29 de dezembro de 2003

SEM PERIGO PARA O CONSUMIDOR

Sou do tempo em que o valor de indemnização por abate compulsivo de suínos atacados por Peste Suína (Africana ou Clássica… tanto fazia… se bem me lembro…) era estabelecido trimestralmente por uma comissão especialmente constituída com esse fim.
Vêm a recordação a propósito do caso de Doença Vesiculosa dos Suínos, pois que, em tempo de crise, até uma indemnização, mesmo por doença, é melhor que nada.
Noutros tempos, a curva do preço da carne de suíno acompanhava não apenas o fluxo de oferta/procura, mas também o da taxa de mortalidade causada pela PSA.
Havia mesmo quem se dedicasse à actividade ou a abandonasse, em função desse preço e também, por esse motivo, influenciasse essa subida e essa descida de preços.
Como vão longe esses tempos. Agora tudo corre bem melhor: a produção está organizada, há sinais claros da integração do sector e até a bolsa do Porco é factor determinante, sem falar da mudança de atitude dos produtores.
Estará? Até que ponto poderá existir alguma relação entre a rentabilidade económica de uma exploração, os investimentos obrigatórios em tratamento de efluentes ou o impacto da falta desses cuidados na opinião pública e o aparecimento súbito de doença contagiosa?

Provavelmente nenhum… nem esse será o cerne da questão, mas antes o profissionalismo dos Serviços na condução de todo o processo relacionado com a ocorrência, de que o Correio da Manhã fez eco, nomeadamente pela inclusão de texto esclarecedor da Autoridade Regional.
Infelizmente a versão online do artigo é "menos rica" que a versão em papel, contudo, ainda assim subjazem considerações interessantes:
- Alguém está em alerta máximo e as condições sanitárias estão todas reunidas. Que alerta é este? Faz parte de algum protocolo de procedimentos de emergência? Consubstancia-se em quê? E que condições são aquelas?
- Antes de entrarem no matadouro os animais são submetidos a controlos rigorosos. Normalmente não é assim? E que controlo é esse? Inspecção Sanitária ante mortem? Quem e onde é realizada essa Inspecção Sanitária?
- Animais doentes não vão para abate. Se é no matadouro que ocorre a Inspecção Sanitária ante mortem, o que acontece aos animais em caso de doença clínica? É que os riscos de contágio relacionado com a circulação de animais são inevitáveis depois de chegarem ao matadouro!
- Não existirá nenhum problema de saúde pública nem razões para deixar de consumir esta carne. Pelo texto fica a dúvida… Com a necessidade de tanto rigor no controlo, alguma razão haverá para dúvidas. E o problema não existe porque não vão animais doentes para abate ou porque a doença não afecta humanos?
- Foram adoptadas medidas profilácticas para evitar o contágio. Quais? O sequestro sanitário? O abate sanitário? Nesse caso como é que os animais circulam para os matadouros?
- Por ser uma doença muito confundível com a febre aftosa, foi decidido o abate dos 1600 suínos existentes na exploração de Chãs, como medida cautelar. Medida cautelar? Mas acautelar o quê? O risco de febre aftosa ou o debelar da doença vesiculosa?

Para muitas das interrogações, as respostas estão implícitas no texto, para o Médico Veterinário, todas as respostas estão lá (mais ou menos), mas para o comum dos leitores do Jornal muitas dúvidas subsistirão. Era preferível não enviar nada para o Jornal ou melhor ainda, dar a vez a outros melhor preparados para elaborar esse memorandum.
Basta acompanhar o que se passa nos EUA com a BSE, para perceber a diferença de atitude dos Serviços Veterinários respectivos...

