pf não entre no campo da demagogia de se pôr dos lados das protectoras, é que sacode-sacos já temos muitos...

Clint disse...

Cara Colega,

1. Não é verdade que aborde muitos e variados temas, mas apenas assuntos relativos à profissão Veterinária (veja o "editorial" do blog).

2. Não fiz qualquer referência ao Centro onde a fotografia foi captada, nem referi onde a fui "roubar"... por isso quanto muito poderei ser acusado de não respeitar o copyright da mesma.

3. O post não era sobre esse ou outro centro em particular, mas sim sobre as circunstâncias em que muitos centros de recolha são geridos e mantidos.

4. Não estou preso a nenhuma ideia de canil, aliás nem fiz particular referência a condições estruturais, mas antes à forma com certos centros são geridos e mantidos.

5. A motivação para tal post resultou da informação de muitas adopções trazerem consigo um rol de problemas de saúde e até de comportamentos dos animais, que quem adoptou não esperava vir a ter de encarar.

6. Não estou ao lado das protectoras, nem compreendo essa crítica. Se leu bem o que escrevi (agradeço que releia) poderia era ser acusado de estar contra a adopção e por isso contra as protectoras dos animais.

Sobre o assunto voltarei à liça porque o que realmente me custa é que a profissão (leia-se Ordem dos Médicos Veterinários), não tenha os colégios de especialidade a funcionar e a dar parecer científico sobre estas e outras questões.

Procuro falar de aspectos da profissão que vêm a público ou revelam actualidade, por esta ou aquela razão, e muitas vezes na dúvida fico calado.

Apesar do Conselho de Administração do "Veterinário precisa-se..." estar demissionário, há uma coisa que aqui não se faz... escrever por escrever, ou para manter uma regularidade diária (ou outra) só por manter.

Anónimo disse...

Oh filho, tu do que gostas é de dialéctica e oratória. Só te falta começares a falar latim... Olha, alguma vontade que tinha de te dar razão, já a perdi toda. Acabou-se...

Clint disse...

Nemo dat quod non habet.

Anónimo disse...

Assim tá bem...Isso é que é perorar...e com "cultura acima da média"...