Sou do tempo em que o valor de indemnização por abate compulsivo de suínos atacados por Peste Suína (Africana ou Clássica… tanto fazia… se bem me lembro…) era estabelecido trimestralmente por uma comissão especialmente constituída com esse fim.
Vêm a recordação a propósito do caso de Doença Vesiculosa dos Suínos, pois que, em tempo de crise, até uma indemnização, mesmo por doença, é melhor que nada.
Noutros tempos, a curva do preço da carne de suíno acompanhava não apenas o fluxo de oferta/procura, mas também o da taxa de mortalidade causada pela PSA.
Havia mesmo quem se dedicasse à actividade ou a abandonasse, em função desse preço e também, por esse motivo, influenciasse essa subida e essa descida de preços.
Como vão longe esses tempos. Agora tudo corre bem melhor: a produção está organizada, há sinais claros da integração do sector e até a bolsa do Porco é factor determinante, sem falar da mudança de atitude dos produtores.
Estará? Até que ponto poderá existir alguma relação entre a rentabilidade económica de uma exploração, os investimentos obrigatórios em tratamento de efluentes ou o impacto da falta desses cuidados na opinião pública e o aparecimento súbito de doença contagiosa?
Provavelmente nenhum… nem esse será o cerne da questão, mas antes o profissionalismo dos Serviços na condução de todo o processo relacionado com a ocorrência, de que o Correio da Manhã fez eco, nomeadamente pela inclusão de texto esclarecedor da Autoridade Regional.
Infelizmente a versão online do artigo é "menos rica" que a versão em papel, contudo, ainda assim subjazem considerações interessantes:
- Alguém está em alerta máximo e as condições sanitárias estão todas reunidas. Que alerta é este? Faz parte de algum protocolo de procedimentos de emergência? Consubstancia-se em quê? E que condições são aquelas?
- Antes de entrarem no matadouro os animais são submetidos a controlos rigorosos. Normalmente não é assim? E que controlo é esse? Inspecção Sanitária ante mortem? Quem e onde é realizada essa Inspecção Sanitária?
- Animais doentes não vão para abate. Se é no matadouro que ocorre a Inspecção Sanitária ante mortem, o que acontece aos animais em caso de doença clínica? É que os riscos de contágio relacionado com a circulação de animais são inevitáveis depois de chegarem ao matadouro!
- Não existirá nenhum problema de saúde pública nem razões para deixar de consumir esta carne. Pelo texto fica a dúvida… Com a necessidade de tanto rigor no controlo, alguma razão haverá para dúvidas. E o problema não existe porque não vão animais doentes para abate ou porque a doença não afecta humanos?
- Foram adoptadas medidas profilácticas para evitar o contágio. Quais? O sequestro sanitário? O abate sanitário? Nesse caso como é que os animais circulam para os matadouros?
- Por ser uma doença muito confundível com a febre aftosa, foi decidido o abate dos 1600 suínos existentes na exploração de Chãs, como medida cautelar. Medida cautelar? Mas acautelar o quê? O risco de febre aftosa ou o debelar da doença vesiculosa?
Para muitas das interrogações, as respostas estão implícitas no texto, para o Médico Veterinário, todas as respostas estão lá (mais ou menos), mas para o comum dos leitores do Jornal muitas dúvidas subsistirão. Era preferível não enviar nada para o Jornal ou melhor ainda, dar a vez a outros melhor preparados para elaborar esse memorandum.
Basta acompanhar o que se passa nos EUA com a BSE, para perceber a diferença de atitude dos Serviços Veterinários respectivos...
29 de dezembro de 2003
SEM PERIGO PARA O CONSUMIDOR
Pareceu a Clint às 22:06
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