27 de dezembro de 2003

AGRICULTURA EM COMA

Mesmo nos países ditos ricos a agricultura está mais ou menos em crise, apesar da população mundial continuar a crescer exponencialmente e haver tanta fome por este mundo fora.
Os agricultores que ainda não se afundaram definitivamente devem o facto aos subsídios proporcionados pelos governos respectivos, subsídios que desde a sua adopção, há anos, logo distorceram as regras do Mercado Livre, regras que aqueles mesmos governantes não desejavam distorcidas...... Coisas de político!
Por outro lado, também há que realçar dois outros factores que, de certo modo, são responsáveis pela grande diferença, em termos concorrenciais, entre a agricultura praticada nos países ditos ricos e a praticada nos países ditos em desenvolvimento. Um deles é a dimensão da área agricultada – nos países ricos a agricultura que concorre não é a praticada em minifúndio – O outro factor respeita à Unidade de Trabalho (UT) que nos países ricos é constituída por um “Trabalhador Instruído”, ou por uma Equipa constituída por trabalhadores capazes de potenciar as actividades de cada um deles, enquanto nos países mais atrasados os trabalhadores, em geral, não são instruídos e muito menos capazes de potenciar seja o que for.
Não admira, portanto, que no nosso país, grande parte da agricultura esteja perfeitamente moribunda. Acresce ainda o facto das nossas UT terem envelhecido sem substituição nem sequer por outras unidades similares, o que revela, mesmo depois da adesão à UE, a ausência duma estratégia para a agricultura nacional a despeito dos “fundos” que nos foram facultados. Mais uma vez – tal como aconteceu nos tempos da Índia, do Brasil e das Colónias em África – os fundos “importados” não foram aplicados de forma a produzir riqueza na área do Conhecimento..... Coisas de político!
Neste contexto, a nossa agricultura não sobreviverá a esta crise a não ser na mão de algumas UT e mesmo assim se forem capazes de grandes sacrifícios, o que se afigura pouco provável dado o facto do homem lusitano ser muito pouco propenso a sacrifícios sem usufruir imediatos benefícios.
Como os governos também não tiveram uma estratégia para a Educação – onde este aspecto e outros próprios do carácter do homem lusitano pudessem ser objecto de alguma mudança – cremos que, em termos gerais, até aquelas aberrantes UT sucumbirão, mais tarde ou mais cedo.
Muitos outros comentários não deixariam de ser oportunos! Compare com o que se passa no país vizinho, por exemplo.
Se concorda com o que dissemos, por que não comenta? Ajude a melhorar. Alguma coisa do que se diz pode ajudar a mudar, tanto mais que se perfilam mudanças na Administração Pública. Em termos práticos já viu coisa mais aberrante que as Direcções Regionais de Agricultura? Coisas de político!

26 de dezembro de 2003

THE AMERICAN BEEF

Há mesmo BSE… até os americanos têm… enfim, vamos começar a conviver com ela, agora que já aprendemos a controlá-la... Esta sim uma verdadeira arma de destruição massiva.
Mas nós temos uma arma bem mais poderosa… o terrorismo anti-inteligência (tiro o chapéu ao Victor Rodrigues e à sua "Ordem estupidológica", deixando o meu modesto contributo): a Federação dos Comerciantes de Carnes tirou-nos um peso de cima… podemos estar descansados pois Portugal não importa carne dos EUA… e se importasse? Haveria algum problema? Parece que sim… quer isso dizer que para a Federação dos Comerciantes de Carnes não devemos comer carne de vaca? É que só este ano já vamos em mais de 100 casos diagnosticados… em Portugal Continental (não confundir com Pirelli…)
Também não é para estranhar… um dos terroristas de serviço no governo (terrorismo anti-inteligência… nada de confusões com al-quaedas ou outras), afirmou há tempos que estes casos todos se deviam ao facto de Portugal estar em vigilância activa da doença…
Diz-se tanta barbaridade sobre o assunto… porque não ouvem quem devem? Aqui na blogosfera espera-se um comentário do médico de serviço, assim como do homem da faca)… só mando palpites lá mais para o ano novo… é que ainda estou a ler as últimas da USDA-APHIS

Há.......................AH!

