23 de setembro de 2003

Um chimpanzé, Eu e o que Deus quiser

(Do pouco saber vem o muito ousar)

Confesso que nutro uma particular simpatia pelos chimpanzés e orangotangos, mas não tanto pelos gorilas....... Sempre os considerei, sob o ponto de vista da Evolução, como meus primos e desde já peço desculpa pela apropriação deste parentesco.............. São muito feios! Mas os chimpanzés são fora de série.....
Sempre me intrigaram as suas expressões faciais muito humanas e creio que não raramente procuraram comunicar comigo; só que nunca soube como fazê-lo, até que há dias algo de extraordinário aconteceu ao voltar ao Zoo onde fora ver um dos meus primos com “quem” há muito não “trocava expressões”.... Fartei-me de falar. Eis o que se passou:
- Comecei por dizer-lhe que o ser humano – o chamado macaco pelado – é o mamífero que tem o maior período de amadurecimento e, como tal, o meio social onde vive exerce um papel muito importante, mesmo fundamental, independentemente do facto do cérebro prosseguir a sua “edificação” até à idade adulta, mas que eles – meus queridos primos – conseguiam completar o desenvolvimento por volta dos 6/8 anos, tendo já aprendido a quebrar nozes com um pedra servindo de martelo, mas sem esborrachar os dedos (o que eu considerava muito importante); a comer salalé servindo-se duma varinha; a conhecer as plantas e frutos para alimentação e a utilizar o sexo para fins sociais.......
E prossegui dizendo que os gorilas a partir dos 4 anos já não aprendiam mais nada e iam à vida; que eles, inclusivamente, usavam o sexo com duas finalidades bem distintas enquanto que connosco as coisas não eram assim tão fáceis...... Também referi que a maioria dos nossos jovens por volta dos 15-16 anos de idade já estava convencida de que em termos sociais sabiam tudo e que em termos de Conhecimento também não precisavam de aprender muito mais.
Falei e falei, confesso. Mas fui ficando cada vez mais intrigado porque o meu primo mantinha-se calado e com uma expressão parada, embora aparentemente “ouvindo-me com toda a atenção. Eu já estava tão desiludido que quase desisti de continuar o desabafo........ Prossegui dizendo que me parecia haver algo de profundamente errado nesta situação, porque volta não volta os macacos pelados mais jovens “esborrachavam os dedos” (morrendo estupidamente em acidentes rodoviários), ou engravidando adolescentes (ainda mais jovens que eles), ou entrando no mundo da droga, etc. e quando ingressavam na Universidade nem sempre estavam adequadamente preparados; que provavelmente haveria alguma coisa muito errada porque nem tudo poderia ser assacado aos jovens.
Nesta ocasião, em que me sentia meio perdido e estúpido por estar “falando” para um chimpanzé, aconteceu a coisa mais extraordinária da minha vida. O meu primo, como que despertou e “falou”, por sinal muito “claramente”, para meu gáudio, mas também para meu eterno espanto:
É memo, mano! Tem esperto na cabeça, mas fala muito. Pô, não amola!
Foi o que Deus quis! Será por isso que ninguém faz comentários?

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