- 60.000 Automóveis em circulação sem seguro e 10.000 roubados a circularem por aí?
- 30.000 Crianças maltratadas?
- Lotas nem sempre com inspecção sanitária?
- Milhares de estabelecimentos comerciais sem alvará, ou com licença a título precário durante demasiado tempo?
- Milhares de prédios sem licença de habitabilidade, mas já habitados?
- Água de abastecimento público, em muitas aldeias, vilas e cidades, imprópria para consumo?
- Falta de saneamento básico aqui e ali?
- Milhões e milhões de euros de dívidas ao Fisco e à Segurança Social?
- Matadouros sem condições para um exercício de inspecção adequado à defesa da Saúde Pública?
- Falta de conservação e manutenção de estruturas?
Somos atrasados!
Que importância tem tudo isto se estamos na U.E., dirão alguns? Mas não deixaria de ser interessante, dizemos nós, avaliar-se em profundidade a civilização terceiro-mundista em que uns quantos estrebucham, outros chafurdam e a maioria nem sequer se dá conta, ou não lhe dá a devida importância, apesar das funestas consequências debitadas permanentemente. Estamos na cauda da Europa......
Somos atrasados!
Se considerarmos a vivência de séculos que temos como Nação, não é possível deixar de reflectir sobre tudo isto e espantarmo-nos com a falta de interesse por parte de alguns dos cidadãos mais instruídos em exigir que os seus direitos sejam respeitados.
Somos atrasados!
Visceralmente somos tão pouco eficientes que, na maioria das situações, não se estabelece um programa de luta bem estruturado e, muito menos, uma estratégia, mesmo sabendo que, em certos casos, para obter resultados é necessário actuar-se durante mil anos...... Em vez disso, os governos optam por pôr em prática processos de combate contra as consequências dos males que nos afligem deixando para uma próxima oportunidade a luta contra as causas..... Os políticos actuam como os “soldados da paz” que combatem os incêndios (consequências) porque não podem combater as causas.
Será que não estamos atrasados?
Vá, comente, participe! Faça algum esforço; faça ouvir o seu protesto para que venha a ser possível vivermos num país melhor!

25 de dezembro de 2003

NINGUÉM É POBRE SENÃO DE JUÍZO

Segundo um estudo da Comissão Europeia (“Um Quinto dos Portugueses Vive em Risco de Pobreza e Exclusão Social“), um em cada cinco portugueses vive em risco de pobreza e exclusão social, o que nos dá o "honroso" penúltimo lugar na Europa.
Considera, ainda, a Comissão Europeia, mau grado as influências da situação económica e a vulnerabilidade de certos grupos da população (desempregados, mães solteiras, famílias numerosas, pessoas sem escolaridade, sem abrigo e imigrantes), que a reversão da situação obriga a um maior investimento na educação.
Também no abandono escolar Portugal é campeão na EU: 45% dos jovens entre os 18 e os 24 anos deixam a escola e não seguem qualquer formação.

Ora estes dois indicadores são algo tenebroso para o futuro próximo: como é que um indicador tão mau poderá ser modificado se a solução reside num sector, cujos indicadores são ainda piores?
Com tanta gente capaz no governo não acredito seja difícil gizar uma política que trave aquela "cruz da morte". Estou mesmo em crer existirem cabeças educadas e gente rica, capaz de nos dar a solução, afinal ela está debaixo do nariz.
Escola… desde o Jardim-de-infância, exigente e disciplinada, gente educada e profissional e numa dúzia de anos daríamos uma forte machadada na pobreza.
Antes disso será necessário e fundamental dar uma machadada na pobreza de espírito dos decisores que não querem mirar esta evidência.

Realmente ninguém é pobre senão de juízo, mas se não erradicarmos essa pobreza, passaremos os Natais, inevitavelmente, a acartar cabazes para os novos pobres… Bom Natal!

24 de dezembro de 2003

PARA PÔR NO SAPATINHO

Não vá o diabo tecê-las, já pus as galochas de ir à pesca à beira da lareira, e para todos os alambazados e sequiosos leitores, incluindo Inspectores Sanitários a trabalhar em dia de Natal, aqui fica a minha prenda:
PAULA REGO – OBRA GRÁFICA COMPLETA
Por Thomas Gabriel Rosenthal,
Edição CAVALO DE FERRO,
Tradução de Nuno Batalha,
Pela módica quantia de 98 euros.

A obra já tem uns dias de lançamento e quem teve a sorte de visitar a Galeria 111, teve a oportunidade de apreciar alguns dos quadros ao vivo.
Perguntará o curioso Veterinário… qual a razão de ser desta prenda?!...
A resposta não é fácil para o aculturado leitor a quem o nome Paula Rego nada diz… para quem a "conhece", ainda que superficialmente, saberá identificar na natureza obsessiva dos trabalhos e na crueza erótica das personagens, muito da vida do Médico Veterinário, particularmente o de província… convivendo com gente rude, mas real, sem maquilhagem e por isso também verdadeira, sem filtros… saberá reconhecer os sentimentos que as obras infligem, da mesma forma que nos fustiga a chuva, o vento, o frio ou o Sol abrasador, no monte, de volta com um animal doente.

No livro de Paula Rego revemo-nos, por vezes de forma incisiva e chocante, nos sentimentos… As suas "histórias", são muitas vezes, as nossas próprias histórias!

23 de dezembro de 2003

SEQUENCIAM-SE GENOMAS!

Responder a este apartado!

Contam-se por dezenas os genomas já sequenciados, entre eles o do Homem e mais recentemente o do cão.
Mesmo para quem aprendeu no Liceu fenómenos da divisão celular (mitose e meiose), que poucos anos depois se vieram a revelar errados, continua a ser surpreendente a forma como os diversos genomas vão sendo sequenciados.
Depois da invenção do fecho éclair nada parece mais simples e semelhante.
Fortemente financiados por empresas multinacionais e capitalistas (regra geral americanos), os consórcios científicos continuam activamente a deslindar as sequências de bases aminadas do ADN de tudo quanto é animal.
As aplicações são diversas, desde a cura do cancro até às múltiplas doenças de natureza genética… desconfio que no futuro bem poderá criar-se uma humanidade emocionalmente padronizada, em função do gosto político vigente, pela selecção "correcta" dos genes.

Será que o Homem lusitano apresenta algumas particularidades genómicas dignas de nota?
Era uma sorte! Passávamos já à acção, através da captação de "fundos comunitários" (estúpida designação que entrou no nosso léxico com uma dinâmica incrível…), no âmbito do quadro comunitário de uniformização genómica (QCVG), naturalmente com versões I, II e III.
Poderíamos passar mais uns anos a viver à custa do Orçamento Comunitário, lamentando o nosso secular atraso genómico, procurando, dessa forma, alcançar os modernos padrões europeus, sempre chorando sobre o leite derramado por Viriato, Afonso Henriques, o Mestre de Avis, e todos os incompetentes antepassados que não souberam "dar aos genes".

Afinal 25% do nosso material genético é partilhado pelo cão… deve ser por isso que nos babamos à visão de um osso e corremos a buscar o pau que nos atiram.

VETERINÁRIO, PRECISA-SE

Os veterinários pouco ou nada participam, publicamente, no debate político como se tudo corresse pelo melhor. Levar o alheamento, ou o desinteresse, tão longe quanto vem acontecendo, significa, entre várias coisas, que estão permitindo que outros técnicos empurrem a “luta”, que lhes pertence por direito, para um plano muito secundário e que, necessariamente, não é do seu interesse.
Nesta secundarização é óbvio que resultam muitos aspectos negativos para toda a Classe, os quais têm sido motivo de muitas lamentações sobejamente conhecidas. É certo que o indivíduo que se alheia da sua cidadania nem sempre sai prejudicado, mas não deixa de dar um mau exemplo para os mais novos...
É pena que assim aconteça!
São urgentemente necessários veterinários interessados pela política do país, a qual tantas vezes é levada para caminhos que só a muito poucos interessa.
Combata!

22 de dezembro de 2003

INTERRUPÇÃO VOLUNTÁRIA DA GRAVIDEZ

Nem sequer vou manifestar a minha opinião sobre a interrupção voluntária da gravidez, mas a verdade nua e crua, relativamente à qual parece haver unanimidade de opinião é esta: a IVG não pode ser tida como método anticoncepcional; também não é menos verdade que os vários governos têm falhado, em toda a linha, na prossecução de políticas de educação para os afectos que visem o respeito por aquele princípio.
Resumindo e concluindo: não só a IVG tem funcionado como método anticoncepcional (em especial nos grupos mais vulneráveis, principalmente por razões de natureza educacional, a que estão associados outros factores, como os de natureza financeira e emocional), como também as políticas a prosseguir, de forma a modificar a situação, não têm visto a luz do dia, numa confrangedora falta de visão estratégica.
Há quem reduza a circunstância a questões de Saúde Pública… também não me parece seja assim tão simples, realmente subsistem aspectos de natureza moral que contrariam aquela visão redutora.
Deixo essa discussão para a esquerda circense e a direita ortodoxa, já que os outros andarão ali pelo meio a aplaudir uns e outros ao sabor do "cronograma" político-conjuntural.

Mas já que se fala de Saúde Pública, aproveito para perguntar: qual é a política de Saúde Pública de prevenção das zoonoses, que como se sabe previnem-se, em primeira linha, através do controlo sanitário dos animais?
Salvaguardadas as devidas distâncias, precisamente pela dimensão da natureza moral dos problemas, parece que, também quanto a esta interrogação, a resposta reside na ausência de estratégias.
E se o governo é incapaz, não é menos verdade que à profissão veterinária cabe a obrigação ética de propor essa estratégia.
Dirão alguns que a Ordem tem manifestado posição sobre o tema… concordo, mas é preciso ir mais longe, é essencial que demonstre a estratégia adequada.
A não ser assim continuarão ao sabor das decisões espúrias e acidentais, de Directores e Subdirectores, que ora mandam vacinar, ora mandar sequestrar e abater, ora nem uma coisa nem outra… sem qualquer critério e sem sustentação noutra lógica que não seja a de "mostrar serviço", em que os criadores continuarão a ser os mais prejudicados, esvaziando de consistência um sector económico (produção de carne, leite, ovos, etc.), que já por si tem características muito peculiares, o qual continuará a marcar passo na "cauda" da Europa.
Da mesma maneira que, relativamente a outras questões de natureza moral e social, continuaremos a ocupar o mesmíssimo lugar.
Haja quem tenha coragem para Voluntariamente Interromper este Desastre Anunciado.

21 de dezembro de 2003

COBIÇA, CORRUPÇÃO E PREPOTÊNCIA.

Saber mandar é sinónimo de saber avaliar a natureza humana e em consequência saber estabelecer correctos juízos de valor.

Há figurões, sem pingo de moral, que fazem do acto de mandar, comandar, dirigir… um processo que se esgota na vaidade da ocupação do cargo ou tão-somente no egocentrismo do exercício da autoridade.
Estes cavalheiros (ou damas), têm uma concepção da vida centrada no seu poder, nos seus privilégios, nas suas mordomias… muitas vezes insignificantes e mesquinhos.
Para eles (ou elas) o poder é um fim em si mesmo e não um meio de realização de um projecto, de um programa, de uma missão… ao qual se apegam cegamente, na prossecução dos seus interesses pessoais.
À frente dos Serviços que tutelam não promovem qualquer eficiência, não têm outros objectivos que não sejam usar a organização para os seus próprios interesses.

Nem sempre é fácil usar um Serviço desta maneira e por isso é sempre conveniente colocar uns quantos "amigos" em outros lugares chave, numa lógica de cumplicidade assente numa corrupção mais ou menos descarada.
O mecanismo é lógico e simples: levar uns quantos, geralmente em situação de relativa fragilidade (financeira, intelectual… mas sempre moral) a renegarem os próprios princípios morais (e o homo lusitanus é tão susceptível…)
Nestas circunstâncias a criatura corrompida torna-se tão amoral como o corruptor (não venha depois chorar lágrimas de crocodilo).

Obviamente que todos os amoralizados leitores destas linhas concordam comigo… eu sei! Não raras vezes aqueles de quem falo são igualmente capazes do difícil exercício intelectual de estreitar a mente à evidência, à verdade…
Aquilo que vulgarmente se designa por estupidez ou hipocrisia.
A quem me refiro? Aceito sugestões! Aqui fica um pequeno auxiliar (o manual de procedimentos será fornecido apenas a pedidos dirigidos ao redactor):
a) Dificilmente se encontram elogios públicos na sua boca (atenção, sublinho públicos, porque em privado e na lógica de corrupção antes enunciada, são capazes de o fazer), ao invés, as alusões, por vezes subtis, à sua própria pessoa e suas próprias capacidades, são frequentes.
b) Se alguma coisa corre mal a responsabilidade é sempre dos colaboradores, mesmo que essa responsabilidade seja imputada através do silêncio e da ausência de um juízo imparcial, muitas vezes como forma implícita de deixar uma ameaça no ar.
c) Frequentemente, para não dizer sempre (só porque em algumas circunstâncias procuram retirar benefício pessoal das ideias alheias), toldados pela inveja (ou ciúme), impedem a concretização de uma proposta, criando dificuldades artificiais à concretização de uma ideia, atrasam e adiam decisões, refugiando-se em processos administrativos ou em ritualismos que derivam de burocracias ou rotinas instituídas, quase sempre sem qualquer fundamento legal ou regulamentar.
d) Quando chegam a dirigentes criam a falsa ideia de que antes deles a organização, que agora comandam, vivia nas trevas, que tudo o que foi feito antes ou construído antes de si, foi errado ou desajustado, sendo por isso necessário apagar esse passado, esvaziando e desvalorizando o empenho e entrega dos que a dirigiram.
e) No extremo usam de vingança ou da sua ameaça permanente, criando por vezes um ambiente insuportável de pressão constante sobre subordinados e colaboradores.

A quem dos embasbacados leitores interessar, que fique claro que esta é apenas uma modesta tentativa de contribuição para a reforma da Administração Veterinária.

18 de dezembro de 2003

RECUPERAR O VISO

Em 1996, sob os auspícios do governo socialista, a Direcção-Geral das Florestas, que até então funcionava num quadro orgânico vertical (os Serviços a nível local respondiam directamente e apenas aos Serviços centrais), foi decepada dessas extensões locais, sendo as mesmas integradas nas célebres Direcções Regionais de Agricultura.
Não parece que a medida, só por si, tenha merecido aplauso, que é como quem diz, sob o ponto de vista da eficácia e eficiência do funcionamento dos serviços, as melhorias não foram visíveis, pelo contrário, a DGF está agora "desmotivada e envelhecida", mergulhada num "torpor burocrático" (embora no entretanto a venda de material lenhoso tenha reequilibrado as finanças das Direcções Regionais de Agricultura).
Não será menos verdade afirmar, que os Serviços Florestais careciam, ao tempo, de alguma "moralização administrativa", já que muito do seu "brilho" derivava precisamente da falta de controlo e auditoria de gestão, pelo que, salvaguardado que fosse esse aspecto particular, o modelo de funcionamento orgânico anterior seria incomensuravelmente melhor que a integração nas esgotadas e estafadas Direcções Regionais de Agricultura.

Vem o tema a propósito da Direcção-Geral de Veterinária, sujeita aquele regime regionalista desde 1976. Impossibilitada de concretizar com responsabilidade os objectivos do sector, conforme plasmados na Lei (basta olhar para todas as crises e incapacidades de resposta dos Serviços, resultantes de uma concepção orgânica desajustada), mergulhada num "torpor burocrático", do tipo ritualista (veja-se o vai vem de pedidos e respostas a encobrir uma torpe falta de poder de decisão), igualmente "desmotivada e envelhecida", exaurida de recursos financeiros pelas insaciáveis necessidades das Direcções Regionais de Agricultura, mas acima de tudo, esvaziada de quadros técnicos capazes. Os poucos que se não encaixam naquela classificação estão mergulhados numa teia burocrática que os tolhe e impossibilita expressar, no mínimo, as suas capacidades.

Se o governo não encarar com atenção e urgência o problema, mesmo sabendo que pior que a situação actual é difícil, decerto será a pecuária nacional e a produção agro-alimentar a pagar as favas, até que consigam importar tudo o que comemos (até as favas) e aí ficar, então, descansados com o serviço prestado.
Apetece dizer: VERTICALIZEM, PÔRRA!

O FALSO VETERINÁRIO

Afinal, no quadro das profissões liberais, o uso de título profissional não reconhecido por Associação de Direito Público (Ordens, Câmaras…), não é assim tão pacífico como alguns Veterinários querem fazer crer, mas também não é menos verdade que, com aparente impunidade, não é difícil um falso especialista chegar a tribunal no exercício dessa falsidade.
Não parece contudo, existir qualquer confusão quanto ao fundamento legal que preside à atribuição do título de especialista, decorrendo naturalmente, da intervenção das Ordens Profissionais, na sua qualidade de órgãos da Administração Pública.
Mas já parece exótico que relativamente a essa obrigatoriedade exista um tão grande arrepio ao compromisso das regras por parte dos próprios interessados.

Vem o caso a propósito do "médico psiquiatra", "conselheiro económico honorário da Embaixada da Panamá" e "Aero Medical Examiner", que há umas semanas atrás animou os telejornais. É que de Médico (Veterinário), poeta e louco, todos temos um pouco e não raras vezes o recurso a falsos Veterinários, que dissimulam mais ou menos o seu estatuto, é, ainda, uma realidade constatável um pouco por todo o país.
Para aqueles que ostensivamente se dizem Veterinários, não o sendo, incluindo os que o afirmam de forma indirecta e apenas por actos da exclusiva responsabilidade profissional dos Médicos Veterinários, sugere-se uma inequívoca reacção da profissão: a denúncia, caso contrário considerem-se coniventes e não se andem a lamuriar; para os "chicos espertos", que até dizem que não são Médicos Veterinários (qual membro do KKK a jurar que não é racista), mas que nas traseiras ou debaixo do nariz de toda a gente, vão fazendo o gosto ao dedo, sob a desculpa da falta de recurso dado ao cliente (por impossibilidade, inexistência ou incompetência do Médico Veterinário), sugere-se seja sancionado o próprio cliente.
Não é por se colocar debaixo do falso guarda-moral ou descansando no amortecedor de consciência, que reside na treta da falta de recurso, que o cliente dos serviços do Médico Veterinário fica isento de responsabilidades, pelo menos éticas, para não dizer legais, daí que me pareça deverem ser susceptíveis de sanção os utilizadores dos serviços de falsos Veterinários (desde que tal recurso não resulte de confusão).

16 de dezembro de 2003

EXTINÇÃO DOS DINOSSAUROS

Foram extintos? Ai sim? Então aí vai mais um terceiro mandato de três anos, de um total de cinco mandatos…
Da galeria dos bastonários, José Augusto Cardoso de Resende ocupa um lugar privilegiado.
E já agora… quantos são os membros eleitos dos órgãos sociais da Ordem que, desde a sua criação em 1991, forma sempre eleitos e por isso sempre estiveram comodamente instalados no poder?

TEORIA DO BISSOFÁCIO

Perdoar-me-á um antigo colega de Liceu pela apropriação da "teoria do bissofácio", cuja autoria, terá sido a prova de filosofia mais bem-humorada da época.
Tal apropriação justifica-se pela bicefalia ou melhor, pelas duas faces que dão corpo às eleições para a Ordem dos Médicos Veterinários.
De um lado a "face de Estado", ortodoxa na ética, firme (para não dizer teimosa) nas decisões e em qualquer dos casos, determinada e coerente, goste-se ou não da personagem, concorde-se ou não com o rumo definido e esteja-se ou não à vontade perante algumas das decisões tomadas.
Do outro lado a "face da alternativa", conjuntural e alinhada com o status quo actual do país (no seu pior), etérea (para não dizer vazia) nas propostas e, de qualquer modo, empenhada na vitória, ambiciosa, distribuindo risos a todos e mais alguns, dando uma no cravo e outra na ferradura, goste-se ou não da criatura, concorde-se ou não com o remix que é o programa de candidatura, esteja-se ou não satisfeito com a sua vacuidade.
São estas as duas faces da profissão e só isso daria pano para mangas de discussão e reflexão sobre o futuro da profissão: quem a vai dignificar? Quem irá promover o cumprimento de tantos regulamentos? Quem irá motivar as escolas a produzir um Veterinário mais qualificado, mais profissional e sobretudo mais preocupado com o colectivo?
Agora já se sabe!